Quando se fala de Legião Urbana, logo vêm à mente os nomes de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que gravaram todos os discos da banda. Caíram no esquecimento o baixista Renato Rocha, o Negrete (1961-2015), e Kadu Lambach, o Paraná, primeiro guitarrista do grupo.
A partir de depoimentos do músico, compositor e arranjador paranaense, o livro revela a trajetória artística de Lambach. Pré-adolescente, ele foi morar com a família em Brasília no final da década de 1970. Fez muitos amigos, principalmente no Colégio Marista, onde estudou – entre eles Dinho Ouro Preto, que se tornaria depois vocalista da banda Capital Inicial.
Aborto
Antes de se juntar a Renato Russo, Marcelo Bonfá e ao tecladista Paulo Paulista na Legião Urbana, logo depois do fim do grupo Aborto Elétrico, Lambach ouvia, em fitas cassete, o rock do Rolling Stones, Black Sabbath e Queen, o pop de Guilherme Arantes e 14 Bis, além da MPB de Vinicius de Moraes e Toquinho.
Depois de ouvi-lo tocar no grupo instrumental Boca Seca, Renato Russo o convidou a se juntar à Legião, em 1982. A curta permanência na banda de Lambach, dono de boa formação musical, é atribuída ao fato de ele não ter se adaptado à estética punk dos três acordes.
“Quem um dia irá dizer que Kadu (apelido dado a ele no período em que morou em Brasília) faria parte da maior banda de rock do nosso país? Fui proibida pelo Renato de fazer amizade com o menino bonito de franjinha lisa. Ele me privou também da convivência com a 'tchurma' da Colina. Irmão autoritário e protetor”, lembra Carmen Teresa Manfredini, no prefácio do livro.
“O talento de Kadu era – e ainda é – muito mais do que os três acordes da estética punk. Neste livro, ele conta parte dessa trajetória, a de sua entrada como primeiro guitarrista da Legião Urbana, marcando seu nome na história do rock nacional. Ele não possui somente a técnica aprimorada ao tocar, mas, igualmente, sensibilidade e conhecimento, ao se enveredar por diversos estilos e caminhos musicais”, acrescenta Carmem Manfredini.
Após deixar a Legião, o guitarrista acompanhou Belchior, Baby do Brasil e Olívia Hime, entre outros. Tocou com o grupo de jazz Aria Tribo. E chegou a gravar com o lendário baixista norte-americano Stanley Clarke, além de lançar, na década de 1990, o bem avaliado LP “Last blues”.
“Música urbana – O início de uma Legião” traz documentos que Kadu Lambach guardou consigo ao deixar o grupo, como o projeto de banda escrito em tom poético por Renato Russo, além de letra inédita do compositor, “Dois corações”.
''Quem um dia irá dizer que Kadu faria parte da maior banda de rock do nosso país? Fui proibida pelo Renato de fazer amizade com o menino bonito de franjinha lisa''
Carmen Teresa Manfredini, irmã de Renato Russo, no prefácio do livro
TURNÊ
Musicada pelo guitarrista, que a gravou, “Dois corações” resultou de uma reportagem sobre a venda de carne clandestina, em Ceilândia, na época em que Renato, estudante de comunicação do Ceub, estagiou no Ministério da Agricultura. Um dos versos diz: “Eu quero sua carne/ Qual é o seu preço/ Eu quero também o seu endereço”.
Kadu Lambach se mantém-se em plena atividade em Curitiba, onde voltou a morar. Além de compor e desenvolver projetos, tem feito apresentações tocando blues, jazz e pop rock. Para 2022, quando se completam os 40 anos da banda que ajudou a formar, ele anuncia turnê nacional, com o show “Kadu Lambach: Origem Legião”.
MÚSICA URBANA – O INÍCIO DE UMA LEGIÃO
• De André Luiz Molina
• R$ 49,90
• Informações: www.eduardoparana.com.br