Nelson Freire se apresentou em Belo Horizonte em outubro 2019, em três recitais no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Os recitais foram realizados poucos meses antes da chegada da pandemia do novo coronavírus e portanto, foram algumas das últimas oportunidades de o público assistir ao gênio da música clássica que
morreu aos 77 anos, nesta segunda-feira (1º/11), no Rio de Janeiro.
Outro momento de celebração da grandeza do músico mineiro, natural de Boa Esperança, ocorreu, em 2015, quando ele recebeu a outorga do título de doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma proposição de Celina na época docente da universidade. "Podemos rememorar com orgulho o fato desta honraria ter sido prestada em vida, com a presença do homenageado, que nos agradeceu com um recital", destaca.
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Muito admirado por Celina, Nelson é descrito como "uma pessoa simples, de poucas palavras, mas que dizia muito com o olhar". A mesma admiração despertado em um dos nomes mais importantes das artes em Minas, a pianista Berenice Menegale, que o conheceu em 1959 em Viena, ele com 15 anos e ela com 25. Ainda adolescente, Nelson se mudou para a capital da Áustria para estudar, depois de vencer um concurso no Rio de Janeiro que revelou o talento. Naquela temporada na capital mundial da música clássica, Nelson se tornou amigo da pianista argentina e suíça Martha Argerich, lenda da música clássica.
"Nelson foi um artista excepcional, fora do comum", destaca Berenice. O sucesso para Nelson veio cedo, com apresentações em todo o mundo. "Ele era um grande artista. Foi um grande virtuose, mas não tinha isso como principal foco. A musicalidade dele era muito mais forte. Ele é dessas exceções: pianista que é, ao mesmo tempo, virtuose, mas é principalmente um artista", completa.
A Orquestra de Câmara do Sesiminas acompanhou Freire em uma turnê. O maestro Marco Antonio, ex-regente da orquestra, destaca como Nelson, além de ser um pianista extraordinário, era uma excelente pessoa. "Nelson Freire é um dos melhores músicos que pude assistir em minha vida. Figura na mesma constelação de intérpretes do nível dos também pianistas Claudio Arrau, Martha Argerich e Daniel Barenboim", afirma o maestro.
A grandeza não se limitava à qualidade da música que fazia: se estendia também à esfera pessoal, o que tornava os ensaios leves e descontraídos, conforme o maestro se recorda.
Os 70 anos de Nelson Freire, em 2014, foram celebrados em concerto com a Filarmônica de Minas Gerais, "um dos mais queridos e frequentes colaboradores e apoiadores da nossa orquestra", conforme o maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da filarmônica.
Mechetti destaca que a musicalidade ímpar o distinguiu no cenário da música clássica internacional. "Foi celebrado em todo o mundo pela hipnotizante maneira com que se utilizava de seu melhor amigo, o piano, para expressar os mais profundos sentimentos, fossem eles de alegria, como nas suas legendárias interpretações de Ravel ou nas inúmeras obras de Villa-Lobos, que tanto ajudou a popularizar, quanto na mágica intimidade sonora que conquistava nas suas leituras de Chopin, Schumann e Beethoven."
Fabio Mechetti define que a identidade artística era uma extensão absoluta de sua própria personalidade: "simples, contida, nada presunçosa, vivendo para a sua arte, para o seu público". A maneira com a qual se apresentava conquistou seguidores e admiradores, elouquência das mãos e carga emocional latente.