A Virada Cultural de BH, que costuma reunir multidões nas ruas da capital, enfrentou a difícil missão de atrair espectadores à sua programação on-line na noite deste sábado (16/10). Após dois anos de hiato devido à pandemia, o evento iniciou sua sexta edição com programação realizada em nove palcos voltados para temáticas distintas. As transmissões ocorrerão até as 19h deste domingo (17/10).
O jornalista Elias Santos abriu a Virada apresentando a proposta do evento, destacando que foram mobilizados cerca de 1,5 mil profissionais da cultura e cumpridos os protocolos sanitários.
O instrumentista, cantor e compositor Maurício Tizumba era o mestre de cerimônia do palco Praça Sete, que, na verdade, foi montado nos trilhos do metrô, com o Viaduto Santa Tereza aos fundos e os vagões percorrendo o cenário.
Carlos Alberto Carli, o Cabeto, vestia uma camisa dos Beatles. Em clima de alto astral, abriu o show com o clássico "Drive my car", seguido por "Taxman" e "If I fell". A quarta canção era autoral da Cabeatles. Cerca de 50 pessoas acompanharam o início da apresentação.
CLIQUE
Satisfeito com aquela dose de rock, comecei a vagar pela programação em busca de surpresas. A vantagem da edição virtual é que os palcos estão a um clique de distância, ao contrário daqueles da Virada presencial, que obrigam todo mundo a passar a noite e a madrugada caminhando para lá e para cá.
Às 19h25, encontrei a entrevista da grafiteira Raquel Bolinho no palco Vira e Faz, que oferece oficinas e atividades formativas de diversas áreas. Ela é conhecida por seu personagem em forma de cupcake, cidadão ilustre das ruas de Belo Horizonte. A conversa, com tradução em libras, foi dinâmica devido aos cortes da edição.
Bolinho falou sobre a realidade de uma grafiteira como ela, julgamentos a respeito de sua profissão e a decisão de largar a carreira de professora. Encerrou a entrevista às 19h40, revelando o desejo de levar seu trabalho para o interior de Minas. Apenas 20 pessoas acompanharam a entrevista.
Depois, decidi conferir as atrações do palco Guaicurus. Às 19h45, o coletivo Negras Autoras (Elisa de Sena, Júlia Tizumba, Manu Ranilla e Vi Coelho) chamou a minha atenção pela sonoridade imponente.
O show foi gravado no palco do Grande Teatro do Palácio das Artes, com um mar de poltronas vazias ao fundo. Cantando músicas de seu primeiro álbum, elas se revezaram nos vocais e na percussão. As letras descrevem a realidade da mulher negra na sociedade brasileira.
BOLSONARO
Às 20h, o coletivo encerrou sua apresentação com uma canção sobre o futuro, "Tempo e liberdade". Ao final, as moças protestaram contra o governo de Jair Bolsonaro. "Ele não!", gritaram.
Em seguida, fui conhecer o palco Geek, a grande novidade desta Virada Cultural, com programação dedicada ao universo dos games, quadrinhos e animes. Porém, me vi surpreendido pela transmissão de um curso de photoshop da SAGA, que atraía somente 16 espectadores.
Essa proposta passou longe de minhas pretensões para a noite, e optei por ouvir um pouco de forró no palco Vira a Saia. Às 20h05, o Trio Assum Preto tocava a música de mestres do gênero, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e Genaro.
Canções autorais também fizeram parte do repertório do grupo da região Nordeste de BH, formado por Neto Percussa (triângulo), Robson Junio (zabumba) e Brunão (sanfonas). O clássico "Eu só quero um xodó", de Dominguinhos, foi o auge da apresentação, aquecendo corações solitários da noite virtual de sábado.
TRAVOU!!!!
Em seguida, tentei conferir as conversas sobre o disco de vinil e suas histórias no palco Vira Virou. No entanto, a transmissão ficou travada, sem voltar até as 21h. Cartão amarelo para a produção, que prejudicou a interação entre os colecionadores de discos de BH.
Às 20h30, retornei ao palco Guaicurus para assistir ao show "Carne", dedicado ao primeiro EP de Coral. A cantora baiana traz em seus versos uma poesia contundente, compartilhando sua vivência como pessoa trans não binária ao som de recursos sonoros experimentais. No chat, um internauta chegou a dizer que o timbre dela lembra o de Cazuza.
Às 20h45, fui matar a saudade da folia com o bloco Chama o Síndico, no palco Estação. Com repertório dedicado a Tim Maia e Jorge Ben, a abertura da animada performance contou com "Descobridor dos sete mares" e "Chocolate". "Saudades do carnaval", comentou o internauta Davi Knispel.
Os arcos do Viaduto Santa Tereza ficaram ainda mais bonitos com Chama o Síndico e Mayí, Andrezza Duarte, Azzulla, Paige, Claudia Manzo, Sopristas Do Babadan, Di Souza e Matéria Prima no Vira Estação! %u2728 Continue ON na Virada em https://t.co/paiUnjt6wj. %uD83D%uDD1B #ViradaCulturalBH pic.twitter.com/f9pwf7dlkt
%u2014 Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (@fmcbh) October 17, 2021
O cenário era um point do carnaval de BH. O show foi gravado em cima do Viaduto Santa Tereza, ao amanhecer. No palco, três sopros, cinco percussionistas, baixo, guitarra e três cantores - com direito a tradutor de libras dançando.
Às 21h15, saí de lá satisfeito, ao som de "Gostava tanto de você" e "Vale tudo", essa com participação especial da cantora Azzula.
METAL
Terminei a noite de sábado conferindo o show da jovem banda mineira de metal alternativo Aknus, no palco Praça Sete. Foi o resumo de um trabalho que se solidificou ao longo da pandemia, incluindo músicas inéditas no setlist. O tom melancólico retrata o período caótico que enfrentamos. A sonoridade autoral, com letras em português, demonstra como a cena rock and roll continua viva em Belo Horizonte.
Antes de terminar, a vocalista Janiny Tainá agradeceu à Prefeitura de Belo Horizonte, dizendo que a Virada Cultural foi o primeiro "evento de rua" de que ela participou.
"Jany, Bruno, Phil, Sam e Sofia, vocês me fazem acreditar que a humanidade tem jeito", escreveu o internauta Henrique Mafra Alvarenga no chat.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria