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Estado de Minas MÚSICA

A vida em Portugal inspira novo disco de Bernardo Lobo

Violonista brasileiro radicado no país europeu lança nesta terça-feira (30/11) o álbum instrumental 'Zambujeira', feito em parceria com Pablo Lapidusas


30/11/2021 04:00 - atualizado 30/11/2021 08:01

Bernardo Lobo, de camisa estampada e óculos, encostado num parapeito, sorri
Filho de Edu Lobo, Bernardo Lobo se aventura pela primeira vez no universo da música instrumental com 'Zambujeira' (foto: Gabriela Perez / divulgação)

“Zambujeira”, álbum que é fruto da parceria entre o cantor, compositor e violonista brasileiro Bernardo Lobo e o pianista, produtor musical e compositor argentino Pablo Lapidusas, brota de três fontes de inspiração: a migração para Portugal, onde ambos estão radicados; as distâncias; e os novos rumos possíveis. O disco chega nesta terça-feira (30/11) às plataformas digitais.
 
Além da faixa-título, que é o nome de uma região do Algarve, no Sul de Portugal, há temas batizados como “Além-mar”, “Ecos do mar” e “Longe do Rio, perto do Tejo” entre os oito que compõem o trabalho. Desde os títulos, portanto, está clara a estreita relação com o país europeu que eles mantêm. Bernardo mora em Portugal há cinco anos; e Lapidusas, há 10.

O álbum foi gravado entre maio e outubro deste ano, em duas diferentes cidades de Portugal – Lisboa e Portimão –, e também no Rio de Janeiro e em Nova York, no Superlegal Studio, do músico e produtor Alexandre Vaz, onde foram registradas guitarras, algumas percussões, efeitos e programações. 

De resto, todas as gravações foram realizadas nos estúdios caseiros dos músicos convidados, num processo “totalmente tecnológico”, conforme diz Bernardo, destacando as distâncias e apontando a capacidade da música de encurtá-las.

Filho de Edu Lobo e Wanda Sá, com uma trajetória intimamente ligada à canção brasileira, Bernardo Lobo se aventura pela primeira vez, com “Zambujeira”, no terreno da música instrumental, o que configura os novos rumos citados como fonte de inspiração.

CANÇÃO BRASILEIRA

“Sou filho da canção brasileira e não quero me afastar nunca dela, mas, como músico, eu tinha comigo esse desafio de me desprender um pouco do formato canção e sair das regras de composição que guiaram os seis discos que tenho lançados, então fugi um pouco do que eu estava fazendo, de uma certa zona de conforto”, diz.

“Zambujeira” começou a tomar forma no início deste ano, quando Bernardo, cumprindo o isolamento em Algarve, recebeu Lapidusas, de quem é amigo há muitos anos, para passar uns dias em sua casa. “A gente conversou sobre fazer um disco juntos e, no dia seguinte, já compusemos esse tema que dá nome ao álbum, justamente por causa da região em que foi criado. Além disso, ‘Zambujeira’ é uma palavra sonora”, conta Bernardo. 

Ele recorda que, três dias depois, Lapidusas voltou para a cidade em que está morando e as demais músicas foram compostas à distância, com as gravações partindo do piano e circulando para que os convidados – entre eles Carlos Malta, Jacques Morelenbaum, a cantora portuguesa Maria João e os cabo-verdianos Miroca Paris e Rolando Semedo – dessem suas contribuições.

“Eu sou migrante desde sempre, nasci na Argentina, fui para o Brasil com 8 anos e moro em Portugal há 10, quer dizer, sempre fui meio estrangeiro. Agora somos ambos imigrantes, Bernardo e eu. Quando o Alexandre Vaz entrou na história, ele falou que a gente tinha que ter um conceito para amarrar esses temas, e a gente começou a costurar essas ideias em torno de Brasil e Portugal. Tem uma coisa de mar, terra, água, e é um disco que passa de maneira consciente por esse mote do ir embora”, diz Lapidusas.

MAR 

Bernardo corrobora e observa que, sendo um álbum instrumental, esse conceito está expresso em elementos como o som do mar, de um navio e em outras ambientações que contribuíram para um trabalho que resulta livre de rótulos. 

“Pensamos, no final das contas, que não era um disco de música brasileira, mas de world music. Claro, tem o Brasil ali, está enraizado, mas o que se ouve é a gente já influenciado por essa temporada na Europa, os temas traduzem essa vivência em Portugal”, aponta.

O músico brasileiro e o argentino se conheceram nos anos 1990, por intermédio do colega João Gaspar, que integrava a banda de Bernardo Lobo e faz uma das participações especiais em “Zambujeira”. 

Bernardo recorda que o argentino entrou para sua banda depois que Milton Nascimento “roubou” seu então pianista, Kiko Continentino, que foi também o produtor de seu primeiro disco. “Ele entrou, gravou comigo nos discos que fiz nos anos seguintes, mas acabou indo para a banda do Marcelo D2, quer dizer, depois de ter perdido o Kiko para o Milton, perdi o Pablo para o Marcelo”, diz.

Pablo Lapidusas, de pé, com os braços cruzados e semblante sério
O pianista e compositor argentino Pablo Lapidusas, que se radicou no Brasil com 8 anos, integrou a banda de Bernardo Lobo nos anos 2000 (foto: Biscoito Fino / divulgação)

FESTIVAL 

“Depois tive notícias de que Pablo estava em Portugal, onde vim participar de um festival que ele produziu aqui, em 2013. Foi ele quem me incentivou a vir para a Europa, o que fiz em 2016. É uma história muito longa de amizade e de parceria, que esse disco agora vem coroar”, destaca. 

Lapidusas, por sua vez, conta que foi para Portugal para investir em sua carreira de solista, já que, enquanto estava no Brasil, as demandas de outros músicos acabavam por tomar muito DE seu tempo.

“Sempre quis ser solista, só que a vida me levou a tocar com muita gente, então tinha trabalhos paralelos o tempo todo. Me mudar para Portugal teve a ver com o desejo de romper com isso, de criar o meu espaço”, diz. 

Ele comenta que, quando se mudou para lá, redefiniu seu foco. “Tive que botar 100% de energia nas minhas coisas e hoje tenho uma carreira sólida aqui na Europa. Viajo por vários países me apresentando. E também viajo muito para a África e a Ásia. Enfim, tenho circulado bastante. Para a música que faço, é interessante estar na Europa neste momento. Nestes 10 anos em que moro aqui, já lancei cinco álbuns”, conta.

Bernardo, que em “Zambujeira” se coloca mais como compositor – das oito faixas, ele só está presente com seu violão e alguns vocalizes em três –, diz que, para o processo de gravação, os temas nasceram, em sua maioria, do piano de Pablo, gravado em seu estúdio caseiro. 

“Esse registro seguia para o Alexandre, que encorpava o tema, e daí a gente chamava os convidados. O Carlos Malta gravou no Rio de Janeiro, Semedo e Miroca gravaram violão e percussão aqui em Lisboa. Todo mundo cuidou da sua parte, em seus respectivos estúdios caseiros. A gente nunca se encontrou para falar do disco, celebrar o disco. A canção chegava, eu pensava ‘vou colocar o violão aqui’, devolvia, outro músico acrescentava alguma coisa. Apesar da falta de interação física, foi um processo interessante”, afirma.

DESAFIO 

Se para Bernardo “Zambujeira” abre novas possibilidades, já que é seu primeiro álbum instrumental, para Lapidusas o trabalho também traz algo de inédito. Embora o formato instrumental seja o mesmo de seus cinco trabalhos anteriores, o disco também lançou o pianista para fora de sua zona de conforto. 

“Optamos por privilegiar a estrutura de canção, só que sem as letras. O disco, apesar de ser todo calcado no piano, quase não tem solos, e sim texturas que dão suporte e colorem as melodias. Todos os temas têm três minutos, em média, e isso foi um desafio para mim”, conta.

“Eu sou um cara que vem da música instrumental, sou pianista, é mais meu universo, mas eu queria fazer uma coisa diferente. Mostrei umas referências para o Bernardo, por exemplo a Amaro, que é uma cantora portuguesa incrível. Falei em fazer um disco de canções, sem letra, bem aberto, numa onda meio Clube da Esquina”, acrescenta Lapidusas.

Ele diz que, depois que os dois compunham os temas, os enviavam para Alexandre Vaz, que aparece como coautor em “Ecos do mar” e que assina, juntamente com Bernardo, a faixa que encerra o álbum, “Luz e breu”. Originalmente gravada em 2000 por Bernardo e Milton Nascimento, é a única que não pertence à safra portuguesa.

CONCERTO 

O pianista aponta que ele e Bernardo têm a intenção de levar “Zambujeira” para a estrada, mas ainda estudam como fazer isso. “É um disco centrado no piano. Quando a gente percebeu isso, eu até tentei virar o jogo, colocar mais o violão, mas o Bernardo relutou, falou que preferia estar ali mais como compositor mesmo. Então, pela natureza do trabalho, acredito que o concerto deva circular com uma pequena formação, com algumas adaptações em relação aos arranjos do disco, com piano, uns dois instrumentos mais e um pouco de eletrônico. Eventualmente podemos trazer coisas dos nossos respectivos repertórios.”

Faixa a faixa

Confira as músicas do disco

»  1 – “Estradas” (Bernardo Lobo / Pablo Lapidusas)
Feat: Miroca Paris e Jessé Sadoc

»  2 – “Além-mar” (Bernardo Lobo / Pablo Lapidusas)
Feat: Jaques Morelembaum

»  3 – “Longe do Rio, perto do Tejo” (Bernardo Lobo / Pablo Lapidusas)
Feat: Maria João

»  4 – “Um chorinho pequeno” (Bernardo Lobo / Pablo Lapidusas)
Feat: João Gaspar

»  5 – “Andorinhas” (Pablo Lapidusas)

»  6 – “Ecos do mar” (Bernardo Lobo / Pablo Lapidusas / Alexandre Vaz)
Feat: Carlos Malta

»  7 – “Zambujeira” (Bernardo Lobo / Pablo Lapidusas)
Feat: Rolando Semedo e Miroca Paris

»  8 – “Luz e breu” (Bernardo Lobo / Alexandre Vaz)

“ZAMBUJEIRA”
• Bernardo Lobo e Pablo Lapidusas
• Biscoito Fino (11 faixas)
• Disponível a partir desta terça-feira (30/11) nas plataformas digitais


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