O pianista Nelson Freire morreu na madrugada desta segunda-feira dia 1º, aos 77 anos. Como legado, deixou um trabalho celebrado por seus pares, pela crítica especializada e pelo público. Também teve sua história registrada no documentário Nelson Freire, de 2003, de João Moreira Salles . Disponível no serviço de streaming Globoplay, o longa-metragem acompanha a rotina de turnês e a memória dos primeiros acordes ao piano.
"Os documentários que eu vinha fazendo até então tratavam de desordem, de violência e de desagregação. Tive vontade de filmar o contrário daquilo e Nelson foi o caminho", conta João Moreira Salles em depoimento enviado ao Estadão.
No filme, há momentos com Nelson Freire
filmados
em São Paulo, no Rio de Janeiro, na França, na Bélgica e até mesmo na Rússia - são mais de 70 horas de material gravado depois de João acompanhar o pianista por dois anos.
A seguir, confira o depoimento completo de João Moreira Salles enviado ao Estadão.
"Os documentários que eu vinha fazendo até então tratavam de desordem, de violência e de desagregação. Tive vontade de filmar o contrário daquilo e Nelson foi o caminho. Ele encarnava valores de um humanismo essencial a todo projeto de civilização decente - a transmissão da beleza, o imperativo moral do trabalho bem feito, a recusa a toda vulgaridade e espalhafato. Um presidente que tira a máscara de um bebê e força uma criança a fazer uma arma com as mãos é uma imagem verdadeira e poderosa do país. Mas não é a única. Nelson Freire (o pianista, não o filme) representava e representa - nos discos, nos registros dos concertos, na vida discreta que levou - uma outra face do Brasil o lado capaz de nos salvar. Seu talento não está ao alcance de maioria de nós, mas a honradez, sim".