Lançar um disco somente quando a banda estivesse voltando a fazer shows era o desejo do Biquini Cavadão, criado em 1985. E isso só foi possível neste final de ano, quando o grupo resolveu subir para as plataformas digitais o álbum “Através dos tempos”, que vislumbra dias melhores, passados os momentos difíceis. O disco traz a alegria de novas canções que se juntarão aos grandes sucessos na nova turnê que a banda fará pelo Brasil. Formam o Biquini, Bruno Gouveia (voz), Carlos Coelho, Álvaro Birita e Miguel Flores da Cunha.
Para a produção do novo trabalho, a banda convidou Paul Ralphes, o galês que produziu o álbum “Escuta aqui” (2000) e boa parte do disco “biquini.com.br” (1998). Paul, que não trabalhava com o Biquini há cerca de 20 anos, aceitou o convite, sob a condição de que o disco fosse feito a distância, visando à saúde de todos. Diante disso, todo o material foi transmitido via internet, sendo discutido remotamente, com cada músico gravando de sua casa.
Diante da exigência do produtor, os integrantes não se encontraram em estúdio, porém trocaram ideias pelo celular sobre arranjos, timbres e o desenrolar de cada faixa. Bruno conta que nem para as fotos promocionais e os primeiros videoclipes os encontros aconteceram. “Fizemos os registros em horários diferentes, mantivemos o distanciamento necessário e coube depois aos designers e editores a tarefa de juntá-los. Amigos, separados pelo momento, mas atravessando juntos este tempo incerto”, afirma.
Para o vocalista do Biquini, o disco traz em sua essência, um recado de otimismo, resiliência e perseverança. Ao longo de suas nove faixas, a banda discorre sobre esses assuntos, com a certeza de que, de um jeito ou de outro, conseguiremos superar as crises. Sempre antenado, o grupo já apresentou mais da metade do álbum em singles lançados a partir de julho deste ano, como “Nada é para sempre”, “A vida”, “A gente é o que é”, “Eu não vou recuar” e “Colhendo flores”.
A elas, se juntaram as canções, “A manhã”, “Dois polos”, “Me sorri com seu rosto inteiro” e “Através do tempo”, que dá nome ao disco. Em março de 2020, era para o Biquini ter celebrado os 35 anos de estrada com uma turnê pelo país, porém a pandemia fez com que os eventos fossem cancelados ou adiados. Ainda assim, a banda lançou o disco “Ilustre guerreiro” (ao vivo), gravou três videoclipes, dois singles e participou de lives e entrevistas.
Para os integrantes do Biquini, o importante era não manter a mente em lockdown. Assim, conseguiram dobrar o número de seguidores em suas redes sociais. E foi nesse momento que surgiu a ideia de gravar um disco de inéditas. “Na verdade, esperávamos fazer o lançamento deste álbum no primeiro semestre, mas as coisas não foram tão otimistas quanto imaginávamos. Quando chegou setembro do ano passado, pensávamos que tudo voltaria ao normal rapidamente e que, em maio do ano seguinte, já estaria todo mundo vacinado e tocando a vida adiante. Infelizmente, isso não aconteceu.” Por ironia, o disco está sendo lançado justamente na chegada da variante Ômicron.
Para o novo álbum, Bruno detalha a sua saga para gravar a voz. “Fiquei um tempo no interior, onde construí uma sala de gravação para gravar a minha voz, mas isso para trabalhos futuros. Miguel e o Coelho gravaram de suas casas. Somente eu e o Birita fomos para o estúdio botar voz. O Coelho foi à minha gravação, assistiu tudo, mas a gente não se encontrou, porque ele ficava de um lado do vidro e eu do outro. Mas ele dava seus palpites.”
O vocalista conta que gravava tudo e mandava para Paul. “Ele devolvia e, às vezes, dizia: ‘Está tudo legal, mas você pode fazer isso ou aquilo’. Mas a gente já tinha algumas pré-produções também, tanto é que muitas coisas a gente mostrou para o Paul, que dizia que o trabalho já estava bem adiantado, que nessa ou naquela música não tinha o que mexer muito. Outras tivemos que começar do zero mesmo. Cada música teve a sua característica.”
NA ESTRADA
Bruno conta que o Biquini já retornou aos shows. “Houve um no Rio de Janeiro, no Rock Brasil 40 anos, e que vai também a BH, em março. Depois, fizemos outro em Mococa, no interior de São Paulo; acabamos de fazer outro em Sampa. Temos mais três ou quatro shows até o final do ano. Estamos retornando em uma velocidade mais lenta do que o normal para todo mundo ir se acostumando com a ideia. Devemos fechar o ano com oito shows, sendo que fazíamos cerca de 80.”
Para o vocalista, o momento ainda exige (e muito) cuidados. “Neste momento, nós ainda não recuperamos tudo isso, vamos ser muito claros, precisamos contar com o país muito mais vacinado”, alerta Bruno. “Por exemplo, estou no Rio de Janeiro, mas a gente viaja para vários lugares do Brasil, cujo percentual de vacinados é muito baixo. Precisamos ter uma vacinação mais eficaz e efetiva para que possamos segurar essa situação toda. Está tudo meio bagunçado, mas sou otimista e estou esperançoso de que tudo dará certo.”
“ATRAVÉS DOS TEMPOS”
.Biquíni Cavadão
.9 faixas
.Disponível nas plataformas digitais