O mais longo dos 25 filmes do 007; o último da franquia com Daniel Craig; o que mais tempo levou para ser lançado; a produção que vai salvar o cinema. Muito tem sido falado de “007 – Sem tempo para morrer” no último ano e meio. Inicialmente, ele seria lançado em abril de 2020, mas a pandemia o adiou para este 30 de setembro, quando estreia na maior parte do mundo, incluindo o Brasil – em Belo Horizonte, será lançado em todos os complexos de cinema da cidade.
As questões acima são relevantes, mas quando se entra no cinema – e com este filme é chegada a hora de abandonar o sofá da sala de TV – tudo vai embora. São 2h43min que passam voando. Sim, é Bond, James Bond em sua melhor forma, ainda que mais velho, melancólico e, por vezes, ressentido. O filme entrega tudo o que se espera do maior dos heróis do cinema de ação. Mais: o faz, neste final de saga, absolutamente humano.
Com o cineasta Cary Joji Fukunaga (da série “True detective”) no comando, o longa tem um prólogo que coloca uma mãe bêbada e uma criança em uma casa nos confins gelados da Escandinávia. Um homem mascarado vai vingar a sua família, exterminando mulher e filha do assassino, um membro do Spectre. A criança era Madeleine Swann (Léa Seydoux), que acompanhamos na sequência seguinte, já adulta, em um idílio romântico com Bond (Craig) em um lugarejo histórico italiano.
Eles têm todo o tempo do mundo. É o que ele, apaixonado, diz a ela. Mas Bond precisa fechar as contas com o passado e, no túmulo de Vesper Lynd (Eva Green), descobre-se numa arapuca. Já neste início de filme há uma sequência de perseguição e tiros pra lá de empolgante – o Aston Martin blindado leva uma infindável saraivada de balas. Bond, com Madeleine ao lado, não se move até que ela suplique. Para ele nada mais importa, pois ali tem consciência de que foi traído.
APOSENTADORIA
A ação de “Sem tempo para morrer” acontece cinco anos depois desse ocorrido. Fora da MI-6, ele é agora apenas James e desfruta de sua aposentadoria na Jamaica. A chegada do velho amigo da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright), acompanhado de um enviado do Departamento de Estado, Logan Ash (Billy Magnussen), vai levá-lo a um trabalho como freelance em Cuba. Na mesma noite, Bond ainda é surpreendido pela chegada de sua sucessora, Nomi (Lashana Lynch). Ele descobre, um pouco estarrecido, que ela é a nova 007.A partir desse contato, a ação vai mudando de cenário. Em Santiago de Cuba, ele cumpre uma missão ao lado de uma novata, Paloma (Ana de Armas), numa festa black-tie que reúne o submundo da Spectre (a química entre os dois mereceria um novo filme). Mas como, se o maléfico Ernst Stavro Blofeld (Christoph Waltz) está amargando prisão perpétua graças ao próprio Bond?
A história vai se complicando para ele e para o espectador, pois as reviravoltas são absurdas e improváveis (é um filme de 007, então, qualquer verossimilhança é descartada). Como filme de fechamento, “Sem tempo para morrer” vai trazer velhos personagens que passearam pelos quatro longas estrelados por Craig. Também, é claro, apresenta novos. Além da 007 inteligente e sarcástica de Lashana Lynch, a saga traz como principal vilão Lyutsifer Safin (Rami Malek), que tem uma vendeta pessoal do passado – e aí a personagem de Madeleine emerge na trama.
VÍRUS
Bond já lidou com todo tipo de armas maléficas contra a humanidade. Mas aqui ele tem que barrar um vírus que pode protagonizar uma guerra biológica. Heracles, surpreendentemente, não foi produzido por algum gênio do mal, mas sim pelo lado dos ditos mocinhos. O filme está pronto desde o início do ano passado, mas, com a pandemia, ele permite uma nova leitura. É um inimigo invisível que pode derrubar o homem.As sequências são mirabolantes e irresistíveis. Guarda suas maiores armas para a parte final – aliás, o segredo mais bem guardado da Coroa britânica. Filme que trata seu herói com o respeito que ele merece, conecta a narrativa com as tramas anteriores e faz jus ao papel em que Daniel Craig se empenhou para renovar o quase septuagenário agente secreto.
“Sem tempo para morrer” atiça nossa adrenalina, provocando sustos, aflição, risos. Ainda garante ao espectador, farto das exaustivas maratonas do streaming, uma vontade de se reconectar com o melhor que o entretenimento clássico pode provocar. Se uma emoção alheia ao universo criado por Ian Fleming surgir na derradeira sequência de ação, não se aflija. Até lágrimas são permitidas neste épico.
007 – SEM TEMPO PARA MORRER
• (Reino Unido/EUA, 2021, 163min) Direção de Cary Joji Fukunaga, com Daniel Craig, Léa Seydoux, Ana de Armas, Rami Malek – Estreia nesta quinta (30/09), nos cines UNA Belas Artes, BH, Big, Boulevard, Cidade,
Contagem, Del Rey, Diamond, Estação, Itaupower, Minas, Monte Carmo, Norte, Via
O ESPIÃO QUE AMAMOS
Relembre os títulos da franquia “007” protagonizados por Daniel Craig
“007 – Cassino Royale” (2006)
Direção de Martin Campbell. O primeiro filme de Craig como o agente 007 é, para muitos, o melhor. Filmado em Veneza, Montenegro e Bahamas, o longa apresenta Bond após se tornar o principal espião da MI-6. Em sua primeira missão, o agente causa um prejuízo financeiro enorme no investidor Le Chiffre (Mads Mikkelsen), que administra o dinheiro de uma misteriosa organização terrorista. Determinado a recuperar seu dinheiro, o vilão organiza um torneio de pôquer, que vai se desenrolar em uma das tramas mais bem-urdidas da saga.
“007 – Quantum of Solace” (2008)
Direção de Marc Forster. Sequência de “Cassino Royale”, acompanha 007 vingando a morte de Vesper Lynd (Evan Green) e investigando a Quantum, uma subsidiária da organização Spectre. Bond conhece Camille Montes (Olga Kurylenko), agente que busca vingança contra o general Medrano (Joaquín Casio), responsável pela morte de sua família. Mais tarde, descobrimos que Medrano conspira com a Quantum, tentando aplicar um golpe de Estado na Bolívia. O principal vilão aqui é Dominic Greene (Mathieu Amalric).
“007 – Operação Skyfall” (2012)
Direção de Sam Mendes. Outro grande momento da franquia, o terceiro filme com Craig traz como vilão o ex-agente do MI-6 Raoul Silva (Javier Bardem). A trama gira em torno da vingança de Silva contra M (Judi Dench, no papel desde os anos 1990), chefe de Bond. O longa recebeu dois Baftas (incluindo o de melhor filme) e dois Oscars. Após trazer o desfecho de uma das personagens mais longevas da saga, o título introduz o tenente Gareth Mallory (Ralph Fiennes) como o novo chefe do MI-6.
“007 – Contra Spectre” (2015)
Direção de Sam Mendes. Aqui é onde tudo se encaixa. No quarto filme de Craig, que seria o último estrelado pelo ator, o bilionário líder da Spectre, Ernst Stravo Blofeld, está de volta com novo intérprete, o austríaco Christoph Waltz. Bond enfrenta algumas revelações sobre seu passado a partir de uma mensagem póstuma de M. Para tentar desbaratar a organização criminosa, o agente passa a agir sozinho, pois foi afastado do serviço secreto pelo novo chefe do MI-6.
Outros intérpretes
» Sean Connery (1962-1971)
Primeiro James Bond da história e considerado o personagem clássico, Sean Connery estabeleceu o padrão para os demais intérpretes. Participou de seis filmes da saga: o primeiro deles foi “007 – Contra o satânico Dr. No” e o último, “007 – Os diamantes são eternos”.
» George Lazenby (1969)
O mais esquecível dos 007 foi o de George Lazenby, que ganhou o papel para apenas um filme: “007 – A serviço de sua majestade”. O ator recusou uma sequência antes mesmo de o filme estrear.
» Roger Moore (1973- 1985)
Assim como Connery, Moore encabeçou seis filmes da franquia. O ator chegou ao papel mais velho que seus antecessores e levou um tom mais humorístico às narrativas. Ele estreou em “007 – Contra o homem com a pistola de ouro” e encerrou sua participação em “007 – Na mira dos assassinos”.
» Timothy Dalton (1987-89)
Com apenas duas aparições, Dalton também não foi um 007 inesquecível e figurou apenas em “007 – Marcado para a morte” e “007 – Licença para matar”. Ele tinha contrato para um terceiro filme, que acabou expirando por questões judiciais.
» Pierce Brosnan (1995- 2002)
Brosnan atuou como Bond em quatro filmes e transformou-se rapidamente em um astro internacional. Seus títulos foram responsáveis por sucessivos recordes de bilheteria. “007 – Contra GoldenEye” e “007 – Um novo dia para morrer” são o primeiro e o último filmes do ator na franquia. (Com André Hermeto)