''Nunca conheci uma mulher que se sentisse completamente bem com seu corpo, e isso é uma vergonha''
Gwyneth Paltrow, atriz e dona da empresa goop
Gwyneth Paltrow admite que tem inseguranças sobre sua aparência física num episódio de sua nova série, “goop: Muito além do prazer”, exibida pela Netflix, mas está trabalhando nisso. A vencedora do Oscar e empresária por trás da marca goop se propõe a melhorar o relacionamento e a vida sexual de seis corajosos casais.
Quando algumas mulheres do programa citaram a imagem corporal como obstáculo ao sexo, Paltrow compartilhou sua experiência. Explicou que, amadurecendo aos olhos do público desde os 22 anos, estava sempre tentando se encaixar em algum ideal.
PADRÃO
“Nunca conheci uma mulher que se sentisse completamente bem com seu corpo, e isso é uma vergonha”, afirma Paltrow. “Isso significa que estamos nos prendendo a algum padrão que nos foi prescrito e é muito externo, não é nada interno.”
A estrela confessa: “Neste ponto da minha vida, definitivamente não sou uma pessoa perfeita, mas estou sempre em uma jornada rumo ao autoaperfeiçoamento. Realmente gosto de mim. Conheço meus defeitos. Acho que não tenho mais pontos cegos e estou tentando cultivar esse sentimento em relação ao meu corpo”.
Aos 49 anos, a atriz de “Shakespeare apaixonado”, filme que lhe deu o Oscar em 1999 (derrotando a brasileira Fernanda Montenegro, para horror de Glenn Close), confessa que pretendia “se mostrar mais vulnerável”, pois pediu aos casais da série que fizessem o mesmo.
Os seis pares são formados por pessoas de várias idades, etnias e orientações sexuais que trabalham com especialistas para aprender novas maneiras de se ver e se abrir à intimidade, usando métodos para melhorar seus relacionamentos por meio do sexo mais prazeroso.
Uma das missões do programa é estimular a curiosidade e eliminar a vergonha em torno da sexualidade feminina por meio de seus conteúdos e produtos. Paltrow diz que a melhor maneira de conseguir isso é falar sobre sexo e dar às pessoas permissão para pedir o que quiserem entre quatro paredes.
“O prazer feminino ainda é considerado tabu. Se você olhar para trás ao longo da história, entende que controlar o prazer das mulheres, ou a falta dele, ou separar o prazer da moralidade é uma forma de fazer as mulheres não se sentirem plenas”, afirma Gwyneth.
As especialistas do programa – uma bodyworker sexológica, uma coach de tantra e intimidade sagrada e uma coach de bem-estar erótico – ajudam os participantes de “goop: Muito além do prazer” por meio de discussões e exercícios físicos.
Muitos casais se ofereceram para participar do programa na esperança de resolver desentendimentos ou atitudes em relação ao sexo. Isso inclui diferentes níveis de desejo a reclamações pela perda da famosa “chama” do desejo.
''Você está fazendo terapia na privacidade de seu quarto ou na sala de estar, onde assiste à série. Não tem estigma e você não precisa se expor''
Michaela Boehm, especialista em relacionamentos
CONSELHOS
Michaela Boehm, especialista em relacionamentos que trabalhou com Paltrow pessoalmente, se diz animada com “Muito além do prazer”, porque a série deixará seus conselhos mais acessíveis a pessoas que de outra forma relutariam em fazer terapia sexual.
“Você está fazendo terapia na privacidade de seu quarto ou na sala de estar, onde assiste à série. Não tem estigma e você não precisa se expor. Você consegue entrar na água colocando um dedinho de cada vez, por assim dizer”, compara Boehm.
“Como não falamos sobre essas coisas (sexo), as pessoas pensam que estão erradas ou são as únicas que estão passando por isso”, observa. “Ver e entender que essas coisas acontecem já tira boa parte da pressão, abre uma porta e cria a confiança que pode levar a um relacionamento mais profundo.”
Michaela Boehm e Gwyneth Paltrow se dizem emocionadas com a coragem demonstrada pelos casais participantes do programa. “É preciso ter uma certa coragem para se submeter a algo assim”, comenta a atriz.
ISENÇÃO
A série traz um aviso no início, dizendo que foi concebida para “entreter e informar”, não para “fornecer conselhos médicos” – isenção de responsabilidade que se antecipa às críticas que a atriz e seu programa costumam receber.
Chamam a atenção os momentos em que casais experimentam brinquedos sexuais e acessórios, incluindo vendas e uma “garra de Wolverine”.
“goop: Muito além do prazer” também foi criticada por promover produtos e experiências não convencionais em seu esforço de “educar” o público.
Por ser um rosto famoso à frente da marca, Paltrow vem sendo alvo fácil. “Tenho uma admiração incrível por ela, porque está disposta a se colocar em lugares difíceis. Pessoalmente, não sei se teria coragem de ser criticada nessa intensidade”, comenta Michaela Boehm.
“Quando Gwyneth decidiu ficar consciente, de verdade, sobre o distanciamento entre casais e todas essas coisas, todo mundo ficava revirando os olhos, todo mundo ficava ridicularizando. Mas agora você olha e as pessoas estão realmente mais dispostas a aceitar que poderia haver situações de coparentalidade e famílias misturadas que são muito mais funcionais. Em grande parte, foi por isso que ela se expôs”, defende Boehm.
NEGÓCIO
Sim, a série quer educar e empoderar, mas também é um negócio. O site do programa destaca dois novos produtos da goop: um vibrador e um suplemento de libido feminina.
“Inculcaram nas mulheres a ideia de que não merecemos pedir essas coisas, e acho que isso realmente nos atrapalha”, afirma Paltrow. “O tema sexo é ótima maneira de usar uma escavadeira para tentar quebrar tudo isso, pois é uma coisa que todas nós fazemos, algo que realmente nos conecta a nós mesmas”, garante.
“GOOP: MUITO ALÉM DO PRAZER”
Série em cartaz na Netflix
Entre ovos vaginais de jade e fake news
Desde 2020, a Netflix exibe no Brasil os seis episódios de outra atração, “goop lab com Gwyneth Paltrow”, alvo de muita polêmica. O título remete à marca pertencente à atriz, famosa por vender produtos caros como “adesivos com poder de cura” e “ovos vaginais”, para, respectivamente, “equilibrar a energia das pessoas” e “equilibrar hormônios femininos”.
Ao acessar a série na plataforma de streaming, lê-se: “Gwyneth Paltrow e a equipe do goop exploram drogas psicodélicas, manipulação de energias, mediunidade e outras terapias alternativas (e polêmicas)”.
Tudo começou com uma newsletter assinada por Gwyneth e voltada para lifestyle. Posteriormente, a atriz abriu a goop, que se transformou em potência do mercado norte-americano do bem-estar, reunindo empresa de beleza, portal de notícias relacionadas à saúde, editora e produtora de podcasts, entre outros segmentos.
Entre os produtos da goop, chamaram a atenção uma vela com “cheiro de vagina” e impulsionadores da libido feminina em capsulas à base de feno-grego e extrato de açafrão. Têm freguesia garantida, tanto é que a empresa apresentou resultado da ordem de US$ 250 milhões em 2018, segundo a imprensa norte-americana.
Médicos acusam a atriz e empresária de autoajuda de lucrar com “pseudociência”. Especialistas respeitados como Simon Stevens, que comanda o NHS, serviço de saúde pública na Inglaterra, disse que a série “good lab” espalha “desinformação” e divulga “produtos duvidosos e procedimentos suspeitos de bem-estar”.
Os “ovos vaginais” de jade e quartzo rosa renderam à empresa da atriz multa de US$ 145 mil. O Departamento de Proteção ao Consumidor da Califórnia acusou a marca de lucrar com informações não científicas.
“Embora o termo fake news leve a maioria das pessoas a pensarem em política, a preocupação natural com a própria saúde e, especialmente, com a de seus entes queridos torna esse terreno particularmente fértil para charlatães, impostores e excêntricos”, advertiu Simon Stevens ao comentar o “caso goop” durante evento acadêmico realizado em 2020