Jornal Estado de Minas

CINEMA

Trauma do abuso infantil inspira o filme de terror 'Espíritos obscuros'

Em “Espíritos obscuros”, o verdadeiro monstro é o trauma. Dirigido por Scott Cooper e produzido por Guillermo Del Toro, o filme usa antiga lenda indígena para criar uma grande alegoria sobre a mente da pessoa que sofre abusos cometidos por familiares dentro de casa. O enredo é baseado no conto “The quiet boy”, de Nick Antosca.





A professora Julia Meadows (Keri Russell) tem de lidar com circunstâncias obscuras ao se aprofundar no ambiente familiar de seu aluno Lucas Weaver, de 12 anos, interpretado por Jeremy T. Thomas.

Julia recebe a ajuda do irmão, Paul (Jesse Plemons), para enfrentar uma criatura que só era considerada real nos mitos cultuados por nativos do Oregon, nos Estados Unidos.

A principal ameaça vem da figura folclórica norte-americana conhecida como Wendigo. O ser maligno é conhecido por se alimentar de seres humanos, proteger a floresta, seu hábitat, e por ser eterno, sempre buscando novos hospedeiros para continuar o próprio legado.

O suspense é construído em torno do monstro. Fato que o torna o principal foco de sustos, mas não em vilão ou a ameaça crescente para os personagens.

O verdadeiro vilão é outro. Todos os personagens têm como forte traço de personalidade o histórico de abusos na infância. Julia e Paul têm no pai a figura traumática. O pai também é o problema de Lucas, pois tem ligação direta com Wendigo e coloca em risco o irmão caçula da criança, Aiden (Sawyer Jones).



Criatura mitológica aterroriza a professora Julia Meadows, interpretada por Keri Russell (foto: Fox Film/divulgação )

As relações familiares são o destaque deste filme. Julia, Paul, Lucas e Aiden protagonizam cenas de muita verdade. Enfrentam traumas que fazem o espectador mergulhar num passado que mereceria mais destaque no longa.

As relações do irmãos são críveis, profundas. Contudo, por ser um longa de terror, em alguns momentos abre-se mão de explorar boas camadas dos personagens para priorizar a ação e os sustos. Diverte, mas não mais do que isso.



As atuações chamam a atenção, principalmente de Jeremy T. Thomas e do núcleo infantil. O jovem ator imprime emoção aos poucos momentos em que fala. Transmite apenas com o olhar o sentimento difícil de uma criança que sofre abuso e vive em um lar problemático.

Os outros garotos, como Aiden (Sawyer Jones), também entregam mais do que o esperado, embora com menos destaque na trama.

“Espíritos obscuros” é um filme de terror interessante, sobretudo para quem gosta de cenas gráficas e personagens mitológicos.

Com potencial para o segundo longa, a produção chama a atenção por abordar, por meio da alegoria, um problema delicado e recorrente. O monstro pode estar mais perto do que se imagina, até mesmo dentro de casa.




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