A noite de Belo Horizonte sempre foi eclética e divertida! Mas nem tudo foi fácil...
Antes da internet, por exemplo, a divulgação de eventos LGBT era feita por panfletos e flyers. Tenho 40 anos de noite e vivenciei momentos do gueto ao luxo, atuando simultaneamente como performer, apresentadora, hostess e diretora artística das maiores casas voltadas para esse gênero.
Quando o assunto é quais foram as primeiras casas noturnas gays e lésbicas de Belo Horizonte (nos anos 1970, elas eram bem separadas por gênero), dizem que a Chica da Silva, na esquina de Rua Pernambuco com Rua dos Inconfidentes, na Savassi, foi a precursora.
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Orquestra Ouro Preto toca obra de Milton e Brant hoje no Parque MangabeirasSai no Brasil livro com trechos inéditos dos diários de Virginia Woolf MET oculta nome de patrocinador implicado em escândalo industrialSérie 'Todas as cores do Brasil' reúne histórias de atletas LGBTQIA+Depois dela, vieram, nos anos 1980, Anjo Azul, entre Olegário Maciel e Bias Fortes, na Praça Raul Soares; Coisa Nossa, no Bairro Nova Suíssa, perto de onde fica a UPA Campos Salles; Chez Eux, na Rua Alagoas, na Savassi; e Plumas & Paetês, na Avenida Brasil.
Na década seguinte, Troisieme, na Savassi; Soft, na Rua Rio de Janeiro, próximo de onde funcionou a Rede Globo; Fashion, que começou no Funcionários e seguiu para o Barro Preto. Nos anos 2000, Lurex, Erótica, Pagã, no São Pedro; Estação 2000, que funcionou na Praça Raul Soares e no Barro Preto; Gis, também no Barro Preto; Eros e Excess, que mais tarde virou Josefine, na Savassi.
Tive a oportunidade de dirigir grandes casas, como a Pagã, a Excess, a Josefine e a Jo, que quebraram a triste estatística de que bares e restaurantes da noite em Belo Horizonte não duravam mais de um ano.
Muito mais que dar estabilidade aos nossos clubes, conseguimos fazer de espaços considerados guetos o ponto de encontro de todas as tribos, que curtiam o som dos DJs escalados para aquelas casas. O trabalho, claro, também fortaleceu o meu currículo de gestora da noite em BH.
Sempre fui polêmica. Inverti o tradicional show de strip-tease feminino para o masculino. Fui a primeira artista a performar com gogo's na famosa 5@MIX JO, na Josefine. Várias gerações passaram por ali em noites inesquecíveis que agregaram grifes famosas e personalidades.
Infelizmente, esse mercado, mesmo antes da pandemia, sofreu com a queda da economia. Piorou com a COVID, houve fechamento de muitas casas, gerando prejuízos para as famílias de profissionais que atuavam na segurança, técnicos de som, pessoal da limpeza, barmen, DJs, gerentes e caixas, que, em sua maioria, não são LGBTs.
Tenho orgulho de ser atriz e ter atuado para pessoas de três gerações. Hoje, faço parte da história da vida delas, e elas da minha!
Sinto-me abençoada por isso!
A SEÇÃO “EMBALOS DE SÁBADO À NOITE” CONTA A HISTÓRIA DA VIDA NOTURNA DE BELO HORIZONTE, QUE, ANTES DA PANDEMIA, DEU O QUE FALAR