Completando 50 anos, o grupo Quinteto Violado, conhecido por sua pesquisa folclórica e interpretação única nos gêneros nordestinos, tem a sua história registrada em livro pelo escritor, crítico musical e jornalista paraibano radicado em Pernambuco José Teles.
Trata-se de “Lá vêm os violados – Os 50 anos da trajetória artística do Quinteto Violado” (Cepe Editora), que será lançado nesta quarta-feira (20/10), às 18h, no hall do Teatro de Santa Isabel, em Recife, com direito a show da banda para 200 convidados.
Originalmente, o Quinteto era formado por Toinho Alves (1943-2008), na voz e baixo acústico, Marcelo Melo (voz, viola e violão), Fernando Filizola e Luciano (percussão) e Sando (flauta). Da formação inicial, Marcelo é o único remanescente. Além dele, fazem parte hoje Ciano Alves (flauta), Sandro Lins (baixo), Dudu Alves (tecladista e arranjador) e Roberto Medeiros (percussionista).
Teles relata a trajetória do grupo desde a sua estreia, em 1971, em Nova Jerusalém, cidade-teatro construída no agreste pernambucano, até mais recentemente, com o projeto “Na estrada”, realizado com a Banda de Pau e Corda, porém interrompido em 2020, por causa da pandemia.
Em 2012, o autor lançou pelas Edições Bagaço seu livro sobre o Quinteto Violado, na sequência das comemorações dos 40 anos do grupo, completados no ano anterior. Teles explica que esta é a terceira edição de “Lá vêm os violados”, refeita, atualizada e acrescida de mais 10 anos de história.
IMPORTÂNCIA
Em sua avaliação, na música brasileira, o Quinteto Violado tem importância equivalente a Chico Science & Nação Zumbi, a banda recifense que lançou o movimento mangue beat, no começo da década de 1990. “Eles conseguiram levar para fora do estado ritmos como caboclinho, cavalo-marinho e ciranda, entre outros”, observa.
Na esteira do Quinteto Violado, surgiram em Pernambuco grupos como a própria Banda de Pau e Corda e o Concerto Viola; e em Sergipe, o Bolo de Feira. Teles ressalta que o Quinteto trouxe à tona uma música popular até então ignorada no país e que, mesmo em Pernambuco, havia sumido de cena.
“Eles também foram pioneiros na renovação do carnaval de Pernambuco, mesmo gravando frevos com outra instrumentação, tendo a flauta como instrumento solo.”
O primeiro sucesso nacional do grupo foi uma versão feita para a canção “Asa branca” (Luiz Gonzaga & Humberto Teixeira), lançada em 1972, no álbum “Quinteto Violado em concerto” (Phillips). Gonzagão(1912-1989) elogiou o resultado e considerou o arranjo como o mais lindo feito para a sua música. Esse disco chegou a ser lançado no Japão, porém com o título de “Asa branca”.
A criação de arranjos originais é o ponto forte do Quinteto, que dividiu o palco com convidados ilustres, como Dominguinhos (1941-2013), com quem fizeram tantos shows que muitos pensavam que o sanfoneiro pernambucano fazia parte da banda. Gonzaguinha (1945-1991) também chegou a fazer a abertura de vários shows da banda.
FORMAÇÃO
Originalmente, o Quinteto era formado por Toinho Alves (1943-2008), na voz e baixo acústico, Marcelo Melo (voz, viola e violão), Fernando Filizola e Luciano (percussão) e Sando (flauta). Da formação inicial, Marcelo é o único remanescente. Além dele, fazem parte hoje Ciano Alves (flauta), Sandro Lins (baixo), Dudu Alves (tecladista e arranjador) e Roberto Medeiros (percussionista).
Teles lembra que, na época em que o Quinteto Violado surgiu, as gravadoras usavam o formato do compacto para apresentar ao público novos músicos. “O objetivo disso era ver como seria a receptividade do público para aquele artista. Se fosse boa, aí, sim, sairia o vinil (LP). Porém, o disco de estreia ‘Quinteto Violado em concerto’ foi logo um LP, o que era difícil acontecer. ‘Lá vêm os violados’ é nada menos do que a história de uma banda que escreveu e continua escrevendo um dos mais ricos capítulos da MPB.”
A repercussão que o grupo conseguiu foi enorme desde o início da carreira, segundo observa o autor do livro. “Impulsionado pela Polygram-Phillips, que tinha grandes nomes naquela época, o grupo conquistou o país logo de cara. E estourou com o primeiro, o segundo e terceiro discos, tendo uma fase de sucesso na Phillips, que estava no auge, assim como a MPB. Inclusive, foi para o exterior, coisa que não era comum naquela época. Depois, para outras gravadoras, até que se tornou independente.”
O papel do grupo na divulgação da cultura pernambucana em plano nacional foi importante, segundo ele diz. “O Quinteto gravou o primeiro disco em 1972, e esse disco foi uma novidade na música brasileira. Isso porque existem muitos ritmos em Pernambuco que praticamente são só conhecidos no estado, como cavalo-marinho, caboclinho e ciranda e, felizmente, o Quinteto conseguiu estilizá-los e colocá-los em seus shows mundo afora.”
CULTURA POPULAR
A valorização dos ritmos tradicionais pernambucanos, no entanto, já vinha sendo feita, conforme aponta Teles. “Tivemos o Movimento de Cultura Popular (MCP), na época em que Miguel Arraes (1916-2005) era prefeito, em 1961/62. Esse movimento foi fundado por Paulo Freire, Ariano Suassuna e Hermínio Borba Filho, entre outros. Eles usavam a cultura popular para alfabetizar e conscientizar o povo, e isso ficou na cultura pernambucana. Então, na década de 1960, quando surgiu a MPB, o pessoal de Pernambuco começou a fazer música, ligado muito nessa coisa da cultura popular.”
Por influência do Quinteto, diversos grupos, em vários estados, começaram a atentar para a música regional e fazê-la com uma visão moderna. “O grupo introduziu a viola em outros ritmos. Naquela época, quem tocava esse instrumento era somente os repentistas e cantadores de viola. A turma do underground tocava mesmo era guitarra, queria saber de Woodstock, aquelas coisas, e o Quinteto fez ver que a viola era um instrumento que também poderia ser usado na MPB. Aliás, o Quarteto Novo fazia isso, inclusive com Heraldo do Monte, que é recifense.”
Teles explica o envolvimento dos integrantes originais do Quinteto com a cultura popular. “Eles eram todos de classe média, mas conheciam o MCP, que acabou dando origem ao Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1963, em um congresso da UNE, em Recife, o pessoal conheceu o MCP e resolveu criar o CPC.”
“Criados sob a inspiração do próprio MCP, esses centros eram formados por jovens escritores, compositores, artistas plásticos e cineastas. Durante o golpe militar, os primeiros locais invadidos pelo Exército em Recife foram a sede do MCP, que trabalhava muito as festas populares de Recife, e o palácio do governo”, cita o autor.
O Quinteto Violado se manteve firme no propósito de continuar em Recife. “Por causa disso, sumiram um pouco da mídia, mas continuaram numa carreira sempre constante, cheia de viagens, chegando a gravar discos também no exterior. É uma banda que tem uma carreira enorme; afinal, são 50 anos. O grupo mudou muito, mas o cerne e o som dele continuam. Ele não fez concessões a modismos”, diz Teles.
ANIVERSÁRIO
Sobre a primeira edição, o autor conta que era intenção do Quinteto fazer um livro para o seu aniversário de 40 anos, mas a dificuldade de encontrar uma editora acabou atrasando o projeto. “Lanço meus livros pela Editora Bagaços, que topou fazer a obra. Só que estava muito em cima da hora, já tinha passado, inclusive, o aniversário de 40 anos, que foi em 2011, e lançamos o livro em 2012. Como eles têm um arquivo grande de recortes, acrescentei agora mais 10 anos de história.”
Marcelo Melo elogia a atualização feita por Teles. “Ele fez um levantamento de todos os momentos. São cinco décadas de tudo que aconteceu, as gravadoras pelas quais passamos, os concertos que fizemos, os projetos, diretores que estiveram próximos do Quinteto e a manutenção do grupo no Nordeste. Nunca inventamos de sair para o Sul, embora soubéssemos que, no início, quando o grupo começou, era lá que estava toda a febre do grande mercado cultural brasileiro, principalmente no eixo Rio-São Paulo.”
O músico conta como surgiu o nome do livro, que permaneceu inalterado. “É que Dudu, filho de Toinho, que formou o Quinteto comigo, fez um poema, mais ou menos narrativo, sobre como o grupo surgiu, em cima das pedras de Nova Jerusalém, quando fez o primeiro show lá, em 1971. E uns meninos que estavam por perto, quando nos viram descendo, segurando violão e viola, disseram, ‘Lá vêm os violados’. Esse termo acabou dando origem ao nome Quinteto Violado.”
Antes de se tornar produtor de discos comerciais, o Quinteto participou do projeto Música Popular do Nordeste, em 1973, do publicitário e pesquisador musical Marcus Pereira, criador do selo Discos Marcus Pereira, dedicado à música brasileira de qualidade.
GRAVADORA
“Ele tinha a intenção de fazer um mapeamento cultural brasileiro através da música e o Quinteto, por indicação do escritor, teatrólogo, crítico literário e pesquisador pernambucano Hermínio Borba Filho (1917-1976) decidiu participar do trabalho. Gravamos nos quatro LPs que compunham a coleção e foi um sucesso”, relembra Melo.
“Fizemos também um tratamento, mostrando a possibilidade de projeção dessa música, enriquecendo com harmonias, com formatos que permitiam ao público geral um entendimento melhor da música brasileira”, orgulha-se Melo.
A gravação seguinte, com a Phonogram, marcou o primeiro lançamento comercial do grupo, “Quinteto Violado em concerto” (1972). O diretor da gravadora na época era Roberto Menescal. “Ficamos lá por nove anos e começamos a viajar pelo Brasil e pelo exterior. Todo ano fazíamos um disco, um espetáculo e uma turnê. Começamos a participar de festivais e turnês internacionais”, diz o remanescente da formação original do Quinteto.
Marcelo Melo anuncia para março do ano que vem a retomada do projeto “Na estrada'', com a Banda de Pau e Corda. “Por enquanto, faremos esse concerto no dia do lançamento do livro. O repertório traz um apanhado desses anos todos e vamos rever momentos clássicos da nossa carreira.”
“LÁ VEM OS VIOLADOS – 50 ANOS DA TRAJETÓRIA ARTÍSTICA DO QUINTETO VIOLADO”
De José Teles
Cepe Editora (248 págs.)
R$ 50 (impresso) e R$ 15 (e-book)
Nas lojas físicas e na loja virtual da Cepe (www.cepe.com.br/lojacepe)