A Região Norte do Brasil foi o destino da terceira edição do projeto Foto em Pauta na Estrada, que partiu em busca de novos olhares. A jornada por Belém (PA), Manaus (AM), Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO) resultou na exposição “Luz do Norte”, exibida no 10º Festival de Fotografia de Tiradentes e que chega na próxima terça-feira (5/10) a Belo Horizonte. São mais de 100 imagens (de 33 fotógrafos, todos radicados na Região Norte) distribuídas no Palácio das Artes e na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais.
Idealizado pelo fotógrafo Eugênio Sávio, o projeto Foco em Pauta surgiu na capital mineira em 2004 com o objetivo de aproximar o público da fotografia. A partir de 2011, a iniciativa se ampliou com o Festival de Fotografia de Tiradentes e desde 2017 vem sendo realizado o Foto em Pauta na Estrada.
“A programação que a gente construiu começou a atrair mais gente de fora da Região Sudeste. Começamos a perceber que as pessoas de fora apareciam pouco nos festivais. A ideia era incluir artistas que não circulam muito”, diz Eugênio Sávio, de 54 anos, curador geral do Festival de Tiradentes.
“A gente bolou o Foto em Pauta na Estrada para comer a comida local, sentir a temperatura, a umidade do lugar, conhecer as pessoas, escutar a voz, dar um rolê na cidade. Aí você cria uma outra relação (com a região), o trabalho das pessoas ganha outro significado. É uma curadoria mais de corpo a corpo”, afirma João Castilho, de 43 anos, curador da mostra.
A visita ao Norte do país (as regiões Centro-Oeste e Sul foram o destino das duas edições anteriores, que originaram as exposições “Transoeste” e “Vento Sul”) foi feita pelos curadores João Castilho, Pedro David e Eugênio Sávio no início de 2020, antes da eclosão da pandemia de COVID-19.
“A gente viu muita coisa bacana, não só trabalhos de artista que já têm uma trajetória na área. Analisamos o portfólio de quem está começando, de pessoas que nunca participaram de uma exposição. E, ao mesmo tempo, de fotógrafos consagrados”, diz Castilho.
Trabalhos de fotógrafos indígenas integram a mostra. “O pessoal tem uma relação muito forte com o local, então tem uma relação com a natureza em várias imagens. Outras exposições nossas tinham questões mais autobiográficas. Essa também tem um pouquinho, mas o que me marca mais é um sentimento de paixão por onde eles vivem”, comenta Eugênio Sávio.
AMAZÔNIA
A mostra é dividida em três eixos temáticos: atualidades, experimentalismo e cotidiano amazônico. Questões ligadas à ecologia e à preservação do meio ambiente estão diluídas em todas as vertentes. João Castilho acredita que a exposição é a mais “crucial” do projeto, pelo fato de discutir a “encruzilhada do novo mundo”.As imagens nos contam dessa cosmopolítica atual da Amazônia, que é central não só na vida dos brasileiros, como de todo o mundo. A questão indígena, da floresta, das águas, da geração de energia, da extração mineral é crucial no mundo hoje e está no centro da pauta. Muitas imagens puxam para esse lado.”
A marca pessoal dos autores nas imagens foi um dos focos da curadoria. “Não é o olhar em busca de uma estética, é a busca de uma coisa autêntica. Essa é a pegada do nosso projeto como um todo. O olhar dos curadores filtra essa densidade, tem uma entrega muito forte nas fotos”, comenta Sávio. “A gente não busca a pessoa (fotógrafo) pelo currículo, é pela imagem.”
O primeiro eixo da exposição, Atualidades, reúne fotografias com uma perspectiva documental sobre as circunstâncias da região, sobretudo no aspecto ambiental. Dois fotógrafos selecionados para essa seção são fotojornalistas: Bruno Kelly e Alberto César. Imagens de secas, queimadas florestais, garimpos e conflitos indígenas marcam esse trecho da mostra.
Em Experimentalismo, as fotografias dialogam mais com o campo da arte, com uma forte carga de subjetividade. João Castilho explica que muitas imagens querem “imaginar o mundo”, sem abdicar da identidade do artista. O fotógrafo indígena Ubiratan Suruí, por exemplo, retratou o cotidiano das aldeias pela ótica da cosmologia dos povos originários, com fotos em preto e branco. Algumas imagens carregam um teor artesanal, como as obras da paraense Joyce Nabiça, que fez um trabalho utilizando câmera pinhole.
Por fim, a seção Cotidiano da região amazônica concentra imagens mais diretas sobre a cultura local, sem a preocupação experimental. Com uma produção de mais de 40 anos, o paraense Miguel Chikaoka se destaca nesse eixo da exposição.
João Castilho descreve seu trabalho presente na mostra como uma herança do francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), no sentido da composição das imagens. Novos artistas também integram o eixo, como o fotógrafo indígena Paulo Desana.
Eugênio Sávio comemora a possibilidade de realizar uma exposição presencial em BH. "A força do festival é de aproximar as pessoas, da conexão, além de ver a obra. É de poder tocar, conversar, ver, conhecer os grandes nomes que circulam. O formato presencial é o mais importante para o nosso festival, para a gênese do Foto em Pauta. A nossa busca é por esse encontro, a gente acha que nada substitui o olho no olho”, afirma.
Medidas de segurança
Para evitar aglomerações, a CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais contará com sinalização nas áreas externas e internas para garantir o distanciamento entre as pessoas durante a visitação. O número de visitantes está reduzido para sete pessoas simultaneamente. O uso de máscaras é obrigatório. A administração afirma que todos os ambientes da CâmeraSete são higienizados diariamente, antes da abertura ao público, e também são disponibilizados tapetes para a limpeza de calçados, assim como álcool em gel 70% para desinfecção das mãos.
“LUZ DO NORTE”
Exposição de fotografias. De terça-feira (5/10) a 4 de dezembro de 2021. na CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais (Avenida Afonso Pena, 737, Centro). Horário de funcionamento: de terça-feira a sábado, das 9h às 21h. Entrada franca.
*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes