Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Shows de Alaíde Costa nos anos 1970 ganham agora a forma de disco


Prestes a completar 86 anos (no próximo dia 8 de dezembro), Alaíde Costa chega ao seu 25º disco, que ganhou o nome de “Antes e depois”. Lançado recentemente nas plataformas digitais, trata-se de uma remasterização de duas fitas de rolo de 1972 e 1974, encontradas pelo jornalista, pesquisador e produtor cultural Thiago Marques Luiz e depois digitalizadas e restauradas pelo engenheiro de som Anderson Cesarini.





Alaíde, que reside há décadas na capital paulista, conta que as gravações feitas nos Estúdios da Rádio Eldorado, em São Paulo, ainda estavam praticamente perfeitas e, por isso, a recuperação técnica de ambas não foi difícil. O álbum traz 14 faixas e o repertório é baseado no roteiro dos shows feitos por ela na época, com clássicos de Astor Piazzolla, Milton Nascimento e Gerson Nogueira, entre outros.

Além desse trabalho realizado em parceria com os selos dos produtores Marcelo Fróes (Discobertas) e Thiago Marques Luiz (Nova Estação), Alaíde conta que está gravando no estúdio Space Blues, em São Paulo, um disco com produção musical do rapper paulista Emicida, que pretende escrever a maior parte das letras, e do produtor musical Marcus Preto. 

“Nesse álbum, canto músicas inéditas de vários compositores da MPB, entre eles, Francis Hime, Guinga, Ivan Lins, João Bosco, Joyce Moreno e Marcos Valle. Eles enviaram melodias lindas, e Emicida fará as letras.”





Guinga


Quanto ao disco “Antes e depois”, Alaíde ressalta que um fato interessante nas gravações das fitas encontradas é a presença do cantor, compositor e violonista carioca Guinga, um dos integrantes da banda A Peça, que a acompanhava na época. Ele também contribui com a canção “Mariana”. “Guinga, praticamente, começou a tocar profissionalmente comigo”, orgulha-se a artista.

“O título do CD foi tirado da música ‘Antes e depois’, sexta faixa do álbum, música de Oscar Castro Neves que não tem letra, é só solfejada. Ele era o meu favorito da turminha da bossa nova, com exceção de Tom Jobim, é claro. Cantei muito as canções dele”, comenta.

Alaíde conta que Thiago trabalhou uma temporada na Eldorado e, mexendo nos arquivos lá, localizou duas fitas dela, de programas que havia gravado na rádio. “De repente, ele teve a ideia de propor para o Marcelo Fróes lançar em CD, porque o som das gravações estava muito bom, e as músicas, maravilhosas, como sempre gostei de escolher, apresentando muita gente nova na época.”





Além de Guinga ao violão, integravam A Peça José Luís “Neco” de Souza (piano, arranjos e direção musical), Edmundo Barcelos (bateria), Milton Botelho (baixo), Raimundo Nicioli (guitarra) e Kim Ribeiro (flauta). “Se não me engano, acho que dessa turma somente o Guinga e o Raimundo seguiram a carreira musical”, diz Alaíde.

Ela conta que foi ela quem definiu o repertório das apresentações para a Rádio Eldorado. “Incluí duas de Astor Piazzolla (1921-1992), que adoro”. Com seu timbre único e voz impecável, a cantora interpreta “Fuga y mistério” e “Decarissimo”, composições complexas e de melodias difíceis e que bem explicam o título que receberia anos depois, de “Cantora dos Músicos”.



“Outra é de um compositor uruguaio chamado Rubem Rada. Certa vez fui ao Uruguai, onde tinha uma amiga, e ela me disse: ‘Você precisa conhecer esse compositor’ e me colocou para escutar o disco dele. Uma música chamada ‘Chinga chilinga’ me chamou a atenção. Passei para os meninos, que fizeram o arranjo e comecei a cantá-la em meus shows. Ela também entrou nesse disco.”





Do repertório gravado na Rádio, apenas três músicas haviam sido registradas, “‘Diariamente’” e ‘Antes e depois’, do amigo Oscar Castro Neves (1940-2013), com quem gravei em 1973 um álbum produzido por Aloysio de Oliveira. Essas duas canções foram lançadas em compacto simples, em 1972.”

A terceira foi “Serearei”, de Hermeto Pascoal, música que Alaíde defendeu no 7º Festival Internacional da Canção e que chegou a ser lançada em um LP (vinil) do próprio festival pelo selo Som Livre. As demais, gravadas nessa mesma sessão, são inéditas na voz da cantora.

Três músicas de Milton Nascimento (“Nada será como antes”, “Viola violar” e “Milagre dos peixes”) também entraram no repertório do disco, que se completa com as inéditas “Mariana” e “Última”. 





Em seu próximo aniversário, Alaíde pretende lançar outro disco. “Gravei composições de Eduardo Santhana, integrante do grupo paulista Trovadores Urbanos. O álbum já está pronto e tem cada canção maravilhosa. É um disco que saiu pelo edital do Programa de Ação Cultural (Proac) de São Paulo. O legal é que Deus não deixou que perdesse a minha voz. Continuo com a voz de uma pessoa mais jovem e isso me deixa muito feliz. Não tenho voz de uma mulher de 85 anos”, comenta.


“ANTES E DEPOIS”
Disco de Alaíde Costa
Disponível nas plataformas digitais