Com esquetes polêmicas, sátiras sobre Jesus Cristo, igreja evangélica, política, futebol e as contradições que permeiam nosso cotidiano, o Porta dos Fundos conquistou um lugar de destaque no cenário do humor nacional. No entanto, foi um policial politicamente incorreto e corrupto que se tornou o principal personagem criado pelo grupo: o “sargente-tenente” Peçanha.
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“A gente não tem a pretensão de ganhar o Oscar. Quando escrevi esse especial do Peçanha, a ideia era fazer o pessoal rir. A gente se divertiu muito fazendo”, disse o ator e roteirista, em coletiva de imprensa virtual. “Ele (o filme) cumpriu a função de ser divertido, leve. Não é pra ser um filme profundo, denso.”
Na trama, o surgimento do Animal amedronta a população de Nova Iguaçu e se torna uma “novela” nos jornais. Peçanha e Mesquita são encarregados das investigações, mas acabam sendo demitidos da PM pela pressão da opinião pública, após os sucessivos fracassos em capturar o serial killer. Três meses depois, mais de 90 pessoas foram assassinadas, e o delegado recorre novamente à dupla para solucionar o caso.
ORIGENS
O enredo, situado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, remete à origem de Peçanha (antes mesmo de ele ter esse nome), no canal Anões em Chamas – uma espécie de embrião do Porta dos Fundos. Na série de vídeos “CSI Nova Iguaçu”, Antonio Tabet e Gustavo Chagas faziam uma paródia da série policial norte-americana.
Em “Peçanha: contra o Animal”, desfilam pela tela policiais despreparados, ignorantes, corruptos e agressivos. No entanto, o público torce pelo sucesso da dupla principal, que precisa provar seu valor aos superiores. O truculento Peçanha e o atrapalhado Mesquita dedicam-se com afinco à investigação, o que fornece oportunidade para cenas de ação.
“O Peçanha é muito curioso, porque ele representa o pior do melhor brasileiro. Ele é um cara péssimo, mas que tenta melhorar de uma maneira completamente torta. Por isso ele é tão querido por todas as pessoas deste Brasil polarizado em que a gente vive hoje”, opina Tabet sobre o personagem.
“Quem entende que milícia é um negócio péssimo; ser racista, machista e homofóbico em 2021 não está com nada enxerga no Peçanha uma crítica. E ele é uma crítica. As pessoas que acham que isso é mimimi, frescura, se identificam com esse personagem que é tosco, mas, no fundo, sabe que precisa melhorar. Então ele acaba agradando a todo mundo”, avalia o ator.
A trajetória do personagem começou de forma despretensiosa nos vídeos do Porta dos Fundos sobre a polícia do Rio de Janeiro. Depois de participar de “Ciclo da vida” e “Suborno”, entre 2012 e 2013, Peçanha, aos poucos, foi se tornando figurinha repetida no canal.
“Não era nossa ideia ter um personagem assim. Ele acabou virando um personagem recorrente, e as pessoas amaram. Elas começaram a pedir por um conteúdo mais longo, aprofundado nele”, diz Tabet, para quem existem muitos 'Peçanhas' espalhados pelo país.
“Alguns são melhores; outros, piores. Uns mais queridos; outros, muito escrotos. Mas eles estão por aí e estão aumentando. Se você for para a Zona Oeste do Rio de Janeiro, tem um em cada esquina. Se você for para Brasília, tem alguns em cargo de poder. Então, ele diz muito sobre o Brasil, não só de hoje.”
Mesquita apareceu pela primeira vez no Porta dos Fundos no vídeo “007”, em abril de 2018, no qual James Bond toma um enquadro da PM carioca. Na época, Pedro Benevides ainda não fazia parte do grupo, mas encarnou o personagem e conquistou uma vaga no elenco fixo do canal de humor.
“Eu era muito fã do Porta antes de entrar, e o Peçanha era o (personagem) favorito do público. Então, dar a vida para um parceiro dele, fazer um dupla com ele tem um valor muito especial pra mim”, diz o ator.
PERSONAGENS
“Peçanha: contra o Animal” também faz um crossover entre diferentes personagens do Porta dos Fundos, como Carlinhos Avelar (Rafael Infante) e Jéssica (Thati Lopes) – do famoso vídeo com a Xuxa. Além disso, novos personagens surgem no especial, entre eles a policial Xayane (Evelyn Castro), que tem métodos “curiosos” de perícia.
“Eu queria fazer uma coisa que fosse bem besteirol, que fosse fazer todo mundo rir, leve. Mas, óbvio, que todo mundo entendesse que existe uma crítica, uma sátira, uma irreverência em relação a tudo isso que a gente está vivendo hoje em dia. E acredito que a gente acertou em cheio”, afirma Antonio Tabet.
Para ele, a comédia é uma forma de pedagogia. “Eu acho que o humor mata com gentileza. Ele vai certeiro, atinge as pessoas onde elas não estão tão acostumadas. Fazendo carinho, ele consegue convencer a pessoa de que algo precisa ser mudado, não só nela mesma, mas em alguém que ela conhece, na sociedade de um modo geral. E o Porta dos Fundos consegue fazer isso desde que surgiu.”
“PEÇANHA: CONTRA O ANIMAL”
(Brasil, 2021, 67min) Direção: Vinicius Videla, com
Antonio Tabet, Rafael Portugal, Evelyn Castro. Estreia
nesta sexta-feira (22/10), na Amazon Prime Video.
*Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes