Peça uma série policial noir e ela aparecerá, invariavelmente, na forma de uma produção nórdica. Assassinatos em série, tortura, empalamentos, mutilações, enfim, violência explícita estão em dezenas de romances (o sucesso da trilogia “Millenium”, do sueco Stieg Larsson, publicada no início deste século, apenas popularizou mundo afora o segmento) e séries (a sueco-dinamarquesa “The bridge”, de 2011, é apontada até hoje como a melhor).
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A série foi adaptada do romance homônimo de Soren Sveistrup (lançado no Brasil em 2019 pelo Suma, selo da Cia. das Letras), também autor da série “The killing” (2007) e do filme “Boneco de neve” (2017).
Em Copenhague, nos dias atuais, uma jovem mãe é brutalmente assassinada. Seu corpo é encontrado em um parque, sem uma das mãos. Próximo do corpo há um pequeno boneco feito de castanhas. Essa é a principal pista que a investigadora Naia Thulin (Danica Curcic) tem pela frente. E ela não está nada feliz com o caso.
Mãe solteira de Le (Liva Forsberg), que passa boa parte de seu tempo com o avô postiço, Thulin tenta uma mudança para a área de tecnologia da informação do Departamento de Polícia para ter mais tempo com a filha.
Além de ter que se desdobrar entre casa e trabalho, ela ainda tem um novo parceiro. Mark Hess (Mikkel Boe Folsgaard) é um agente da Europol que está há muito longe da Dinamarca, sempre mudando de país.
Conhecido pelo temperamento instável, ele tampouco está interessado em trabalhar em Copenhague, e a recepção nada amigável dos policiais locais não o ajuda em nada. Mas não demora para os dois se tornarem uma dupla imbatível, apesar de suas personalidades meio disfuncionais.
Paralelamente ao primeiro assassinato, acompanhamos também o difícil recomeço da ministra Rosa Hartung (Iben Dorner). Um ano antes, sua filha adolescente desapareceu. O sequestrador e assassino confesso está preso. A família – o marido Steen (Esben Dalgaard Andersen) e o caçula Gustav (Louis Naess-Schmidt) – parece paralisada. Não conseguiram enterrá-la, já que o assassino, com problemas mentais, não sabe onde escondeu o corpo, que teria mutilado. Mas Rosa tem que voltar ao trabalho, pois seu futuro político está em jogo.
ABUSO
Um novo corpo, ainda mais machucado, é descoberto na capital dinamarquesa, ao lado de um boneco feito de castanhas. E mais uma vez, é de uma mãe jovem. A ação se passa em poucos dias e não tarda para que a dupla de investigadores descubra outros pontos em comum entre os crimes, como histórico de abuso infantil.
Como as séries do gênero, “O homem das castanhas” vai sendo descortinada aos poucos. É uma história que tem muitos personagens e tramas secundárias. Ao mesmo tempo em que você acompanha a investigação policial, também se vê às voltas com os problemas familiares. Além do drama do casal Hartung, que tudo leva a crer tem relação com os crimes atuais, há ainda a questão da protagonista com sua filha.
A série não poupa o espectador e não faltam cenas fortes, com corpos decepados e lugares imundos. Mas a narrativa é engenhosa e pistas falsas vão facilmente levar o público a acreditar que fulano ou beltrano podem ser os criminosos.
Quando o crime finalmente é desvendado, há sentido, sem coelhos tirados da cartola. Ainda que seja cedo para falar em uma continuação, a cena final dá mostras de que pano para manga não faltará em uma segunda temporada.
“O HOMEM DAS CASTANHAS”
Série em seis episódios na Netflix