Compositor de clássicos como “O barquinho” e “Você”, canções feitas em parceria com o músico carioca Ronaldo Bôscoli (1928-1994), o capixaba radicado no Rio de Janeiro Roberto Menescal agora resolve se embrenhar em canções para crianças. E junto com a nora Georgeana Bonow e a neta Maju lançou nas plataformas digitais na última sexta-feira (1/10) o álbum “Bossinha legal” (Deck). Considerado um dos pais da bossa-nova, o compositor e instrumentista se inspirou em sua neta Maju para compor canções como “Vovô vovó”, “Minha vida”, “Mundo livre”, essa em parceria com Pio Rodrigues, e “Bossinha legal”, que deu nome ao disco.
O projeto foi criado pelo próprio Menescal e Georgeana e traz também releituras de antigos sucessos, como “O leãozinho” (Caetano Veloso), “O calhambeque” (John Loudermilk e Gwen Loudermilk – Versão de Erasmo Carlos) e “O pato” (Neuza Teixeira e Jayme Silva), entre outras. Pela primeira vez, o cantor, compositor e violonista escreve canções para crianças no estilo que ajudou a criar, a bossa-nova, o gênero musical brasileiro conhecido em todo o mundo.
Menescal explica que o projeto foi nascendo aos poucos. “Na verdade, não chegamos a falar assim: 'vamos fazer um álbum'. Nas minhas idas e vindas a Minas, São Paulo e outros estados, comecei a compor algumas músicas para crianças. Sou muito de hotel, quando acaba a apresentação, vou logo para o meu quarto, não sou muito de jantar fora, essas coisas. E quando estou no meu quarto de hotel, sempre coloco um violão ou uma guitarra na cama, principalmente quando são aquelas grandes de casal. Gosto do instrumento ali do meu lado.”
Ele lembra que, certa noite, compôs uma música à qual deu o nome de “Vovô vovó”. “Mostrei para a minha nora e falei para ela: 'coloque uma letra nessa melodia que fiz, pensando na sua filha'. No caso, a minha neta Maju. Aí ela botou a letra e achei que a música ficou muito bonita. Passado um tempo, a gente se encontrou e juntos pensamos em fazer alguma coisa para a Maju cantar. Essa canção mesmo, ela adorou cantá-la. Então Georgeana fez outra letra, com o nome de ‘Minha vida’, e botei a música em cima.”
Menescal conta que foi a partir daí que surgiu a ideia real de fazer o projeto. “Então pensamos: 'por que a gente não faz um projeto para crianças?'. Por outro lado, queria fazer algo que as crianças e os pais gostassem. E procuramos também algumas músicas antigas, canções que poderiam ficar boas nessa forma que estávamos pensando. Aí surgiram ‘O calhambeque’, ‘O pato’, ‘Lobo bobo’, que a criançada gosta muito, ‘O leãozinho’. E continuamos compondo, fizemos, então, ‘Bossinha legal’, que dá nome ao álbum.”
MUDANÇA
Quanto à canção de domínio público “Atirei o pau no gato”, Menescal conta que, como adora bichos, resolveu mudar toda a letra da música. “É um absurdo a pessoa fazer uma música para criança com uma letra que começa com ‘Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to, não morreu...’. Fico revoltado com essas coisas, pois tenho vários bichos em casa. Como se faz isso? E para criança ainda. Então resolvi, porque gosto muito da melodia, re-harmonizar a música e modificar a letra também. Colocamos como uma meia composição, já que é uma canção de domínio público, porém pude fazer outro arranjo em cima.”O músico lembra que, quando os dois viram, já estavam com 10 músicas. “Foi aí que surgiu a ideia de gravar um EP. Então partimos para um projeto sem mesmo saber se seria um EP ou um álbum. E fomos fazendo arranjos e gravando. Aí a Maju falou que queria gravar ‘O barquinho’ e assim a gente foi montando o projeto e depois falamos: 'vamos lançar isso'. Telefonei para o pessoal da gravadora Deck, na qual o presidente João Augusto, foi meu produtor na Polygram. Mandei para ele, que disse, não quero que você aprove porque temos uma amizade, avalie, por favor. No dia seguinte, ele respondeu: ‘É meu, tá! Não mostra pra ninguém. Não tenho esse produto aqui, acho que vai ser bem legal'.”
Menescal conta que, além do disco virtual, será feito também um especial para o Dia das Crianças, a ser apresentado no próximo dia 16. “Então estamos gravando uns vídeos para esse outro projeto. Teremos como convidados a Sofia Gilberto, neta de João Gilberto; minha neta Maju, a baianinha Analu Sampaio e o garoto Renan Alves.”
No caminho da música infantil
Georgeana Bonow já está no mercado de música infantil há alguns anos, inclusive é dona de uma escola de música. “Estou muito feliz nesse caminho, no qual realmente me encontrei. Aliás, antes de ter minha filha, já estava, mas, depois que Maju chegou, aí, realmente, mergulhei de cabeça e não quero outra coisa para a minha vida. Foi então que comecei a dar uma ‘cantada’ no Menescal para gravarmos um disco. Isso porque tenho as minhas músicas, nas quais fiz melodia, harmonia e letra, mas, mesmo assim, comecei a pedir a ele para fazer umas composições pra mim. Com essa coisa de agenda apertada de ambas as partes, o projeto demorou mais um pouco a sair do papel.”
Márcio, que é filho de Menescal e marido de Georgeana, também trabalhou no disco. “Como nós, ele também tem uma agenda apertada, por isso não estávamos conseguindo andar rápido com o projeto. O Márcio tem o Bossa Cuca Nova; eu, a escola e também alguns projetos musicais, e Menescal naquela loucura dele. Então fomos produzindo o disco aos poucos. De vez em quando, Menescal me mandava alguma coisa autoral. Teve um dia que estava no camarim de um show, esperando para entrar, quando me mandou uma mensagem: ‘Georgeana, fiz uma harmonia aqui pra você, veja se acha bonito’. Aí me mandou aquela música maravilhosa, como todas dele. E, ainda no camarim, comecei a rascunhar a letra. Foram rimas naturais, mas assim de uma forma muito lenta, num processo vagaroso, em função de todos esses compromissos.”
Ela conta que, quando veio a pandemia, os três ficaram em casa. “Eu e Márcio moramos perto da casa de Menescal e aí a gente pensou: 'está na hora de metermos a cara nesse projeto do infantil'. Depois que o Menescal tomou as vacinas, a gente foi para a casa dele para gravar. Gravávamos em um espaço aberto, porque a casa dele é grande. Márcio levava o equipamento e montávamos um estúdio na varanda. E assim fomos fazendo e, quando vimos, o projeto estava pronto. A pandemia que era para ter acabado, não acabou, então resolvemos fazer o lançamento assim mesmo, ou seja, digitalmente.”
Quando finalizaram o projeto, em maio deste ano, os dois achavam que, em outubro, no Dia da Criança, as coisas já estariam melhores. “É que a gente queria lançar o disco fazendo um show. Mas como está demorando mais do que todo mundo previu, resolvemos lançar no streaming mesmo.”
"BOSSINHA LEGAL"
• Roberto Menescal e Georgeana Bonow
• 10 faixas
• Disponível nas plataformas digitais
REPERTÓRIO
» Bossinha legal (Georgeana Bonow & Roberto Menescal)
» O barquinho (Ronaldo Bôscoli & Roberto Menescal)
» O pato (Neuza Teixeira & Jayme Silva)
» Minha vida (Georgeana Bonow & Roberto Menescal)
» Vovô vovó (Georgeana Bonow & Roberto Menescal)
» Lobo bobo (Carlos Lyra & Ronaldo Bôscoli)
» O leãozinho (Caetano Veloso)
» Mundo livre (Pio Rodrigues & Roberto Menescal)
» O calhambeque (John Loudermilk & Gwen Loudermilk - Versão de Erasmo Carlos)
» Gato-to (Cantiga Popular – Versão Roberto Menescal)