Jornal Estado de Minas

CINEMA

Com 2h35 de duração, 'Duna' deixa espectador com gostinho de 'quero mais'

Ele fez de novo. Depois de mexer com um monstro sagrado da ficção científica dos anos 1980 – com “Blader Runner 2049”, de 2017, sequência que reverenciou o clássico de Ridley Scott – o cineasta canadense Denis Villeneuve repete o feito. 


Mas há uma grande diferença em “Duna”, que chega nesta quinta (21/10) aos cinemas brasileiros. Aqui, ele não partiu da versão cinematográfica (dirigida por David Lynch, de 1984) e sim da fonte original, o romance homônimo de 1965 do escritor americano Frank Herbert.





Um dos livros de sci-fi mais vendidos da história e marco do gênero, “Duna” também teve uma adaptação em 2000, em formato de minissérie. No entanto, foi a estranha versão de Lynch, de produção tumultuada, que conquistou uma legião de admiradores, a despeito de suas falhas. (Aviso a quem quiser ver ou rever: o filme está disponível no Prime Video.) 

Pois Villeneuve nem se deu ao trabalho. Se o filme anterior condensava a história (de mais de 500 páginas) em pouco mais de duas horas, o cineasta canadense só adaptou a primeira metade da saga do romance original.

ORÇAMENTO

“Duna” está sendo lançado como parte 1. Villeneuve queria ter rodado o segundo filme na sequência do primeiro, mas não conseguiu autorização do estúdio. O segundo foi anunciado, mas não está devidamente confirmado. Um orçamento de US$ 165 milhões não é lá algo com que a Warner Bros. vá brincar.




Como todos os filmes realizados durante a pandemia, esse enfrentou adiamentos em sua chegada aos cinemas. E o futuro da saga depende tanto dos resultados da bilheteria quanto do streaming, já que, de acordo com as regras do mercado de exibição, o longa deve chegar ao catálogo da HBO Max 35 dias depois de sua estreia nas salas de cinema.

Mas este papo não é para agora, já que “Duna” foi feito para ser assistido no cinema. São 2h35min de uma narrativa densa, impactante, que de uma forma estranhamente bela conversa com os nossos tempos. É a eterna briga entre o bem e  omal, opressor e oprimido, com várias nuances, um acabamento fora do comum (os efeitos e a trilha sonora são de Hans Zimmer e, volta e meia, fazem tremer a cadeira do cinema) e um elenco estelar.

FEUDOS

Em um futuro mais do que distante, a galáxia é dividida em feudos (este daí é só um paradoxo, a milênios do agora, nem computadores existem), cada qual em seu planeta. Toda a humanidade depende de um único bem, uma especiaria, a única fonte capaz de fazer com que viagens que duram anos-luz ocorram rapidamente. Pois esta fonte está imersa na areia, no planeta Arrakis, um imenso deserto de calor insuportável ao corpo humano.





Homem nobre – de descendência e valores – o duque Leto Atreides (Oscar Isaac) é designado pelo imperador para assumir a operação do planeta Arrakis, onde imensas máquinas mineram, noite e dia, a tal especiaria. Os humanos têm dificuldade de viver no local por causa das condições climáticas – mas o pior são vermes de até 400 metros que atacam, nas dunas, ao som do menor barulho.

Antes, o lugar era dominado pela Casa Harkonnen, poderosa, temida e cruel, personificada na figura do barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgard), que provoca tanto medo quanto repulsa. Impedido de continuar lucrando com a especiaria, Harkonnen quer se vingar de Atreides e matar todos.

FEITICEIRAS

As armas da Casa Atreides são duas: Jessica (Rebecca Ferguson), a mãe dos filhos do duque, integrante de um clã de feiticeiras chamado Bene Gesserit, e o único herdeiro homem de Leto, Paul Atreides (Timothée Chalamet), jovem que aprende a lutar como o pai, mas logo desenvolve os poderes da mãe – e isso inclui uma voz gutural que faz com que qualquer pessoa obedeça às ordens e sonhos premonitórios.





Ao lado dos protagonistas estão homens de grande valor, como Duncan Idaho (Jason Momoa) e Gurney Halleck (Josh Brolin), que não são apenas os oficiais à frente do exército da Casa Atreides, como também os mentores de Paul. Paralelamente, há também os Fremen, os povos originários de Arrakis, os únicos capazes de sobreviver ao deserto e à escassez de água. 

A aridez do planeta faz com que todos eles tenham olhos com uma estranha cor azul. Nesse grupo, logo despontam Stilgar (Jarvier Bardem) e a jovem Chani (Zendaya). Paul sabe, de antemão, por causa dos sonhos, que ele viverá com ela uma intensa história de amor e luta.

MESSIAS

O filme só acompanha a primeira fase da saga de Paul, que muitos acreditam ser uma espécie de messias para os povos do deserto. O que vemos neste primeiro filme é a transição de um jovem, que até então viveu protegido, em um mundo áspero em que surpresas aparecem a cada instante. Mais do que a trama em si, o que interessa é a forma como Villeneuve conta a história.





O deserto ganha vida a cada sequência – por vezes, temos a impressão de que esculturas dominam a tela. Os tais vermes, monstros que surgem inesperadamente, assustam pelo tamanho e pelo formato, mas não menos do que o inimigo inesperado que pode vir na figura de um minúsculo inseto. E “Duna”, que toca em temas universais e urgentes, como religião e crise climática, acaba dialogando, de forma extravagante, com os dias de hoje (há inclusive máscaras e uma roupa de sobrevivência no deserto). É um grande começo, em vários sentidos. Torçamos para que a sequência seja confirmada.

“DUNA”

(EUA/Canadá, 2021, 155min, de Denis Villeneuve, com Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jason Momoa) – Nova adaptação do romance de ficção científica de Frank Herbert, acompanha a saga do filho de uma família nobre encarregado de proteger um planeta distante, o único que possui o elemento vital de toda a galáxia. Estreia nesta quinta (21/10) nos cines BH, Big, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond, Estação, ItauPower, Minas, Monte Carmo, Norte, Pátio e Via Shopping 

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