Palhaço, ginasta, acrobata, músico, cantor, dançarino, compositor, autor de peças teatrais e diretor. Benjamim de Oliveira (1870-1954) é um personagem difícil de captar em apenas uma definição. Nascido em Pará de Minas, filho de mulher escravizada, ele tinha 12 anos quando fugiu com um circo itinerante que visitava o interior mineiro.
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Ainda assim, a história e o legado do artista são pouco conhecidos. A “Ocupação Benjamim de Oliveira” se propõe a reverter esse apagamento. Recém-inaugurada no prédio do Itaú Cultural, em São Paulo, a mostra se dedica exclusivamente à vida, obra e carreira do mineiro, revelando o “empreendedor circense” que nunca deixou de acreditar em seu ofício
A exposição, instalada no térreo do prédio, reúne cerca de 120 peças, entre fotografias, vídeos, objetos circenses originais, livros, documentos e fonogramas que ajudam a remontar a trajetória do artista.
“O projeto 'Ocupação' tem o compromisso de fazer homenagem a artistas brasileiros que deixaram um legado muito importante para a cultura do país”, explica Carlos Gomes, coordenador do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural.
“Temos vários artistas que precisam dessa homenagem, porque são faróis que nos iluminam e nos inspiram. Finalmente chegou o momento para a gente traçar esta homenagem ao Benjamim de Oliveira”, afirma Gomes.
É a primeira vez que o Itaú Cultural realiza uma exposição que aborda o universo circense. Como a própria atuação de Benjamim era bastante abrangente, a mostra se estende por várias áreas do universo das artes, destacando a parceria de Benjamim com artistas célebres como o cantor e violinista Mário Pinheiro (1883-1923), o palhaço, poeta e cantor Eduardo das Neves (1874-1919) e a compositora, instrumentista e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935).
“O trabalho dele vai muito além das artes circenses. Ator, compositor e gestor, Benjamim está numa rede de realização muito importante para o início do século passado. Nada mais justo do que olhar para essa história com o cuidado que ela merece”, analisa Gomes.
A “Ocupação Benjamim de Oliveira” tem caráter participativo. “Convidamos o público a estabelecer uma relação um pouco diferente de outras exposições que já fizemos”, diz o coordenador do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural.
Uma dessas particularidades é o picadeiro onde estão expostas as principais passagens da vida de Benjamim de Oliveira. Nele, as pessoas podem se sentar para imergir na história do artista.
“A gente também pensou na mostra com foco em acessibilidade. Temos foto e maquete tátil, por exemplo. Vídeos trazem legendas e também disponibilizamos videoguias para quem quiser acompanhar a exposição dessa maneira. O espaço todo é pensado para que o visitante tenha, de fato, outra relação com tudo o que está exposto ali”, explica Carlos Gomes.
Ele destaca os instrumentos musicais e a árvore genealógica montada para ajudar a compreender o histórico familiar do homenageado. Um espaço imita a plateia, e lá estão sentadas as personalidades com quem Benjamim conviveu.
A curadoria é assinada pelos núcleos de Artes Cênicas e do Observatório do Itaú Cultural em parceria com a professora Ermínia Silva, autora do livro “Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil”, lançado originalmente pela editora Atlanta, em 2007.
Devido à mostra, nova versão da obra será relançada, em fevereiro de 2022, pelo Itaú Cultural e editora Martins Fontes.
A mostra destaca a importância do artista Benjamim de Oliveira para o Brasil. Além de palhaço, ele fortaleceu a introdução da linguagem teatral nos picadeiros ao escrever o espetáculo “O diabo e o Chico”, que estreou em 1904. A partir daí, a programação de circo passou a contemplar montagens teatrais, que se transformaram em sucesso de público.
AGITADOR CULTURAL
Carlos Gomes chama a atenção para o legado de Benjamim como agitador cultural. “Grande empreendedor de arte e cultura, ele conseguiu realizar algo que. hoje, nós, gestores, produtores e artistas, almejamos: promover a arte a partir da produção pesada, no sentido de levar essa arte para a fruição do público”, afirma.
“Benjamim de Oliveira não era só um artista completo. Ele era gestor completo, um modelo de pessoa que, mesmo com todas as dificuldades de ser negro em um país racista com passado escravocrata, conseguiu ser o ponto fora da curva. A gente sabe e tem consciência de que os artistas negros encontram mais dificuldades em qualquer caminho que decidem trilhar. É uma pena que a trajetória de Benjamim seja tão pouco conhecida”, destaca o coordenador do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural.
“O Brasil tem grande dificuldade em reconhecer seus artistas negros, sobretudo aqueles que são descendentes diretos de escravizados”, adverte. “O embranquecimento da nossa história é algo que, infelizmente, faz com que a população não reconheça personalidades que muito contribuíram para a nossa cultura.”
Outro motivo do apagamento da importância de Benjamim de Oliveira é o fato de ele ter sido artista de circo. “A arte circense é marginalizada no Brasil, sobretudo os circos itinerantes. Ela ocupa um espaço superimportante no imaginário das pessoas, espaço esse que deveria ser mais valorizado”, alerta Gomes.
A “Ocupação Benjamim de Oliveira” segue em cartaz até 27 de fevereiro de 2022, com entrada franca. O público também pode entrar em contato com a história do célebre palhaço mineiro por meio do site itaucultural.org.br/ocupacao/benjamim-oliveira/.
“OCUPAÇÃO BENJAMIM DE OLIVEIRA”
Exposição em cartaz até 27 de fevereiro de 2022, no prédio do Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, Bela Vista, São Paulo). Entrada franca. Informações: itaucultural.org.br.