Dois amigos conversam no quarto. O mais velho revela que tem um filho de gênero fluido. O mais novo pergunta se não tem problema, ao que ele responde: “Não sou um monstro, Jake”. A ironia da resposta é que o interlocutor mais velho é ninguém menos que Chucky, o brinquedo assassino, aquele que mata qualquer um há mais de 30 anos.
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VOZ
Criador do filme, o roteirista, produtor e diretor Don Mancini é também o criador da série (ele inclusive dirigiu o primeiro episódio). A trama mantém seu elo com o passado, trazendo pequenas sequências do serial killer Charles Lee Ray (que mais tarde encarnou no boneco) na infância, na década de 1960. A voz de Chucky é feita por Brad Dourif, o dublador dos filmes originais.
Em uma pequena cidade dos Estados Unidos, Jake Wheeler (Zackary Arthur, que teria um desempenho melhor se não fosse tão careteiro) é um garoto de 14 anos cheio de problemas. Vive sozinho com o pai beberrão e agressivo, desde a morte da mãe, uma artista, sua principal referência. Gay e sem amigos, já que os colegas o acham estranho, tem como companhias as esculturas que cria em seu quarto, a partir de bonecas.
É em busca de uma cabeça para a sua maior escultura que ele compra, numa feira de usados, um boneco Cool Guy (a marca original do Chucky). Leva-o para a casa e sua vida nunca mais será a mesma, já que Chucky vai deixar um rastro de mortes na cidadezinha, envolvendo Jake nos casos.
A premissa de Chucky é ser fiel ao seu dono até o fim. E é o que ele faz com Jake, assim que se revela para o garoto. Em casa, o menino sofre com o pai, que não admite ter um filho gay. Na escola, a sua sexualidade é menos uma questão do que as manias de bonecas do garoto, que acaba indo para as aulas com Chucky – e isso, claro, não vai se revelar nada bom, como uma sequência em que os alunos têm que dissecar um sapo.
HIPOCRISIA
A narrativa tem início às vésperas do Halloween, e quem narra é Devon Evans (Bjorgvin Arnarson), um garoto gay que tem um podcast e é o interesse romântico de Jake. Como toda produção jovem americana, não faltam os estereótipos, como a loirinha popular que se finge de boazinha, mas pisa em Jake. Chucky vai fazer justiça com as próprias mãos – seja matando aqueles que estão no caminho dele e de seu dono, seja expondo publicamente as hipocrisias dos moradores da cidade.
Bem-humorada, com muitas referências pop e ao passado do personagem, “Chucky” não se recusa a fugir do trash de sua origem. As cenas são bem exageradas, e o protagonista assassino aparece onde menos se espera – não tenha a expectativa de muita continuidade. Mas também estamos falando de uma história de um boneco assassino, então vale tudo, certo?
“CHUCKY”
Série em 10 episódios no Star . Os dois primeiros estão no ar – lançamentos semanais, sempre às quartas