Tudo novo de novo e, espera-se, com o mínimo possível de contratempos. A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais lança nesta semana sua temporada de 2022 (a 15ª) e, simultaneamente, abre a venda de assinaturas. “Nossa grande aposta é que tenhamos uma temporada mais próxima da realidade de dois anos atrás”, afirma o maestro e diretor artístico Fabio Mechetti.
A estrutura é a mesma de anos anteriores. As cinco séries de assinatura – Presto e Allegro (às quintas-feiras), Veloce e Vivace (às sextas) e Fora de Série (aos sábados) – totalizam 57 concertos, de fevereiro a dezembro de 2022. Na programação, junto ao corpo de 90 instrumentistas, estarão regentes e solistas convidados, nacionais e internacionais.
“Primeiramente reconvidamos aqueles que não puderam vir nos dois anos anteriores por causa da pandemia”, comenta Mechetti. Pelo menos 60% dos convidados são nomes que foram impedidos de tocar em 2020 e 2021, como o pianista carioca Arnaldo Cohen, o violinista israelense Vadim Gluzman, o violinista e regente cubano Andrés Cárdenes, a pianista mexicana Daniela Liebman e a violoncelista israelense Danielle Akta.
“A maioria deles vai apresentar um repertório diferente (do proposto nas apresentações canceladas), pois embora eles não tenham tocado (na data original), encontramos substitutos e mantivemos a programação”, explica Mechetti.
"Nossa grande aposta é que tenhamos uma temporada mais próxima da realidade de dois anos atrás"
Fabio Mechetti, maestro e diretor artístico da Filarmônica de Minas Gerais
EFEMÉRIDES
O momento é de olhar para frente, mas prestando contas ao passado. Duas importantes datas históricas nacionais serão celebradas. A agenda de 2022 começa com a comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna. Em 10 e 11 de fevereiro Mechetti rege a Filarmônica com um repertório brasileiro e a participação do violonista paulista Fábio Zanon.
As duas noites terão “Introdução aos choros”, de Heitor Villa-Lobos, além de peças de Francisco Mignone (“Concerto para violão”) e Carlos Gomes (aberturas de “Salvator Rosa”, “A noite do castelo”, “Fosca” e “O Guarani”). “Do ponto de vista musical, a Semana de 22 fez um alarde maior do que foi, pois Villa-Lobos foi o único compositor que participou. Mas as consequências de 22 se manifestaram fortemente nos anos seguintes. Mignone foi muito influenciado”, comenta o maestro.
Carlos Gomes, que morreu no final do século 19, foi incluído também porque na semana seguinte à abertura da temporada a Filarmônica grava suas obras para o projeto “Brasil em concerto”, parceria com o Itamaraty e o selo internacional Naxos que prevê o lançamento de 30 álbuns de 100 compositores brasileiros.
A outra grande efeméride do próximo ano é o bicentenário da Independência do Brasil. Abrindo o mês de setembro dois concertos vão celebrar a música de Villa-Lobos e Carlos Gomes com peças bastante conhecidas, como as “Bachianas brasileiras nº 3”, do primeiro, e trechos de “O escravo”, do segundo. Dividindo a noite estarão peças do português Joly Braga Santos.
D. PEDRO I, COMPOSITOR
Os 200 anos do “Independência ou morte” terão outra celebração, mas fora do programa de assinaturas. Também pelo selo Naxos a Filarmônica grava em fevereiro obras do autor da célebre frase. D. Pedro I tocou vários instrumentos e também foi compositor. Seu feito autoral mais conhecido é o “Hino da Independência” (com letra de Evaristo da Veiga).
“Ele compôs um número razoável de obras. Não diria que são obras-primas, mas acho um exemplo interessante de um líder político que também compunha. Na época não era novidade. Na Alemanha, Áustria, havia reis e regentes também artistas. Confesso que não conhecia algumas delas”, afirma Mechetti. A Filarmônica vai gravar obras religiosas de D. Pedro 1, além do hino.
Além das duas datas supracitadas, haverá também aniversários (de nascimento ou morte) de 12 compositores. Desta maneira, o repertório vai se debruçar sobre a obra de Schubert (225 anos de nascimento), Brahms (125 anos de morte) e Mendelssohn (175 anos de morte). Na lista há dois brasileiros, o carioca Lorenzo Fernández e o paulista Franciso Mignone (ambos nascidos 125 anos atrás).
Com todos os músicos vacinados, a Filarmônica já poderá se apresentar integralmente na Sala Minas Gerais. “Com os novos protocolos a partir da próxima semana vamos subir o número de músicos no palco, de 50 para 65, 70. A ideia é diminuir o distanciamento e os acrílicos que separam os sopros. Para o ano que vem a ideia é vir com força total.”
Uma das obras selecionadas para o repertório que exigirá muito dos instrumentistas (e é uma novidade para a Filarmônica) é a “Sinfonia alpina”, de Strauss, programada para dezembro do próximo ano. “É um repertório que pretendia fazer há muito, uma sinfonia bonita, com orquestra de 100 pessoas”, continua Mechetti. O programa será dividido com a “Sinfonia tropical”, de Mignone.
ASSINATURA DIGITAL
A atividade digital, que manteve a Filarmônica ativa e próxima, ainda que remotamente, de seu público no período mais duro da pandemia, será mantida, mas com parcimônia. O regente diz que haverá concertos que serão transmitidos on-line, mas em número menor. “Estamos pensando em fazer uma assinatura digital, coisa que várias orquestras do mundo estão fazendo. Visamos as pessoas que não moram em Belo Horizonte”, diz ele, acrescentando que mesmo com as atividades on-line, não há nada que substitua o presencial. “Não existe experiência melhor do que escutar música ao vivo e isto tem que ser valorizado.”
Nos quase dois anos da pandemia a Filarmônica perdeu cerca de mil assinantes – conta atualmente com 2,5 mil. Com o avanço da vacinação e a diminuição de casos Mechetti está esperançoso de que muitos voltem – e novos também cheguem. “O número de pessoas comprando ingressos avulsos tem aumentado muito. E fizemos uma programação exuberante, otimista, alegre”, finaliza.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Assinaturas para a temporada de 2022: até 28 de novembro, somente renovação de atuais assinantes; de 15 de dezembro a 27 de janeiro, serão vendidas novas assinaturas. Pacotes para nove, 12, 21, 24 ou 33 concertos. Os valores vão de R$ 405 (R$ 202,50, a meia-entrada) para nove concertos, no mezanino, até R$ 3.985 (R$ 1.992,90 a meia) para 33 concertos no balcão principal. À venda no site e na bilheteria da Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto). Informações: (31) 3219-9009