Não é tudo, mas é muita coisa. A 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo tem início nesta quinta-feira (21/10), com uma programação de 264 filmes de 52 países. Depois da edição exclusivamente digital de 2020, o evento realiza neste ano uma versão híbrida.
As cerejas do bolo, vale dizer, poderão ser assistidas até 3 de novembro, somente nos cinemas da capital paulista – que já tem autorização para funcionar com até 100% da capacidade das salas, de acordo com os protocolos de reabertura da cidade.
Entre eles estão o francês “Titane”, de Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro em Cannes neste ano; “Memória”, de Apichatpong Weerasethakul, também premiado no festival francês (levou o Prêmio do Júri) e selecionado pela Colômbia para tentar uma vaga no Oscar de filme internacional; e o americano “A crônica francesa”, de Wes Anderson, com um elenco pra lá de estelar (Tilda Swinton, Frances McDormand e Benicio del Toro são apenas alguns que participaram).
OPORTUNIDADE
Mas, para o público de fora, haverá também boas oportunidades, como o brasileiro “Madalena”, de Madiano Marcheti, produção sul-mato-grossense que tem feito bonito no circuito de festivais internacionais, e “Murina”, da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, que é coproduzido por Martin Scorsese e pelo brasileiro Rodrigo Teixeira.
Diretora da mostra, Renata de Almeida brinca dizendo que até “esqueceu as dores do parto” ao falar da “vitória” que a volta às sessões presenciais representa neste momento. Houve uma negociação filme a filme para saber quais produções seriam exibidas também em formato on-line – a decisão coube às distribuidoras e aos produtores dos longas.
“A vontade é de manter o formato híbrido (para as futuras edições), mas, para tal, precisamos ter condições. É muito mais trabalho e gasto, pois temos que pagar as exibições, plataformas, desenvolver aplicativo. É uma demanda dupla”, comenta Renata, citando o retorno positivo que recebeu de “várias partes do Brasil” sobre a edição de 2020.
PÔSTER
Mais prestigioso festival do país, a Mostra de SP recebe os títulos mais recentes de grandes nomes da cinematografia mundial nas seções Perspectiva Internacional, Competição Novos Diretores, Mostra Brasil. Há ainda a Apresentação Especial (que destaca a versão em preto e branco de “Parasita”, de Bong Joon Ho, e uma nova cópia, restaurada, de “Terra estrangeira”, de Walter Salles e Daniela Thomas) e a retrospectiva Paulo Rocha, que exibe sete filmes do cineasta português morto em 2012.
Outro nome que será celebrado pelo evento é o de Ziraldo – no próximo domingo (24/10), o cartunista e chargista mineiro completa 89 anos. Um desenho do final da década de 1970 – um viajante espacial, alter-ego de tantos trabalhos que ele assinou – foi resgatado para o pôster desta edição da Mostra.
“Já pensava no Ziraldo há muitos anos. Este ano, a Fabrizia Pinto (uma das filhas dele) me falou que havia feito um documentário sobre ele. Pedi o primeiro corte e achei um filme bonito, pessoal. O Instituto Ziraldo enviou a imagem (para o pôster) e foi uma unanimidade (entre a equipe da Mostra), pois é impressionante como as pessoas têm uma memória afetiva com o traço dele”, diz Renata.
Diante disso, serão exibidos dois documentários inéditos: o supracitado “Ziraldo: Era uma vez um menino...”, de Fabrizia Pinto, com trilha sonora de Antônio Pinto, outro dos filhos do cartunista, e “Ziraldo – Uma obra que pede socorro”, de Guga Dannemann, que revela a história de um painel que ele fez durante a ditadura militar na extinta casa de shows Canecão – trabalho esse que está hoje recoberto por tijolos e tinta.
CRISE SANITÁRIA
A pandemia é, obviamente, um tema presente nesta edição. A crise sanitária é tema de alguns filmes – como o documentário “Sars-CoV-2 - O tempo da pandemia”, de Eduardo e Lauro Escorel – destaque da seleção Itaú Cultural Play – e está presente em outros.
Vencedor do Urso de Ouro em Berlim, o filme “Má sorte no sexo ou Pornô acidental”, do romeno Radu Jude, acompanha uma professora com carreira ameaçada depois que uma fita de sexo vaza na internet. O filme foi rodado durante a pandemia, e o diretor coloca os personagens de máscaras, fazendo com que a produção fique marcada por seu tempo. O português “Diários de Otsoga”, de Miguel Gomes, é outro longa permeado pela pandemia de COVID-19, ainda que a doença não seja o tema central.
Da produção nacional, há títulos bem cotados, como “Deserto particular”, de Aly Muritiba, que saiu de Veneza com o prêmio de público da mostra paralela Venice Days e foi escolhido para representar o Brasil no Oscar, e “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira, eleitor melhor filme latino-americano em San Sebastian.
“A Viagem de Pedro”, filme de Laís Bodanzky sobre a viagem de dom Pedro I ao Brasil, e “As verdades”, policial passado na Bahia, com direção de José Eduardo Belmonte e estrelado por Lázaro Ramos, são outros títulos de destaque da safra recente. Renata Almeida comenta que a seleção nacional está menor do que em anos anteriores. “Tem as questões da Ancine, com entraves burocráticos, e muita gente ainda está segurando os filmes”, afirma a diretora da Mostra.
Com orçamento reduzido devido às circunstâncias do país, a Mostra de São Paulo realiza esta edição da maneira possível. Sobre a ausência de convidados internacionais, Renata diz: “Agora, com o on-line e a volta do presencial, ficou puxado. Com a alta do euro e do dólar, ficou uma loucura. Na hora de cortar, a gente pensa principalmente no público. O que é a Mostra? São os filmes e o acesso a eles”.
45ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
Desta quinta-feira (21/10) a 3/11, em cinemas de São Paulo e em formato on-line. Há três mostras digitais: Mostra Play (ingressos a R$ 12), Sesc Digital e Itaú Cultural Play (ambos gratuitos). Acesso às plataformas e programação completa: mostra.org
PARA VER SEM SAIR DE CASA
Confira cinco destaques da Mostra Play
» “Bergman Island”, de Mia Hansen-Love (França)
Protagonizado por Mia Wasikowska, Tim Roth e Vicky Krieps, o filme é ambientado durante um verão, quando um casal de cineastas vai para a ilha sueca de Fårö, onde Ingmar Bergman viveu. À medida que seus respectivos roteiros avançam, os limites entre ficção e realidade se confundem, separando o casal. Coproduzido pela brasileira RT Features, o longa fez parte da seleção oficial do Festival de Cannes deste ano.
» “Irmandade”, de Dina Duma (Macedônia do Norte)
Longa indicado pela Macedônia do Norte para tentar uma vaga para o Oscar de melhor filme internacional de 2022, o drama conta a história de duas adolescentes inseparáveis cuja amizade sofre uma reviravolta quando elas se envolvem na morte acidental de um colega de escola.
» “Jane por Charlotte”, de Charlotte Gainsbourg (França)
Primeiro documentário dirigido pela cantora e atriz, é centrado em sua relação com a mãe, a também cantora e atriz Jane Birkin. Em 2013, após a morte da meia-irmã de Charlotte, a fotógrafa Kate Barry, mãe e filha se afastaram. Neste reencontro íntimo rodado no Japão e em Paris, as duas conversam sobre a vida, as perdas, a passagem do tempo e Serge Gainsbourg (1928-1991), o pai de Charlotte.
» “Madalena”, de Madiano Marcheti (Brasil)
O primeiro longa do diretor sul-mato-grossense já participou de vários festivais internacionais (Roterdã e San Sebastian, entre eles). A personagem-título é uma figura ausente, pois é a descoberta do cadáver de Madalena que detona a narrativa. Encontrado em uma plantação de soja, o corpo da mulher trans se torna um elo para os três protagonistas da história, jovens com realidades socioculturais diferentes.
» “Murina”, de Antoneta Alamat Kusijanovic (Croácia)
Longa de estreia da diretora croata radicada nos EUA, levou o Caméra d’Or no Festival de Cannes, prêmio dedicado a cineastas estreantes no formato. Coproduzido pela brasileira RT Features, o drama acompanha a relação conturbada entre uma adolescente e seu pai, quando um amigo da família visita a casa deles, em uma ilha na Croácia. Com isso, a protagonista aproveita a presença do viajante para reverter a vida pacata que leva.