Um homem de terno pega sua bicicleta e sai pedalando no meio do trânsito. Ao chegar ao destino, entrega a bicicleta a um empregado, quando é chamado pelo nome por um estranho. Esse é o início de “Casa Gucci”, dirigido por Ridley Scott, que estreia nesta quinta-feira (24/11) nas salas de BH.
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O desajeitado Maurizio é fisgado pela desinibida Patrizia Reggiani (Lady Gaga). Rodolfo o deserda e Maurizio vai trabalhar com o pai da moça, dono de uma empresa de transportes. Chega a dizer que nunca fora tão feliz. Mas Patrizia tem outros planos, bastante mais ambiciosos para si mesma e para o marido.
O enredo poderia ter sido escrito para um filme de suspense movido a rivalidades, reviravoltas e traições, chegando ao assassinato. Nessa trama, parece curioso como protagonistas do mundo moda podem se comportar como vilões de quinta categoria. Tudo se passou na vida real, como atesta o livro “Casa Gucci”, de Sara Gay Forden (Edição Seoman).
Glamour, ganância, loucura e morte são o centro da história de ascensão e decadência de uma grande marca. A questão da moda, em si, permanece bastante lateral, em proveito do verdadeiro foco de Ridley Scott: a cobiça e o desejo de reconhecimento, essa fraqueza humana por definição.
A força destrutiva da ambição passa por Patrizia, em primeiro lugar. Mas não será ela a única responsável pela catástrofe. Ela instiga o marido a trair Aldo (Pacino) e seu filho Paolo (Jared Leto). Depois, ela própria se verá vítima da sede de poder do antes desprendido Maurizio.
Não por acaso, o diretor usa trechos de óperas famosas em algumas sequências-chave. Por outro lado, introduz aqui e ali determinados alívios cômicos, em especial através de Paolo Gucci, vividamente interpretado por um Jared Leto. O estilista medíocre que tenta impor seu design à Casa.
Lady Gaga faz sua Patrizia de forma correta. Adam Driver, como sempre, está à vontade em seus tipos desengonçados. Al Pacino exibe a velha classe, embora sintamos, sob o personagem, a embocadura de Don Michael Corleone, de “O poderoso chefão”.
Carregados pela tragédia do poder que vitimou Maurizio, os Gucci passaram. Em outras mãos, a Casa Gucci permanece.