Depois de lançar quatro discos instrumentais, o violonista e compositor Thiago Delegado apresenta seu primeiro álbum de canções. “Detalhes guardados” (Tratore), que chega nesta terça-feira (30/11) às plataformas digitais, terá também um show de lançamento nesta noite, no Teatro Sesiminas, com a participação de Fernanda Takai, Nath Rodrigues e Zé Renato, parceiros de Delegado no trabalho.
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O primeiro “empurrãozinho” para tornar pública a faceta de cantor veio de Fernanda Takai, conforme conta o instrumentista. “Quando fui convidado para ser violonista da Fernanda no show ‘O Tom da Takai’, não fui para ser somente instrumentista, mas também para interpretar as músicas que Roberto Menescal e Marcos Valle cantam no disco homônimo, em dueto com ela”, conta Delegado.
“Fernanda falou: ‘Você canta também’. E topei. Até gosto de brincar que ela é a minha madrinha. Isso porque a turma do samba tem esse negócio de padrinho e madrinha. Então considero-a como minha madrinha, pois foi ela quem me colocou para cantar em seu show, inclusive junto com a Orquestra Ouro Preto.”
Delegado se apresentou diversas vezes ao lado da vocalista do Pato Fu e da Orquestra Ouro Preto, mas o que destravou definitivamente seu lado cantor foram as lives que ele promoveu durante o momento mais agudo da pandemia, transferindo para o ambiente virtual o formato de sua roda de samba batizada de DelegasCia. “Antes da pandemia, o projeto era realizado semanalmente, às quintas-feiras, na Casa de Cultura, começando à meia-noite e prosseguindo até as 3h30”, lembra o músico.
VIOLÃO SOLO
“Por mais generoso que fosse o meu repertório de violão solo, ficar quatro horas em frente ao celular, tocando e solando o instrumento, seria maçant”, ele admite. “Foi aí que comecei a cantar também e a interpretar o repertório de Chico Buarque, por exemplo. Fiz uma noite especial dedicada a ele e outras a Aldir Blanc e a Gilberto Gil. Fui cantando, e aquilo foi ficando natural para mim”, conta.
Entre as 11 canções de “Detalhes guardados”, 10 têm a assinatura de Thiago Delegado e uma (“Foi como eu sempre quis”) foi composta especialmente para ele por seu pai, Wilson Franco, quando o violonista se mudou de Caratinga para Belo Horizonte.
Inspirado nos discos das décadas de 1970 e 1980, principalmente em trabalhos de Djavan, Chico Buarque e Gilberto Gil, “Detalhes guardados”, de acordo com Thiago Delegado, “traz um pouco daquela sonoridade bem verdadeira, com a gente gravando junto”.
Ele diz que o álbum “tem, obviamente, o samba como linha condutora principal, porque é de onde venho, a minha assinatura, a minha casa, mas tem bolero, samba-canção, música mineira. Gosto de dizer que é um disco de música brasileira”.
A MPB soa forte em canções como a que dá nome ao disco, assim como em “A tecelã” e “Chame o amor”, esta última com a participação de Fernanda Takai. O acompanhamento ficou por conta de Aloízio Horta (baixo), Christiano Caldas (piano) e André Queiroz (bateria), músicos que integram a DelegasCia, e também Robson Batata (percussão).
NOVA GERAÇÃO
Delegado hoje se considera um cantautor ou um compositor que canta as suas próprias canções. A decisão de gravar o novo álbum se deu por uma conjunção de fatores, como ele explica. “Em primeiro lugar, estava com o baú cheio de composições, pois, nos últimos quatro anos, tive vários encontros com uma turma da nova geração, como Clara Delgado, que lançou um trabalho com parcerias feitas com o saudoso Flávio Henrique (1968-2018). Uma menina de 20 e poucos anos que está compondo muito bem e com muita gente. Tornamo-nos amigos próximos e, com isso, fizemos algumas parcerias.”
Além dela, outro que se tornou parceiro foi Vini Ribeiro, baixista do bloco Chama o Síndico. “É um grande compositor, também tem emplacado várias músicas e lançado discos, além de ser um grande amigo. Recentemente, fizemos vários encontros, ouvimos vários discos de vinil de Djavan e chegamos a compor algumas músicas. Acabou que me encontrei com essa nova geração e fui enchendo o meu baú de canções. Algumas dessas músicas foram gravadas por cantoras como Gisele Couto e Marina Gomes.”
Num determinado momento, ele pensou: “Vou colocar essas músicas para o mundo, não vou ficar guardando-as no baú, esperando alguém para gravá-las.” Com a decisão tomada, Delegado acionou também seus velhos parceiros.
“Não foram somente os novos, como a Clarinha, o Vini e a Nath Rodrigues, que são pessoas mais novas do que eu. Acionei também Murilo Antunes, que é um parceiro de outros carnavais, Ricardo Nazar e Brisa Marques, que também foi minha parceira em um disco do Flávio Henrique. Fizemos um repertório bonito, bem legal.”
Para ajudar na produção, Delegado convidou o músico Marcelinho Guerra. “É uma pessoa querida e que ia direto às apresentações da DelegasCia, quando ainda estávamos na ativa. Conhece o meu som, a minha tocada, é jovem e tem feito muitos trabalhos bons. Chamei também os meninos da DelegasCia, que são um patrimônio que tenho.”
Aloízio Horta, o parceiro mais antigo do violonista, não ficou de fora. “Como já tinha música nossa nos outros CDs que lancei, falei para ele que teríamos que compor uma para colocar nesse novo trabalho. E fizemos uma especialmente para esse disco. Foi a última a entrar no álbum.” Robson Batata, que Delegado considera seu “irmão do samba e querido amigo”, toca as percussões do disco.
A banda que vai fazer o acompanhamento no show de hoje é a DelegasCia mais Robson Batata. “Teremos as mesmas participações especiais que tivemos no disco, ou seja, Zé Renato, Fernanda Takai e Nath Rodrigues, que é uma cantora daqui, mais nova, um talento incrível. Temos duas parcerias no disco, uma somente minha e dela, que ela canta, chamada “Chuva dos 30”, e outra minha, dela, Vini e Clarinha. A gente se reuniu certo dia, em um coletivo para compor essa música, que ficou ótima, por isso resolvi gravá-la.”
“Chame o amor”, na qual ele divide os vocais com Fernanda Takai, foi feita em parceria com Vini e Nath Menhem. “Ela é uma poetisa jovem de BH”, diz. Quanto a Zé Renato, que participa do disco cantando a faixa ‘A tecelã’, trata-se de uma amizade desenvolvida durante a pandemia.
“Ele apareceu durante a live e eu o chamei para cantar, de forma despretensiosa mesmo, e ele topou dar uma canja. A partir daquele dia, começou a frequentar semanalmente as nossas lives.” Para Delegado, Zé Renato tem uma relação muito legal com os músicos mineiros.
“Tanto o ex-grupo Boca Livre quanto o próprio Zé, pois ambos sempre dialogaram muito bem com a música mineira, ainda mais ele, que é parceiro de Milton Nascimento. Eu o convidei para participar do disco e do show, e ele topou na hora. São participações incríveis, que só engrandecem esse trabalho e me fazem ficar ainda mais satisfeito em poder mostrar essa outra faceta minha de cantor para todo mundo.”
De março a agosto passado, Thiago Delegado lançou os single-clipes “Vai e vem”, “Chame o amor”, “Antes do café” e “Mais valia”. “Essa é a música que mais tem a cara da DelegasCia, é um samba-jazz, com improviso de violão e piano”, descreve.
Por fim, saiu o single-clipe da canção composta por seu pai. “Lancei-a no Dia dos Pais, em homenagem a ele, e celebrando um samba lindo, meio Paulinho da Viola. Fizemos também um clipe legal para essa música, bem divertido.”
Agora chegou o momento de apresentar o disco completo e subir ao palco acompanhado do violão, mas com a pele de cantor.
THIAGO DELEGADO
Show de lançamento do álbum “Detalhes guardados”. Nesta terça-feira (30/11), às 20h, no Centro Cultural Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31), 3241-7181). Ingressos a R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia-entrada), à venda no site Sympla. Disponível nas plataformas digitais a partir desta terça-feira (30/11).