Tendo Lulu Santos como convidado, a Orquestra Ouro Preto, regida pelo maestro Rodrigo Toffolo, faz concerto especial neste sábado (4/12), às 20h30, com transmissão gratuita pelo canal oficial do grupo no YouTube.
“O som da Orquestra Ouro Preto é pura sedução, é seda e perfume, sonho de valsa. Os arranjos, a regência envolvente do maestro Rodrigo Toffolo e a delicada execução dos musicistas acariciam a canção e a revelam em todo o seu potencial. Se pudesse e se meu dinheiro desse, nunca mais tocaria sem ela”, diz Lulu Santos.
O repertório apresenta de baladas românticas ao pop dançante do cantor, compositor, guitarrista e hitmaker carioca. “Toda forma de amor”, “Um certo alguém”, “A cura” e “Aviso aos navegantes” estão no setlist. Gravado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, o concerto pop vai encerrar a temporada deste ano do projeto “Orquestra Ouro Preto SulAmérica sessions”.
TONITRUANTE
Não é a primeira experiência sinfônica de Lulu, que já se apresentou com 70 instrumentistas. “Esse tipo de orquestra tende a ser um pouco tonitruante, porque é muita gente tocando ao mesmo tempo. Às vezes, o espaço fica carregado”, comenta.“A Orquestra Ouro Preto é cordas, Lulu é strings – isso é praticamente um projeto. Sempre me lembro do ótimo álbum, certamente o mais popular e o que mais vendeu, do grande saxofonista e compositor norte-americano de jazz John Coltrane, o ‘Coltrane and strings’. As cordas têm esse elemento romântico, muito evocativo. Corda puxa romance, puxa pelo coração, pela sensibilidade, pelo poro”, ressalta Lulu.
O compositor carioca elogia a regência de Rodrigo Toffolo, a forma de executar os arranjos, que foram criados por Paulo Malheiros.
“É muito importante que o arranjo traga alguma coisa para a canção, sem nada tirar dele. Essa é uma maestria que Rodrigo tem. Ensaiamos por um dia com a orquestra para todos ficarmos à vontade. No dia seguinte, gravamos, porém sem público, dentro dessas questões sanitárias que se impõem por aí”, comenta.
A parceria da orquestra com Lulu nasceu em Belo Horizonte, quando o cantor praticamente morou na capital com o marido, Clebson Teixeira, que vivia na cidade.
“Fomos muitas vezes ao Palácio das Artes. Numa delas, em um espetáculo do Grupo Corpo, Rodolfo Toffolo, irmão do maestro Rodrigo, veio me falar da vontade deles de fazer um concerto comigo”, relembra. Lulu já ensaiava a turnê que vai começar no final deste mês.
“Gravamos todos os nossos ensaios e mandamos para o Rodrigo”, diz. Toffolo escolheu 15 músicas. “Depois disso, ele mesmo decidiu o que faria. Não foi difícil escolher o repertório, pois nossos ensaios não têm mais do que 27 músicas, senão o show acaba ficando longo e chato”, explica Lulu.
Não haverá inéditas no concerto desta noite, mas o público ouvirá novidades. “Faz dois meses que lançamos nosso último single. Então, canções novas, recentes, certamente fizemos (com a orquestra). A gente não fez ‘Inocente’, que gravamos com o trio Melim, mas fizemos ‘Hit’, o primeiro lançamento deste ano. Em 2020, fiz somente uma canção, que é justamente ‘Inocente’.”
“Foi mamão com açúcar”, diz Lulu Santos, referindo-se à parceria com a orquestra e o maestro ouro-pretano. “Rodrigo realmente se deu ao trabalho de escrever em cima do que a gente está tocando”, elogia, explicando que algumas canções ganharam tons bem diferentes daqueles das gravações originais.
“Por isso foi importante ele ter acesso ao material como a gente está tocando neste momento, e não como ele foi gravado há 20 ou 40 anos”, observa.
Tamanho cuidado não é apenas detalhe, pois canções têm vida própria, afirma o compositor. “Você vai tocando e elas vão lhe pedindo alguma coisa”, revela Lulu, citando o exemplo de ‘Tempos modernos’. Gravado em 1982, em seu primeiro álbum, o hit ganhou a versão acústica em 2000, que já ultrapassou 120 milhões de visualizações no streaming. “Depois disso, fiz a versão do ‘Ao vivo MTV’ (2004), com arranjo totalmente diferente, meio eletro, bastante eletrônico.”
EVOLUÇÃO
Cada gravação reflete o que Lulu vive naquele momento, musical e artisticamente falando. Ele chama esse processo de “vela da evolução”. E observa: “É como a gente mede a evolução da sonoridade.”Haja evolução, pois são mais de 40 anos de carreira e sete milhões de discos vendidos. “Houve um momento em que a linguagem popular, o pop rock, perseguia o virtuosismo. Guitarristas foram ficando cada vez mais especializados, menos primitivos, até aquilo começar a ficar meio desandado, saindo um pouco da premissa original do rock de ser uma música mais precisa do que técnica”, analisa o compositor.
O processo influenciou Lulu. “Até determinado ponto, eu perseguia uma proficiência técnica baseada em guitarristas como o George Harrison lá de trás, com seus slides, Eric Clapton, Jeff Beck e Carlos Santana. Todos esses caras formataram a linguagem da guitarra elétrica nos anos 1960 e 1970, até chegar a Eddie Van Hallen”, comenta. “Então, comecei a me desinteressar um pouco, porque sempre que o rock se afasta muito da raiz negra dele, já começo achar que aquilo não está falando comigo”, ressalta.
Lulu Santos define sua linguagem como “blues rock, muito mais do que qualquer coisa”. E acrescenta: “Na verdade, é isso aplicado a uma composição que é bastante pop. Gosto do rock quando ele é pop. Quanto mais me aprofundo na história da execução, da técnica e da sonoridade, mais distante fico do comunicador. O cara que tem uma canção precisa olhar no olho da plateia e dizer a que veio. É claro que sem guitarra, para mim, não tem graça”, afirma.
Conhecido como “rei do pop nacional”, Lulu se diz um cara “do som e da eletricidade”. Respeita os colegas que fazem um show inteiro sozinhos, voz e violão, mas não acha graça nesse formato.
“Toco guitarra. A guitarra é onde a gente ancora as nossas mágoas e alegrias. A guitarra sou eu. Há coisas que só as guitarras fazem: um bend (técnica em que se levanta ou se abaixa a corda para chegar em outra nota), um pouco de distorção, coisas que carrego da linguagem. Ao mesmo tempo, o mais importante, para mim, é a exposição da canção.”
Considerado exímio guitarrista, Lulu Santos faz solos incríveis, mas não se limita a isso. “O que era difícil, hoje em dia estou tentando tornar fácil, pois os solos de ‘Adivinha o quê?’e ‘Casa’ permanecem nos shows e continuam no repertório. Apenas decidi, há algum tempo, que aquilo não era o foco do que apresento. Não foi por isso que o público se aproximou de mim”, comenta.
Muita gente o admira por ser virtuose da guitarra, mas ele diz que esse fã-clube é pequeno “perto do número de pessoas para quem as minhas canções falam.”
Solos de guitarra têm o seu momento nos shows, mas sem exagero. “Tirei o foco disso, na medida em que a própria composição pede algo que se distancie da ideia de rock and roll. Muitas vezes, acho que o melhor que a gente pode fazer pelo rock é deixá-lo descansar um pouquinho”, diz.
Ao comentar a performance dos guitar heroes, ele considera Mark Knofler (Dire Stairs) um guitarrista sensato. “Por outro lado, não tenho nada do sueco Ingwie Malmsteen ou do norte-americano Steve Vai, essa gente que vai para o lado do virtuosismo. É bonito de ver, tem coisas sensacionais, sim, mas não me toca, não me emociona. Também há a história de que essa linguagem já foi explorada à exaustão. Hoje em dia, quando ouço um bend longo, digo: ai, que cansaço disso.”
STONES
Certa vez, Lulu se encontrou com Keith Richards, guitarrista do Rolling Stones e lenda do rock. “Ele se aproximou de mim de braços abertos, meio como se tivessem dito a ele: aquele cara é guitarrista aqui. Falei: 'Sou um guitarrista'. E ele respondeu: 'Já tem o suficiente'.”Para Lulu, Richards transformou a guitarra em extensão dele mesmo. “A forma como toca, aquela afinação pronta que é exatamente para fazer o mínimo esforço. Você escuta e diz: olha os Rolling Stones aí! É isso o que a gente busca: uma voz, uma assinatura, uma forma de fazer.”
O hitmaker brasileiro se adaptou às profundas mudanças do mercado fonográfico. Lançou LPs, depois CDs e DVDs, agora aposta nos singles. “Acredito que o conta-gotas é o melhor caminho. Este ano, lançamos dois singles, um em junho e o outro há dois meses. No bojo das coisas que fiz, tem um EP. E continuei fazendo música, álbuns. É muita produção”, comenta.
Atualmente, com o avanço das plataformas de streaming valorizando canções isoladamente, em vez de álbuns com várias faixas, ele busca novas formas de trabalho. “Com oferta tão grande, com tanta gente aparecendo e novas formas de fazer música, é melhor fazer coisas concentradas e chamar a atenção. Vale mais a pena do que simplesmente gravar para fazer número. Tenho coisas inéditas gravadas, prontas e masterizadas, mas não lanço por enquanto. Lançarei mais para a frente”, promete.
REPERTÓRIO
» “TODA FORMA DE AMOR”
» “UM CERTO ALGUÉM”
» “O ÚLTIMO ROMÂNTICO”
» “ADIVINHA O QUÊ?”
» “TUDO COM VOCÊ”
» “HIT”
» “TUDO IGUAL”
» “A CURA”
» “APENAS MAIS UMA DE AMOR”
» “RADAR”
» “ORGULHO E PRECONCEITO”
» “AVISO AOS NAVEGANTES”
» “JÁ É”
» “ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE”
» “CERTAS COISAS”
Maestro promete noite de surpresas
Rodrigo Toffolo é fã de Lulu Santos. “Artista genial e figura indispensável da música brasileira, sua carreira tem uma infinidade de sucessos atemporais sintonizados com diferentes gerações. Essa música bate nas pessoas de uma forma especial, porque ele tem a capacidade de mandar mensagens, de tocar o coração e de ter do público o mais importante: a escuta”, elogia o maestro da Orquestra Ouro Preto.
Gravar com Lulu foi uma experiência incrível, diz o regente. “Ele é preocupado com os mínimos detalhes, cada detalhe do arranjo, da execução”, comenta Toffolo, elogiando “o guitarrista de mão cheia”.
A parceria com o “rei do pop” é importante para a Orquestra Ouro Preto (OOP). “Foi uma experiência muito legal, daquelas que vamos levar para o resto de nossas vidas”, acredita o maestro. “Lulu soube não só tratar, mas valorizar o trabalho da OOP”, revela.
ICÔNICAS
Não foi fácil “resumir” as quatro décadas de carreira do convidado em poucas canções. “O repertório ficou incrível, mas, como sempre falo, alguém vai achar que faltou aquela, aquela outra. Mas as icônicas vão estar lá, alguma canção nova também, com a pegada e aquela energia toda do Lulu.”O maestro garante: o público vai se surpreender. “As pessoas verão a OOP que nunca viram”, comenta, destacando os novos arranjos.
“Foi muito legal, uma grande experiência. Daí a gente entende por que Lulu é Lulu, Alceu é Alceu”, comenta, referindo-se a outro parceiro da orquestra, o pernambucano Alceu Valença. “São pessoas que dominam aquilo, com uma propriedade enorme. Eles não só cantam e tocam, mas sabem o que querem. É muito legal esse tipo de troca”, diz.
A temporada de 2021 do grupo ouro-pretano será encerrada no próximo fim de semana. No sábado (11/12), a orquestra se apresentará no Parque das Mangabeiras, em BH, com o concerto “Quem perguntou por mim?”, em homenagem a Fernando Brant e Milton Nascimento.
No domingo (12/12), no Sesc Palladium, a OOP se apresenta com Artur Andrés. “Será o retorno aos palcos deste ex-integrante do Uakti”, informa Toffolo.
LULU SANTOS E ORQUESTRA OURO PRETO
Neste sábado (4/12), às 20h30. Transmissão pelo canal oficial da orquestra no YouTube e nos canais 500 e 530 (Like) da Claro TV.