Jornal Estado de Minas

PARA OS PEQUENOS

Galpão envereda pelo universo infantil com curta que conta história surreal


Comemorado nesta terça-feira (12/10), o Dia das Crianças é uma data que aquece a agenda cultural de Belo Horizonte e neste 2021 ainda marcado pela pandemia isso não é diferente. Há opções de eventos transmitidos pela internet, via redes sociais, além de atividades presenciais, com a adoção de medidas sanitárias para evitar a propagação da COVID-19.





O grande destaque do feriado é o lançamento do curta-metragem "A primeira perda da minha vida", que marca a estreia do Grupo Galpão no universo infantil. Dirigido por Inês Peixoto e com roteiro de Eduardo Moreira, o curta, que irá ao ar às 10h no YouTube, é baseado no encontro entre o escritor Franz Kafka (1883-1924) e uma menina, inconsolável pela perda de uma boneca. 

Solidário ao sofrimento da garota, ele decide escrever para ela várias cartas, fazendo-se passar pela boneca e contando as aventuras (fictícias) que ela vivia pelo mundo.

"Escrevi esse roteiro em 2009, a partir de uma passagem de um dos romances do Paul Auster. No livro, ele conta essa história en passant. Não se trata de uma história confirmada. Na verdade, é mais uma suposição. Achei extremamente interessante e resolvi escrever o roteiro, já pensando que a menina seria interpretada pela Bárbara , minha filha com a Inês , que, na época,  já tinha a vontade de dirigir", conta Eduardo Moreira.

ALTERIDADE 

Tirado da gaveta neste ano de 2021, ele considera o argumento "ainda mais atual". "Estamos passando por um momento difícil, de muita incompreensão e falta de empatia. Esse roteiro traz à tona a importância da alteridade, de se colocar no lugar do outro. Essa é uma questão urgente nos dias de hoje. Muitos dos problemas que estamos vivendo hoje no Brasil nascem dessa incapacidade de se colocar no lugar do outro", afirma.





Inês Peixoto nunca abandonou a vontade de dirigir o projeto. Quando o Grupo Galpão começou a construir o projeto "Dramaturgias", criado para contornar as restrições impostas pela pandemia e do qual o curta faz parte, ela sugeriu o texto de Eduardo Moreira, e a ideia foi acatada pelo restante do grupo. 
 
"Peguei a todos de surpresa, mas eles acharam uma ótima ideia", diz. "Quando o Eduardo escreveu o roteiro, a gente não pensou em um plano de direção. Então eu tive a oportunidade de pensar isso do zero. Meu projeto foi muito em cima de pensar em uma história que teria acontecido em 1924, então eu pensei em recorrer a uma linguagem dos primórdios do cinema. No fim, ficou uma junção entre teatro e cinema, como se fosse aquele cinema que, na verdade, é um teatro filmado."

Embora tenha 19 anos, a filha de Inês e Eduardo, a atriz Bárbara Luz, interpreta a menina. Já Kafka é interpretado pelo ator Júlio Maciel, enquanto Teuda Bara dá vida à boneca. Os atores Antonio Edson e Simone Ordones completam o elenco. As filmagens foram feitas no Galpão Cine Horto, e o projeto conta com a coprodução da Limonada Audiovisual.





"Acho muito bonito quando os artistas conseguem abrir suas gavetas de projetos e tiram de lá jóias raras que finalmente são realizadas. Para mim, foi uma emoção muito grande poder ver esse projeto ganhar vida e realizá-lo com a minha filha. Foi um trabalho muito bonito. Estou muito feliz de tê-lo realizado dentro do Galpão, com toda a estrutura que nós temos, e também de ter montado a equipe da maneira como eu queria", comenta Inês.

SURPRESA 

Essa é a estreia de Bárbara como atriz convidada em um dos projetos do Grupo. Além disso, é a primeira vez que ela atua em um projeto dos pais. "Foi uma surpresa muito maravilhosa quando a minha mãe me convidou. Eu achava que não ia rolar por eu ser muito mais velha do que a personagem, que é uma menina de uns 11 anos. Mas fiquei muito feliz de saber que eu posso, sim", ela afirma.

Segundo a atriz, a preparação para o curta contou com muitas leituras do texto, realizadas de maneira remota. "Minha mãe me ajudou muito a encontrar o tom dessa personagem. Mas também acho que veio naturalmente. Todo mundo já foi criança, e a gente sabe como é. Tenho memórias muito vívidas da minha infância."





Júlio Maciel também passou por um processo longo de preparação para viver Franz Kafka. "Reli algumas obras clássicas, como 'Metamorfose', 'Carta ao pai' e 'O processo', na tentativa de encontrar esse Kafka da fantasia. A gente também teve a ajuda preciosa do Maurício Arruda Mendonça, que é um estudioso sobre Kafka e nos deu uma palestra falando sobre os últimos anos de vida do escritor. A partir da leitura dessas obras, junto com essa palestra, deu para clarear o caminho", Júlio comenta.

Segundo ele, "A primeira perda da minha vida" se tornou ainda mais especial porque representou a volta da companhia para o palco do Galpão Cine Horto, ainda que sem a presença do público. "A gente ficou um ano e meio sem se encontrar. Apesar de termos trabalhado muito durante essa pandemia, esse foi um dos primeiros projetos em que a gente conseguiu encontrar pessoas, seguindo todos os protocolos de segurança. Foi uma alegria imensa."

Após a estreia, o curta ficará disponível por 24 horas. A partir do próximo sábado (16/10) até 7 de novembro, ele será disponibilizado aos sábados e domingos, às 10h e às 16h, no YouTube, por 60 minutos após o início de cada sessão.





“A PRIMEIRA PERDA DA MINHA VIDA”
Estreia nesta terça (12/10), às 10h, no canal do Grupo Galpão no YouTube (youtube.com/grupogalpao). Depois da estreia, o curta ficará disponível por 24 horas. O curta fica em cartaz do dia 16 de outubro até 7 de novembro, aos sábados e domingos, às 10h e às 16h, no YouTube, por 60 minutos após o início de cada sessão. Mais informações: grupogalpão.com.br