Diretor-geral do Galpão Cine Horto, Chico Pelúcio diz que, diante da perspectiva de uma necessidade de isolamento social duradoura, os projetos do centro cultural no Bairro Horto foram reorganizados de forma a tornar possível o edital, que, assim como a mostra, foi chamado de Reencontro.
“Em primeiro lugar, a intenção com aquele edital era pagar antecipadamente os espetáculos que seriam selecionados, para ser uma verba de apoio. Em segundo, pensamos em criar um fato simbólico para marcar a volta do público, o que, naquele momento, a gente imaginava que poderia ocorrer em outubro ou novembro do ano passado. Em terceiro lugar, quisemos dar uma cutucada no poder público, no sentido de que era preciso agir para dar um suporte à cena teatral de Belo Horizonte, um apoio à sobrevivência dos artistas da cidade”, afirma.
Feita a seleção dos 10 espetáculos, com base na qualidade do que foi apresentado e no desejo de que fosse uma mostra representativa do que vinha sendo produzido na cidade, conforme aponta Chico, o Cine Horto combinou com os grupos e artistas que o evento aconteceria quando fosse possível.
“Essa combinação se deu em agosto ou setembro do ano passado, quando a gente ainda não tinha nenhum horizonte de melhora da situação da pandemia. Agora, finalmente, chegou o momento”, aponta.
"Esse encontro agora é para nos vermos, conversarmos, trocarmos e nos planejarmos para enfrentar 2022, porque não está fácil. Se no âmbito municipal e estadual a gente está meio esquecido, na esfera federal estamos sendo literalmente perseguidos"
Chico Pelúcio, diretor-geral do Galpão Cine Horto
PACTO
Ele considera que a Mostra Reencontro representa a perspectiva de se renovarem as esperanças e propor um pacto coletivo e colaborativo para uma retomada mais efetiva do fazer teatral na cidade. Chico observa que, mesmo antes da chegada da pandemia, o teatro profissional já vinha atravessando um momento de abandono por parte do poder público.
Segundo ele, grupos e produtores que têm o teatro como principal atividade profissional já estavam “a ver navios” – uma situação que se agravou drasticamente a partir da adoção das medidas restritivas de combate à COVID-19.
“Esse encontro agora é para nos vermos, conversar, trocar e nos planejar para enfrentar 2022, porque não está fácil. Se no âmbito municipal e estadual a gente está meio esquecido, na esfera federal estamos sendo literalmente perseguidos. A Secretaria Especial de Cultura do governo federal boicota a Lei Rouanet. Nunca passamos por um período tão difícil, porque dependemos dela. Estamos nas amarras da burocracia, que nos impede de usar um dinheiro nosso que já está em conta”, diz.
Durante todo o período da mostra, o Galpão Cine Horto abrigará a Ocupação Rômulo Bruzzi (1963-1993), uma homenagem ao artista plástico e cenógrafo belo-horizontino que produziu intensamente nos anos 1980 e início dos 1990, criando cenários de importantes espetáculos da época, como “Álbum de família”, do Grupo Galpão, “Por um triz”, do Teatro Andante, e “Anjos e abacates”, de Eid Ribeiro.
“Rômulo foi cenógrafo do Galpão durante um tempo, e era também artista plástico. A gente ganhou da família, no meio da pandemia, duas telas grandes dele. Retomei um pouco o contato com essa obra, que está toda guardada em um depósito. Por meio do Centro de Pesquisa e Memória do Teatro do Galpão Cine Horto, a gente organizou essa mostra, junto com Tereza Bruzzi, que é prima dele, como uma homenagem”, conta Pelúcio.
A exposição reúne 13 obras, entre telas e esculturas. A intenção é ampliar a mostra também para os trabalhos cenográficos do artista, no ano que vem.
Estão previstos ainda na programação da Mostra Reencontro os lançamentos dos livros “Exília”, de Juliana Pautilla, que apresenta a peça homônima no dia 19, e “Reflexões sobre gestão e sustentabilidade de pequenos e médios espaços culturais”, de Chico Pelúcio.
“A literatura sobre gestão de equipamentos culturais quase sempre é voltada para grandes espaços, o MAM, o Itaú Cultural, o Masp, mas não tem quase nada sobre as pequenas e médias estruturas, que são as que contemplam a descentralização, a formação e a interiorização, por meio das casas de cultura que existem nas pequenas cidades, por exemplo”, diz o autor.
MOSTRA REENCONTRO DE TEATRO DE BH
Desta sexta-feira (5/11) a 28/11, no Galpão Cine Horto (R. Pitangui, 3.613 - Horto). Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia). A programação completa está disponível no site do Galpão Cine Horto.