Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

Bienal Sesc de Dança oferece 22 espetáculos nacionais e internacionais



Espetáculos artísticos, videodanças, mostra de cinema, podcasts, debates e atividades formativas fazem parte da 12ª edição da Bienal Sesc de Dança, que tem início neste sábado (2/10) e prossegue até 10 de outubro, em formato virtual. Aproximadamente 300 artistas de sete países compõem a programação, que será aberta com a apresentação de “Matéria escura”, novo espetáculo da companhia catarinense Cena 11.



A Bienal Sesc de Dança homenageia nesta edição o bailarino Ismael Ivo (1955-2021) e a Lia Rodrigues Cia. de Dança, que completa 30 anos de atividade. “Neste momento de pandemia, em que a cultura também está numa fase muito vulnerável, com os artistas muito precarizados, manter o festival é uma forma de investir, além da linguagem da dança, na classe artística, que precisa trabalhar. Para nós é fundamental manter o festival no ar, mesmo que seja on-line”, afirma Fabrício Floro, curador e coordenador do evento, que será transmitido pelo YouTube do Sesc São Paulo pela plataforma Sesc Digital.  

A curadoria procurou oferecer novas experiências e formatos para o público a distância. A experiência acumulada com a programação Em Casa com Sesc, que vem sendo realizada desde março de 2020, deu subsídios para a equipe de curadores. 
“É importante trazer uma experiência nova depois de tanto tempo que estamos nas telas. A gente vem buscando isso com cada um dos artistas”, diz Fabricio. “Nossa ideia é que não seja simplesmente um registro (da obra). Mas que seja um outro olhar possível de se encontrar apenas na edição virtual da Bienal.” 

A mostra Dança para Todas as Telas, por exemplo, apresenta 33 videodanças de artistas jovens que usam ferramentas de cinema, videochamada, videoclipe e mídias sociais, como o Tik Tok. Os curadores Isis Gasparini, Rodrigo Gontijo e Vanessa Hassegawa comandarão o laboratório Dança para Todas as Telas: Partilhas, com o intuito de aproximar artistas e público, em diálogo com as obras disponíveis na programação.

A mostra Ó, Meu Corpo! Uma Coleção de Filmes Incorporados, com curadoria da pesquisadora Amaranta César, apresenta uma seleção de 18 obras (entre curtas, médias e longas-metragens) que abordam a presença do corpo, da dança e do movimento no cinema brasileiro contemporâneo. “Vaga carne” (2019), de Grace Passô e Ricardo Alves Júnior, “Filme de dança” (2013), de Carmen Luz, e “Agora” (2020), de  Déa Ferraz, estão entre os títulos selecionados.



Dois podcasts serão lançados exclusivamente para a Bienal. Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-Se de Dentro pra Fora, produzido pelo Coletivo Teatro Dodecafônico, oferece peças sonoras que convidam os ouvintes a se moverem em sintonia com a programação do festival. Um Rádio na Paisagem, dirigido pelo coreógrafo Gustavo Ciríaco, aborda a trajetória de artistas da cena contemporânea, entre eles Luciana Lara, João Saldanha, Michele Moura, Marcelo Evelin e Maya Da Rin. Os programas são disponibilizados no Spotify, Deezer, Apple Music e Sesc Digital. 

DIVERSIDADE

Ao todo, a programação exibirá 22 espetáculos nacionais e internacionais. “Tem uma diversidade grande de pessoas, gênero, raça e dos diferentes marcadores sociais dentro da programação. E, consequentemente, tudo isso vira tema, assunto para esses artistas”, observa Fabrício Floro. A poética dos corpos negros, femininos, LGBTQUIA%2b, indigenas e deficientes compõe o repertório, que inclui artistas do Uruguai, Estados Unidos, Portugal, Itália, Coreia do Sul e França, além do Brasil.
A iminência do desconfinamento também permeou a curadoria e se manifesta na ocupação de diferentes espaços das unidades do Sesc em São Paulo. Os artistas foram convidados a criar e adaptar trabalhos levando em consideração a relação dos corpos com a arquitetura e a apresentação da dança mediada pela tela. 



“Matéria escura” procura demonstrar a evolução do uso da tecnologia por parte da classe artística ao longo da pandemia. Dirigido por Alejandro Ahmed, este é o primeiro trabalho da companhia de dança a ser apresentado simultaneamente nos ambientes digital e físico (no palco do Sesc Guarulhos), utilizando a linguagem de programação e softwares, com edição e transmissão em tempo real. 

A peça coreográfica estava agendada para estrear na Alemanha, em abril do ano passado. Com o adiamento, o grupo teve que adaptar a dramaturgia. “A pandemia nos colocou numa situação-limite de realmente entender a ecologia da máquina também. E como isso, em vez de oprimir, pode expandir e criar outras fontes criativas”, afirma Alejandro Ahmed, de 50 anos. 

“A gente começou a trabalhar via Zoom e, através disso, estudar de forma rigorosa nossa relação não só com a câmera, mas de o próprio vídeo também ser uma ‘criatura’, um ‘corpo’ que dança. Um organismo, e não só um registro.”




A tecnologia como uma extensão do corpo é uma das diretrizes da companhia desde os anos 1990. Ao todo, sete bailarinos participam de “Matéria escura”. “A gente faz uma dramaturgia cinética, ou seja, tudo que se move nos interessa. Se o pixel, o vídeo, a máquina se move, a nossa relação com a dança se amplifica”, diz Alejandro. 

INTELIGÊNCIA

Os corpos mecânicos que estão no palco – como algumas “esculturas de graveto, com formato análogo a um animal”, são controlados de forma física e digital. “Eles têm uma inteligência de movimento, que também é programada antes. Mas tudo que é feito está sendo controlado por nós e pelas bailarinas que estão em  cena. Não tem nenhum controle externo, todo mundo aprendeu a fazer. Então nós mesmos inventamos e fazemos acontecer", assinala o diretor.     
O tema da coreografia é o objeto tecnológico. Em sua visão, “Matéria escura” não representa o futuro, e sim a atualidade. “Acho que é um trabalho da nossa época, que não comenta e exemplifica, mas se manifesta como um objeto gerado nas tensões do hoje.” Ele ressalta a importância de apresentar uma tecnologia brasileira na Bienal Internacional, em meio à crise de imagem vivida pelo país no exterior. 
“A gente não exporta só soja, nós temos tecnologia de conhecimento de ponta. Isso precisa ser preservado e fortalecido para que a gente não crie dependências coloniais o tempo inteiro, principalmente relacionadas à tecnologia”, avalia. 

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