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Estado de Minas DANÇA

Conheça os casais do Grupo Corpo que realizam os pas-de-deux de 'Primavera'

Nova coreografia da companhia de dança mineira foi criada durante a pandemia e escala bailarinos que são casados para trechos em que há contato físico


10/11/2021 04:00 - atualizado 10/11/2021 11:11

Bailarina Mariana do Rosário deita a cabeça no ombro de Elias Bouza
Mariana do Rosário e Elias Bouza fazem o último pas-de-deux de 'Primavera'. Coreografia terá sua primeira apresentação para o público em BH nesta noite, no Palácio das Artes (foto: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO)

Dividir o trabalho e a vida não é novidade para os integrantes do Corpo. Vários casais já se formaram (alguns se desfizeram) nos 46 anos de trajetória da companhia de dança mineira. 

Entre os seus atuais 18 bailarinos, o grupo tem três casais, que serão vistos nos únicos pas-de-deux de “Primavera”, espetáculo concebido durante a pandemia do novo coronavírus, que estreia nesta quarta-feira (10/11), em Belo Horizonte.

O coreógrafo Rodrigo Pederneiras não costuma colocar sempre casais juntos em pas-de-deux. Mas, com a crise sanitária, não poderia ser diferente, já que a montagem, com trilha do Palavra Cantada – de Sandra Peres e Paulo Tatit, que são uma dupla, não um casal – começou a ser trabalhada antes do início da vacinação.

Dessa maneira, os únicos momentos do espetáculo onde há um encontro de corpos são nos pas-de-deux, protagonizados pelos casais Ágatha Faro e Lucas Saraiva (que abrem a montagem, apresentando-se logo na segunda música), Karen Rangel e Rafael Bittar (que dançam em duo no meio do espetáculo) e Mariana do Rosário e Elias Bouza (que encerram “Primavera”). 

A reportagem ouviu os três casais. Felizes todos estão com o retorno aos palcos e a possibilidade de encontro com o público, após quase dois anos de ausência. A oportunidade de dividir um momento único com o (a) parceiro (a) de vida também é motivo de comemoração. Igual não pode ser – e estranho seria se fosse.

. Mariana do Rosário e Elias Bouza  

Não foi apenas com a impossibilidade de trabalhar nos moldes de sempre que Mariana do Rosário e Elias Bouza tiveram que lidar no último ano e meio. Quando a crise sanitária começou, a filha do casal, Nina, estava com pouco mais de 2 anos, uma fase nada fácil. Ainda mais para uma criança que, aos quatro meses, foi para a creche.

“Pânico geral, ainda mais porque ela, desde criança, estava super habituada a conviver com gente, sair na rua, abraçar, pegar. E foi tudo tirado dela, fora que éramos nós dois trabalhando com dança. O que vai acontecer com a gente? Como iríamos sobreviver?”, lembra Mariana, sobre a fase inicial. Houve dificuldades, mas também aprendizado.

Juntos há 12 anos, Mariana, carioca de 39 anos, há 16 no grupo, e Elias, cubano de 43, sendo 23 de Brasil e 15 de Corpo (teve uma primeira passagem de 2000 a 2003 na companhia e voltou em 2009), encerram “Primavera” com um pas-de-deux diferente. “É muito mais calmo, lento, é outro tipo de trabalho”, conta ela. 

Para Mariana, a temporada paulistana reafirmou a importância do encontro entre artistas e seu público. “Quando abriu a cena, já estava todo mundo da plateia batendo palma – e a gente batendo palma na coxia. Mais do que uma estreia, ‘Primavera’ é um trabalho de resistência, de uma companhia particular que sobreviveu.”

Veteranos no grupo, os dois fizeram poucos pas-de-deux juntos. “O Rodrigo (Pederneiras) não gosta de mexer muito com casal, pois é muita intimidade”, comenta ela, que se tornou a primeira professora dos workshops on-line do Corpo, função que dividiu com o marido. 

Formado na Escola Nacional de Arte, em Cuba, Elias, por seu lado, tornou-se recentemente o professor de balé clássico dos colegas. E da mulher. “Antes da pandemia, eu já dava aulas particulares e para outros grupos. Aí surgiu a oportunidade de dar aula para o grupo”, conta ele. 

Mariana conta que, nesta hora, a intimidade fala bem alto. “Ele me corrige diferente”, diz ela. Elias, com humor, completa: “Às vezes nem consigo corrigir. Melhor não falar nada, pois pode sobrar para mim.”

Bailarinos Karen Rangel e Rafael Bittar, lado a lado e de braços dados, erguem uma das pernas
Karen Rangel e Rafael Bittar dançarão juntos a coreografia pela primeira vez, em BH. Uma lesão tirou o bailarino da estreia em São Paulo, no mês passado (foto: EDÉSIO NUNES/DIVULGAÇÃO)

. Karen Rangel e Rafael Bittar

Ainda que “Primavera” tenha estreado no fim de outubro, em São Paulo, para Rafael Bittar, de 30 anos e 10 de Corpo, e Karen Rangel, 29 de vida e quatro e meio no grupo, a estreia se dá efetivamente em Belo Horizonte. 

Já nos ajustes finais do espetáculo, Rafael fraturou o quinto metatarso do pé direito. Teve que ficar de molho e só voltou a ensaiar há duas semanas – também por isso, ficou de fora das fotos oficiais da montagem, feitas por José Luiz Pederneiras.

“Voltar dentro de casa tem um gostinho melhor. E, depois de parados por dois anos, retornar com sua parceira tem um significado especial”, afirma ele. Rafael e Karen fazem o pas-de-deux do meio do espetáculo. 

“Em São Paulo, eu dancei com o Lucas (Saraiva). Mas agora, com o Rafa, é tudo novo, pois o tamanho do homem é diferente, a energia é outra, então o pas-de-deux também é feito de outra forma”, comenta ela.

Ele, mineiro; ela, carioca, os dois começaram o relacionamento há quase três anos, pouco depois do espetáculo “Gira” (2017), em que também fizeram um dueto – não estarão juntos nesta remontagem, já que Rafael ainda tem que pegar leve no retorno aos palcos, por causa de sua lesão. 

“Para dançar um pas-de-deux você precisa de concentração e intimidade. O grau de intimidade de dançar com quem você vive traz faíscas, mas você pode cobrar e se colocar mais”, continua Karen.

Na pandemia, o casal também exerceu junto outra função. Os dois começaram a trabalhar nos projetos on-line do Corpo para além da dança. Karen apresentou várias lives, e Rafael fez todas as transmissões. 

“Karen e eu sempre tivemos interesse em tecnologia, mas entramos nesse projeto sem saber nada, apanhando um pouco, e fomos adquirindo know-how”, conta ele. Hoje, além de Rafael ser o responsável pelas transmissões, Karen passou a atuar também nas redes sociais do Corpo. 

Bailarino Lucas Saraiva segura a cintura de Agatha Faro
A carioca Agatha Faro e o paulista Lucas Saraiva se conheceram no Corpo. Ele diz que dançar 'Primavera' no reencontro com o público traz 'um misto de sensações' (foto: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO)

. Ágatha Faro e Lucas Saraiva

A responsabilidade é grande, já que o casal faz o primeiro dos três pas-de-deux de “Primavera”. “É um desafio, pois, depois de quase dois anos sem encontrar o público, a coreografia traz um misto de sensações. E ainda tem a cobrança pessoal, de realizar bem uma coisa que você está ensaiando há um ano. Não pode ser meia-boca”, comenta Lucas Saraiva.

Paulista de 32 anos, ele chegou ao Corpo há oito; a carioca Ágatha Faro, de 28, está há cinco na companhia, os quatro últimos ao lado de Lucas. Os dois já fizeram alguns pas-de-deux em montagens do grupo e sabem bem  como funciona. 

“Quando você está sozinha, se acontece alguma coisa dá seu jeito. Com outra pessoa, tem que estar 100%. Agora, com o Lucas, ele já me entende só no olhar”, diz Ágatha.

O aprendizado no último ano e meio foi grande, eles comentam. Na primeira fase da pandemia, eram os dois em casa, os móveis da sala em um canto e uma série de exercícios (ioga, cárdio) para não ficar parado.“Tivemos que buscar alternativas para não deixar o corpo estagnar. Foi um baita desafio nos manter saudáveis, manter a forma e a excelência”, conta Lucas.

Passados os primeiros meses da crise sanitária, o Corpo colocou barras nas casas de todos os bailarinos. “Mas, no fim das contas, fizemos as aulas (on-line) apoiados no puff, segurando no corrimão da escada. Era do jeito que dava”, diz Ágatha. Ela comenta da estranheza inicial de voltar a trabalhar na sede do grupo. “No nosso trabalho, dependemos uns dos outros, sempre fizemos aula em conjunto. Quando voltamos, as aulas eram em  separado”, descreve.

Essa separação mudou também a montagem de “Primavera”. “Normalmente, é a companhia inteira criando com o (coreógrafo) Rodrigo (Pederneiras). Agora, foi individual, de acordo com cada música”, diz ela. 

Mas, com o avanço da vacinação, o processo foi se alterando. “Tomamos todos os cuidados, mas hoje, com todos vacinados, a companhia está bem mais junta”, diz Ágatha.

GRUPO CORPO


Espetáculos “Primavera” e “Gira”. Estreia nesta quarta (10/11), às 20h30, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Apresentações até 14/11, de quarta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h. Ingressos: Plateias 1 e 2: R$ 150 e R$ 75 (meia); Plateia superior: R$ 120 e R$ 60 (meia). À venda na bilheteria do Palácio das Artes e no site Eventim.


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