Entre batidas de reggae e MPB, a banda mineira Lagum é sucesso desde 2016, cantando amores efêmeros, futuros incertos, decepções românticas e besteiras já feitas por aí. De acordo com o grupo, essa espontaneidade e a liberdade de falar da vida de maneira ritmada a conecta com o público. Em seu novo disco, “Memórias (de onde eu nunca fui)”, a receita continua. Mas de outra forma.
“Assim como o primeiro álbum (“Seja o que eu quiser”), esse foi feito muito na intuição. Antes, por ser um álbum que a gente não sabia o que esperar do público ou do produto final, até porque a gente tinha pouco conhecimento e pouca bagagem musical. Neste, deixamos as coisas fluírem. Então, se dava vontade de falar coisas engraçadas ou trágicas, a gente falava”, conta Pedro Calais (vocal), em entrevista por vídeo ao lado de Francisco Jardim (baixo), o Chico, e Glauco Borges, conhecido como Jorge (guitarra). Otavio Furtado, o Zani (guitarra), não participou.
''Agora, vamos construir a memória que estava pra ser vivida. E também diz muito sobre o Tio, que construiu o álbum com a gente''
Jorge, guitarrista
PROFUNDO
O quinto integrante da banda, apesar de não estar presente, foi assunto da entrevista, assim como do álbum. Breno Braga, o Tio Wilson, morreu em 12 de setembro de 2020, aos 34 anos, após sofrer uma parada cardiorrespiratória nos bastidores do show do grupo em Belo Horizonte. Com sua morte, o álbum, que antes tinha proposta humorada e solta, virou algo mais profundo e complexo.“A gente viu que o álbum criado em 2019 não fazia mais sentido, então ele se tornou outra coisa, conceitualmente falando”, explica Pedro. “Começamos com a parte visual. As capas foram trabalhadas com imagens dentro de molduras, porque entendemos que pinturas, assim como fotos, quando estão dentro de molduras representam uma memória. Se espera ter a memória dentro de uma moldura, né? E a gente começou com a moldura do Tio, que é uma memória dele eternizada ali.”
A ideia é de que os fãs possam visualizar em imagens o que cada uma das 10 canções quer transmitir, com o princípio de que se deve aproveitar a vida o máximo. Pensamento sintetizado na faixa de abertura, “Ninguém me ensinou”: “Não tenho medo de errar/ Só medo de desistir/ Mas tenho 20 e poucos anos/ E não vou parar aqui”.
Lançado há um ano, o clipe mostra os integrantes da banda e os familiares de Tio Wilson homenageando-o, além de vídeos caseiros com bons momentos.
“Quando a gente escutou de novo a música, foi unânime o sentimento de que ela tem tudo a ver com o que passamos. Deu uma força muito grande, pessoalmente falando, pra me tirar desse estado de não querer fazer nada para realmente ser um momento de acreditar muito. Veio daí a nossa energia para conseguir fazer um clipe no momento em que todo mundo estava fragilizado”, conta Jorge.
A pandemia foi inspiração para criar o sentimento de aproveitar o momento, em forma de rotoscopia (animação com base em imagens humanas reais) e letras. “O lançamento desse terceiro álbum representa isso: agora vamos construir a memória que estava pra ser vivida. E também diz muito sobre o Tio, que construiu o álbum com a gente”, comenta o músico.
As 10 canções foram gravadas com a bateria de Breno capturada em um ensaio. “O Tio participou ativamente desde o início”, lembra Chico. “Tivemos a possibilidade de manter a bateria dele da forma como tocou, então ele pôde estar presente. Gosto de contar essa curiosidade, é uma coisa muito espontânea e de um privilégio grande.”
Durante o período de quarentena, a banda lançou dois singles: “Hoje eu quero me perder”, em 20 de março, e “Será”, em 19 de junho, com participação da cantora Iza. Depois das mudanças do terceiro álbum, ambas ficaram de fora da proposta conceitual, mas fazem parte de uma estratégia interessante para o grupo.
“Gostamos também de singles que não necessariamente fazem parte de um projeto, porque é o momento que a gente tem para sair um pouco da nossa caixinha e testar. Ver como o público reage”, explica Pedro Calais.
''Gostamos de singles que não necessariamente fazem parte de um projeto, porque é o momento que a gente tem para sair um pouco da nossa caixinha e testar''
Pedro Calais, cantor
CLIPE
Uma das apostas do novo álbum é “Veja Baby”, que ganhou clipe nesta segunda-feira. “Ela tem potencial comercial, inclusive é o single que vai puxar o álbum, mas ao mesmo tempo destoa dele”, conta o vocalista.O tema é um relacionamento que já não faz mais sentido e chegou ao fim. Muito diferente de “Festa jovem”, sobre aproveitar a vida como se fosse o último dia. Ou de “Descobridor”, single lançado com o rapper Emicida, sobre memórias.
“Por mais que tenha uma evolução sonora, tem sempre aquela coisa que leva a gente pro caminho do início. O nosso é a espontaneidade e a verdade. Nosso objetivo final é criar uma conexão longa e verdadeira com as pessoas que se identificam com o nosso som”, diz Pedro Calais.
Para o (agora) quarteto Lagum, o momento é de aproveitar a vida, depois de tanto tempo dentro de casa. “A gente ficou muitas horas em estúdio, trabalhando os shows que estão por vir, para chegar com energia total e conseguir todos os objetivos e conquistas no pós-pandemia”, afirma Chico, citando shows que a banda vai fazer em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Inglaterra. “MEMÓRIAS (DE ONDE EU NUNCA FUI)”
• Disco da banda Lagum
• 10 faixas
• Sony Music
• Disponível nas plataformas digitais