No número 248 da Rua Direita, em Tiradentes, havia uma placa de “vende-se”. Passeando pela cidade mineira com os pais, que nessa época viviam na Dinamarca e sempre falavam do desejo de ter um canto “romântico-histórico” no Brasil, a filha de 14 anos sugeriu: “Por que vocês não entram para ver?”.
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Adriana Rouanet tem ambições maiores. O Instituto Barbara Freitag Sergio Paulo Rouanet, organização sem fins lucrativos que está sob sua gestão, deverá realizar anualmente uma programação cultural e outra acadêmica. Também fará a edição de livros e promoverá, em cidades brasileiras e do exterior, iniciativas em conjunto com outras instituições culturais. Pretende ter um programa de bolsas de estudos voltado a pesquisadores e artistas.
ASSOCIADOS
Mas esse é um plano a médio prazo. A abertura da biblioteca está prevista para julho do ano que vem, depois que forem feitas na casa as adaptações necessárias ao seu novo uso. Até o final de 2022, Adriana espera reunir com os 150 associados dispostos a financiar o Instituto Rouanet com recursos privados o orçamento suficiente para iniciar as demais atividades.Embora seja de Sergio Paulo Rouanet a autoria da lei que instituiu um mecanismo de subvenção estatal à produção cultural brasileira, o Instituto Rouanet não tem a intenção de captar recursos via Lei Nacional de Incentivo à Cultura - na casa dos Rouanet, a lei é chamada por seu nome formal, e não pelo “apelido” do autor.
Não há impedimento legal para que o instituto lance mão da Lei Rouanet. Mas Adriana sabe que o uso do mecanismo poderia suscitar um debate capaz de desviar o foco do principal objetivo do Instituto Rouanet, que “é servir como uma espécie de âncora para se navegar os mares” da história.
Ela afirma que depreende-se da leitura de “Mal-estar na modernidade” (Companhia das Letras, 1993), uma das obras em que seu pai faz a defesa da herança iluminista, que “a alternância entre períodos de trevas e de luz” é parte do “fluxo normal do ciclo democrático”, assim como o fato de que “sempre há um pouco de trevas num momento democrático e um pouco de luz num período de trevas, nunca é preto no branco”.
Os dias de hoje, na avaliação da produtora, são majoritariamente de trevas. “Temos uma terrível pandemia que matou mais de 600 mil pessoas no Brasil. Nossa democracia está sob ameaça, nossas instituições cívicas estão sob ameaça, do ponto de vista cultural”, ela diz.
A “âncora” que o instituto pretende ser é do tipo que faz os navegantes “não se desesperarem em tempos de trevas e não se perderem na euforia em tempos de luzes”. Ainda sobre a atuação do instituto, ela afirma: “Não somos político-partidários. Defendemos causas. Somos a favor da razão, a favor do diálogo, a favor da emancipação humana. Somos contra a intolerância e contra a repressão”.
A primeira iniciativa promovida pelo Instituto Rouanet é o seminário “Barbara Freitag: 80 anos”, que reúne 13 acadêmicos em torno de quatro mesas de debate, desta terça-feira (23/11) até a próxima sexta, data do octogésimo aniversário da homenageada. Barbara Freitag, socióloga e professora emérita pela UnB, profere a conferência “Os viajantes alemães: Spix e Martius e sua visita há 200 anos ao interior brasileiro” às 10h15 de hoje.
Toda a programação será transmitida gratuitamente pelo YouTube e pela página do Instituto Rouanet. O seminário é realizado em parceria com a Universidade de Brasília e apoio da Universidade Federal de Pernambuco, Universidade de São João del-Rei e Uninove, que emitirão certificados de participação aos seus alunos inscritos.
O filósofo Luiz Paulo Rouanet, o outro filho de Sergio Paulo Rouanet, participará do ciclo com a conferência “Itinerários de Antígona: a questão da moralidade”. Professor da Universidade de São João del-Rey, ele fará “uma abordagem filosófica do tema”, tratado pelo viés sociológico no livro homônimo de Barbara Freitag, conforme diz Adriana Rouanet.
O filósofo Luiz Paulo Rouanet, o outro filho de Sergio Paulo Rouanet, participará do ciclo com a conferência “Itinerários de Antígona: a questão da moralidade”. Professor da Universidade de São João del-Rey, ele fará “uma abordagem filosófica do tema”, tratado pelo viés sociológico no livro homônimo de Barbara Freitag, conforme diz Adriana Rouanet.
BARBARA FREITAG: 80 ANOS
Seminário. Desta terça-feira (23/11) a sexta (26/11), com mesas diárias, a partir das 10h. Gratuito. Transmissão pelo YouTube e pela página do Instituto Rouanet.
CICLO DE DEBATES
Confira quem participa do seminário Barbara Freitag: 80 anos
» Angélica Madeira, doutora em ciências da linguagem, UnB/Instituto Rio Branco
» Diogo Valença de Azevedo Costa, sociólogo, Universidade Federal do Recôncavo Baiano
» Eliane Veras Soares, socióloga, Universidade Federal de Pernambuco (mediação)
» Fabrício Neves, sociólogo, UnB
» Fernanda Sobral, socióloga, UnB/SBPC
» João Almino, escritor, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras
» Luiz Paulo Rouanet, filósofo, Universidade de São João del-Rei
» Maria Francisca Pinheiro Coelho, socióloga, Unb
» Maria Salete Kern Machado, socióloga, UnB
» Mirta Zbrun, psicanalista, diretora do Centro Lacaniano de Atendimento e Consultas (RJ)
» Renato Janine Ribeiro, filósofo, professor titular da USP e atual presidente da SBPC
» Stefan Klein, sociólogo, UnB
» Wilson Levy, advogado, doutor em direito urbanístico, Uninove