Depois de 10 anos sem lançar nenhum disco, a cantora
Patrícia Ahmaral
voltou aos estúdios para gravar o single “
Tirania
”, que chega às plataformas de streaming nesta quinta-feira (30/09). Com produção de Fernando Nunes, a música será a primeira de seu novo
álbum
independente, a ser lançado em 2022 e denominado “
O sonho que o doido fala
”.
PANDEMIA Embora tenha voltado a se dedicar à música em 2018, Patrícia só conseguiu gravar seu novo single durante a pandemia do novo coronavírus, com os auxílios disponibilizados pela Lei Aldir Blanc. Muitas das músicas que irão compor o álbum já estão escritas e compostas, e a artista irá lançá-las à medida que conseguir os recursos necessários.
Para “Tirania”, a inspiração veio da indignação da compositora com o momento de desigualdade e negacionismo à ciência que o país hoje enfrenta. Embora muitos possam enxergar uma crítica direcionada ao presidente da República, Patrícia afirma que sua frustração é voltada para todas as pessoas que, de alguma forma, contribuem para esse cenário.
“A desigualdade ficou muito evidente durante a pandemia. Quando um dos funcionários do meu prédio contraiu COVID e eu comecei a ver notícias negacionistas, me veio uma indignação muito forte, que é de onde saiu a letra.”
Além da política, a artista mineira também traz para a gravação questões pessoais, como a paixão pelos colegas de profissão Tom Zé e Jards Macalé e o amor pelo futebol. O ritmo une acústico, eletrônico, samba, MPB e pop, uma combinação que Patrícia cita na própria letra como um antídoto para qualquer tirania: “... Um arrepio invade agora sua alma vazia / porque vou misturar a invenção de Tom Zé / com a beleza de mil Macalés”.
Para a cantora, os dois artistas citados representam a raiz da inventividade da cultura brasileira. Ela avalia também que a música atua como meio de promoção da liberdade e da inclusão. O futebol entra no mesmo contexto, como esporte característico do cotidiano dos brasileiros.
A música começa e termina com um sample do icônico gol de Reinaldo na final do Campeonato Brasileiro de 1980, narrado na igualmente icônica voz de Vilibaldo Alves. Para Patrícia, torcedora fanática do Galo, Reinaldo foi muito mais do que um grande goleador, e a escolha por colocar seu gol no início e no fim de “Tirania” tem a ver com o lado ativista do craque alvinegro.
“O Reinaldo fazia o gesto dos Panteras Negras, que foi um símbolo de resistência contra a ditadura aqui no Brasil e contra o racismo nos Estados Unidos. Eu quis incorporar isso na música”, diz Patrícia, que conseguiu autorização da família de Vilibaldo para introduzir sua narração no single.
Além das composições autorais, a cantora também vem trabalhando em um álbum de homenagem ao poeta piauiense Torquato Neto. O lançamento está previsto para 2022, ano em que se completam 50 anos da morte de Torquato, e 55 anos do movimento artístico Tropicália.
Por fim, Patrícia comenta sua divisão entre a gravação de trabalhos próprios e de terceiros. “O lugar da intérprete é minha origem e sempre será meu esteio, mas o impulso da composição veio se firmando. Com a pandemia, algumas canções surgiram e o desejo de vê-las produzidas e compartilhá-las em um álbum. Agora, é aguardar como irão reverberar para quem as ouvir.”
*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes
“Tirania”
(Patrícia Ahmaral -
@patriciaahmaral
)
ora veja bem
até a lua disfarçou
sua face da melancolia
tudo camuflou
em alegria
embora sangrem nossos corações noite e dia
ora veja
veja que ironia
um arrepio invade agora
sua alma vazia
porque vou misturar a
invenção de Tom Zé
com a beleza de mil Macalés
vou puxar o seu pé de noite em sua cama fria
vou misturar o tesão da ralé
a destreza da bola no pé
vou jogar sua zaga na pia
pra ver a banda passar
pra ver meu amor viver
eu vou despejar a bondade em você
pra ver a banda passar
pra ver meu povo viver
eu vou assombrar a sua tirania