A estreia no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, rendeu menções nos jornais cariocas e uma matéria no “Fantástico”. Estamos em 1977, e A Cor do Som – então Dadi Carvalho (baixo), Mú Carvalho (teclados), Armandinho (guitarra) e Gustavo Schroeter (bateria), músicos na casa dos 20 anos – conseguiu, logo depois, uma pequena temporada no Teatro Ipanema. “Foram quatro noites, com tudo esgotado. Pessoas que não conseguiram ingresso acabaram forçando a entrada e derrubaram a porta do teatro. Foi histórico”, relembra hoje Mú.
“Os dois primeiros discos foram 100% instrumentais (assim como o mais recente). Estamos na contramão da questão comercial de hoje, com muita exposição para conseguir mais seguidores e letras muito pueris ou apelativas”, afirma o tecladista e pianista, referindo-se ao mais recente disco da banda. Lançado em 2020, é chamado de “Disco rosa”, por causa da capa criada pelo designer Batman Zavareze, que funde duas obras de Dadi e Mú, também artistas plásticos.
GRAMMY
Sem pretensão, sem gravadora e com recursos próprios, o “Álbum rosa”, em que a Cor do Som recriou oito temas instrumentais da primeira fase do grupo (e traz duas inéditas) foi indicado, nesta semana, ao Grammy Latino – categoria melhor álbum de rock ou música alternativa.
“Não nego o sucesso de jeito nenhum, mas é isso o que a gente ama fazer, por isso quisemos dar um mergulho nesta fase. A indicação ao Grammy é uma prova de que, com um trabalho forte, você chega a algum lugar. Estamos na tangente deste momento esquisito, em que os artistas tentam botar milhões em Instagram e YouTube”, acrescenta Mú.
Nesta noite, haverá músicas recriadas no novo trabalho – “Pororocas”, “Ticaricuriqueto”, “Frutificar” – mas o tom será o de celebração, com passeio pelos sucessos da carreira, como “Abri a porta”, “Zanzibar”, “Alto astral”, “Menino Deus” e “Dentro da minha cabeça”. Tais canções misturam o rock com ritmos brasileiros, como choro e frevo. Se hoje a miscelânea de gêneros é quase regra, nos anos 1970 era algo inovador, ainda mais executada por grandes músicos.
Este é o primeiro show d’A Cor do Som com plateia, desde o início da pandemia – até então, os cinco só se reuniram para tocar em outubro do ano passado, para uma versão on-line do Rio Montreux Jazz Festival.
EMOÇÃO
“Mais do que um recomeço, este momento é quase que um renascer. Envolve não só a emoção de você pisar num palco depois de quase dois anos, como ainda a retomada de toda a cadeia de profissionais que existe para que o show aconteça. Engenheiro de som, roadie, técnico de luz, toda essa turma ficou sem trabalho, em uma situação muito dramática”, diz Mú.
O show terá a participação de Flávio Venturini. Em 2018, foi lançado o disco “A Cor do Som – 40 anos”, em que o grupo tocou seu repertório com a presença de convidados (Djavan, Gilberto Gil, Roupa Nova, Samuel Rosa, Paulinho Moska). Venturini registrou a balada “Eternos meninos”, de Mú e Paulinho Tapajós.
“É uma música meio lado B, que é muito a cara dele, pois é rica em melodias”, comenta o tecladista. Além dessa, o mineiro deverá cantar com o grupo duas ou três – eles se programaram para ir até a casa de Venturini ontem, para passar as canções com ele.
À exceção de Armadinho, que vive em Salvador, os demais integrantes moram no Rio. Para a apresentação em BH, ainda mais depois de tanto tempo sem subirem num palco juntos, não houve grande ensaio, afirma Mú. “Por conta da pandemia, isso também ficou complicado. O ideal é que a gente tivesse ensaiado, mas o que vamos fazer é nos jogar no palco. Mas na passagem de som dá para aproveitar e lembrar um pouquinho de tudo.”
A COR DO SOM
Show neste sábado (2/10), às 21h, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: Plateia 1 – R$ 320 e R$ 160 (meia); Plateia 2 – R$ 260 e R$ 130 (meia); Plateia superior – R$ 180 e R$ 90 (meia). Venda promocional: Plateia 1 – R$ 180; Plateia 2 – R$ 150 e Plateia superior – R$ 110 (a partir de dois ingressos por pessoa; válido apenas para inteira). À venda na bilheteria do Palácio das Artes e no www.eventim.com.br
TRABALHO SOLITÁRIO
Mesmo que tenha ficado longe dos palcos no último ano e meio, Mú Carvalho não parou um minuto de trabalhar. Desde o início da crise sanitária, lançou seu primeiro songbook, com as cifras de 25 composições e o álbum solo “Alegrias de quintal”, que saiu em julho. Também no último ano e meio, a Som Livre lançou a compilação “As canções que eu fiz para novelas”, que reúne 12 músicas compostas por Mú.
Desde 1994, Mú é funcionário da Rede Globo. Assinou, até aqui, a trilha original de 24 novelas – como “Chocolate com pimenta” (2003), “Ti ti ti” (2010) e “A força do querer” (2017). É dele também a trilha de “Um lugar ao sol”, trama das 21h que estreia em novembro.
Como compositor de trilhas, Mú explica, ele cria os temas de vários personagens em diferentes situações. “São em média 80 títulos por novela. E para cada um eu faço variações”, conta. Ou seja, o tema de um mesmo personagem terá três ou quatro versões – a versão romântica, a triste, a tensa, a alegre e por aí vai.
É um trabalho solitário. “Componho e gravo sozinho, ao vivo. Algumas já ficam valendo no piano, mas em outras eu chamo orquestra, violoncelista solo, gente para gravar baixo, bateria, guitarra. Vou agregando os músicos.” Ele também já fez trilhas para filmes, de “Navalha na carne” (1997), dirigido por Neville d’Almeida para a história de Plínio Marcos, a produções da Xuxa e dos Trapalhões.
CINEMA
“Trilha é outro mundo, que amo. Fazer novela é diferente de trilha para cinema, porque para um filme você vai recebendo as cenas e criando sob medida. Na novela, quando o sonoplasta vai trabalhar, ele já tem que ter 90% da música incidental”, diz. Quando começa a fazer a música para uma produção de TV, Mú recebe uma sinopse da trama e o perfil dos personagens. Depois conversa com o diretor e o autor para que lhe expliquem o conceito. (MP)