Depois de 13 anos sob estrito controle do pai, que obteve na Justiça o direito de ser o tutor da filha, a cantora pop Britney Spears, de 39 anos, obteve uma vitória judicial na quarta-feira (29/09), que retirou de Jamie Spears o poder de tomar todas as decisões sobre sua vida.
O afastamento oficial de Jamie Spears não significa o encerramento total da tutela. Britney segue sob os cuidados de um tutor indicado pela Justiça dos Estados Unidos, o contador John Zabel, que passa a ser o responsável pelas decisões relacionadas ao patrimônio da cantora. Jodi Montgomery, que cuida dos assuntos pessoais e decisões médicas, continua no cargo.
Um dos motivos alegados pela cantora para acelerar o fim da dependência judicial é que a tutela a impediria de assinar um acordo pré-nupcial com seu noivo, o modelo e atleta iraniano Sam Asghari. Os dois estão juntos há cerca de cinco anos e anunciaram o noivado no último dia 12, pelas redes sociais.
A decisão final sobre o encerramento da tutela deve ocorrer nos próximos meses. O advogado de Britney, Matthew Rosengart, sugeriu que uma audiência para tratar do assunto seja marcada nos próximos 45 dias.
Após a grande repercussão da campanha #FreeBritney, criada pelos fãs da cantora para pressionar a Justiça americana pelo fim da tutela, e sob ameaça de ser investigado por extrapolar os limites da função de tutor, Jamie Spears anunciou em agosto passado que deixaria a função. Nos documentos enviados ao tribunal que julga o caso, divulgados pelo site TMZ, ele se mostrou disposto a ajudar na transição para um novo tutor.
ALVO
"Mesmo sendo alvo incessante de ataques injustificados, o senhor Spears não acredita que uma batalha pública com sua filha sobre seu serviço como tutor dela seria de seu interesse. Assim, embora ele deva contestar essa petição injustificada para sua remoção, o senhor Spears pretende trabalhar com o tribunal e com o novo advogado de sua filha para preparar uma transição organizada para um novo tutor", diz um dos trechos do documento.
Ainda assim, ele defendia que não haveria motivos legais para a sua saída do cargo. "Não há, de fato, motivos reais para suspender ou remover o senhor Spears como o tutor da carreira e das propriedades. É altamente discutível se uma mudança na tutela neste momento seria o melhor interesse para a senhorita Spears."
Em junho, Britney prestou depoimento sobre o caso e classificou a decisão judicial que permitia que seu pai continuasse no controle sobre sua vida como "abusiva, idiota e constrangedora".
"É desmoralizante tudo o que passei. Nunca disse isso abertamente – nunca pensei que alguém fosse acreditar em mim. Não estou mentindo. Só quero minha vida de volta. Já se passaram 13 anos e isso já foi o suficiente. Eu guardei isso por tanto tempo, mas isso não é bom para o meu coração", ela afirmou na ocasião.
DEPOIMENTO
Britney também disse no depoimento que tem o desejo de se casar e ter mais um filho, mas usa DIU, o que a impede de engravidar, e não tem autorização para retirá-lo. "Eu tenho um DIU em meu corpo agora que não me deixa ter um bebê e meus tutores não me deixam ir ao médico para retirá-lo", contou.Ela ainda detalhou que foi forçada a fazer uma turnê em 2018 e, por conta disso, a medicação que usava na época foi alterada sem o seu consentimento. "Não apenas minha família não fez nada, como meu pai foi totalmente a favor. Eu me sinto cercada, intimidada, deixada de lado e sozinha. Cansei de me sentir sozinha. Mereço ter os mesmos direitos (que todas as pessoas), ter um filho ou qualquer uma dessas coisas."
Em comunicado publicado pela revista Variety, o novo advogado da cantora comentou a desistência do pai. "Estamos satisfeitos que o senhor Spears e seu advogado tenham concedido em um processo que ele deve ser removido. Prova que Britney estava certa. Estamos decepcionados, no entanto, por seus ataques vergonhosos e repreensíveis contra a senhorita Spears e outras partes", ele afirmou.
INVESTIGAÇÃO
Na nota, ele defendia que Jamie Spears deixasse o cargo imediatamente. "Estamos ansiosos para continuar nossa vigorosa investigação da conduta do senhor Spears ao longo dos últimos 13 anos, enquanto ele colhia milhões de dólares das propriedades de sua filha, e eu estou ansioso para tomar o depoimento sob juramento do senhor Spears no futuro próximo."Após a suspensão da tutela, a advogada de Jamie Spears, Vivian Thoreen, emitiu um comunicado lamentando a decisão da corte. "O Sr. Spears ama sua filha Britney incondicionalmente. Por 13 anos, tentou fazer o que era melhor para ela. Isso começou com a concordância em servir como seu tutor, quando ela voluntariamente escolheu essa opção. Isso incluiu ajudá-la a reerguer sua carreira e restabelecer um relacionamento com seus filhos", diz o início da nota.
"Quem já tentou ajudar um familiar a lidar com problemas de saúde mental pode avaliar a enorme quantidade de preocupações diárias e trabalho que isso exige. Para o Sr. Spears, isso também significava morder a língua e não responder a todos os ataques falsos, especulativos e infundados contra si por parte de certos membros do público, da mídia ou, mais recentemente, do próprio advogado de Britney", prossegue o documento.
Britney obteve apenas recentemente o direito de escolher seu próprio advogado. Antes disso, o seu representante legal era escolhido pelo tutor, ou seja, a parte que ela queria contestar na Justiça.
Thoreen afirma que a decisão desta semana é "decepcionante e, honestamente, uma perda para Britney". "O tribunal errou ao suspender o senhor Spears e colocar um estranho em seu lugar para administrar o patrimônio dela. Apesar disso, ele continuará a zelar pelos melhores interesses de sua filha e a trabalhar de boa fé para uma resolução positiva para todas as questões que envolvem esse caso", diz o texto.
Netflix lança
Um dos episódios mais sinistros - dentre os vários relatados no documentário - é narrado pela própria Jenny Eliscu, à época repórter da “Rolling Stone.” Ela foi escondida ao Beverly Hills Hotel passar um documento por baixo da porta do banheiro para que Britney assinasse sem que os seguranças, a serviço de seu pai, vissem.
Netflix lança
documentário
Após meses de especulação, a Netflix lançou na última terça-feira (28/09) seu próprio documentário sobre Britney Spears e a luta de 13 anos que ela travou para eliminar uma tutela que garantia ao seu pai o controle de sua vida e de suas finanças.
Dirigido pela jornalista Jenny Eliscu e pela cineasta Erin Lee Carr, "Britney vs Spears" traz muito da história que o público já conhece, principalmente depois de pelo menos seis documentários lançados sobre a batalha legal da artista.
Ainda no último fim de semana, a CNN dos Estados Unidos exibiu o especial de uma hora "Toxic: Britney Spears' battle for freedom", enquanto a equipe do The New York Times anunciou e lançou na sexta passada "Controlling Britney Spears", a continuação direta do já premiado "Framing Britney Spears: A vida de uma estrela", disponível na Globoplay desde março.
BIÊNIO
Mas apesar da já quase saturação sobre o tema e a pluralidade de testemunhas que até então não haviam se manifestado publicamente, o documentário da Netflix ainda alcança seu próprio mérito por, principalmente, ouvir com exclusividade pessoas essenciais em períodos conturbados da vida de Britney.Quase metade do filme é dedicada ao biênio de 2007 a 2009, quando ela atingia o topo das paradas com os sucessos dos álbuns "Blackout" (2007) e "Circus" (2008) e, ao mesmo tempo, enfrentava nos tribunais da Califórnia um processo de divórcio, de guarda dos filhos e, por fim, de tutela.
Se "Framing Britney Spears" fez barulho ao lembrar a forma como a mídia e a cultura dos paparazzi deterioraram a imagem pública de uma popstar, "Britney vs Spears" explica o que se passava em seu círculo íntimo e suas relações pessoais durante esse período.
Dois relacionamentos não tão explorados até então são relembrados por meio de entrevistas exclusivas com o paparazzo Adnan Ghalib, com quem a artista teria se relacionado brevemente ao final de 2007; e Sam Lutfi, o empresário que assumiu a vez de seu agente e o papel de "má influência" que acabou "justificando" a tutela.
Ambos eram frequentemente fotografados ao lado de Britney nas noites em que ela percorria as ruas de Los Angeles com 30 carros na sua cola, uma lata de Red Bull na mão e uma peruca rosa na cabeça. Enquanto Sam explica que a relação da artista com a família já era, no mínimo, complicada até ali, Adnan conta o momento em que o namoro com ela foi interrompido pelo pai, que, no papel de tutor, tinha o direito de restringir suas visitas e impedir que ela se encontrasse com qualquer pessoa.
BANHEIRO
Um dos episódios mais sinistros - dentre os vários relatados no documentário - é narrado pela própria Jenny Eliscu, à época repórter da “Rolling Stone.” Ela foi escondida ao Beverly Hills Hotel passar um documento por baixo da porta do banheiro para que Britney assinasse sem que os seguranças, a serviço de seu pai, vissem.Orquestrada por Sam e Adnan, a tentativa que a popstar fez em 2009 de contratar seu próprio advogado para lutar contra a tutela também falhou, e foi uma das últimas vezes em que ela tentou algo parecido até 2019, quando cancelou sua segunda residência em Las Vegas, "Domination".
Essa e outras passagens do documentário, como a carta escrita de próprio punho na qual ela explica o que aconteceu na fatídica noite em que foi amarrada em uma maca e internada à força, enquanto se recusava a devolver os filhos para o pai, transformam "Britney vs Spears" em uma lupa sobre meses e anos conturbados, e até então mal explicados, na vida da Princesa do Pop.
PERSONA
O filme mostra que a mulher muitas vezes chamada de louca estava apenas tentando conciliar os fantasmas pessoais de uma mãe recém-divorciada com a persona pública da popstar mais fotografada e buscada na internet durante os anos 2000."Britney vs Spears" explica de maneira estarrecedora como o sistema legal de tutela permitiu que uma das popstars mais poderosas fosse medicada, controlada e silenciada por mais de 13 anos sem seus direitos humanos básicos. (Estadão Conteúdo)
“BRITNEY VS. SPEARS”
•(EUA, 93min) Direção: Jenny Eliscu e Erin Lee Carr. Disponível na Netflix