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Estado de Minas STREAMING

'A garota de Oslo' faz casamento forçado entre dramas pessoais e política

Série da Netflix mistura elações familiares conturbadas com o contexto dos Acordos de Paz no Oriente Médio e o desafio do combate ao terrorismo


25/12/2021 04:00 - atualizado 25/12/2021 07:25

Vestida de preto, sentada à mesa ao lado de ator, atriz leva as mãos à boca e faz expressão de choque
Coprodução entre Israel e Noruega falada em diversas línguas está disponível na Netflix, em 10 episódios curtos (foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO)

“Hoje testemunhamos um ato extraordinário sobre um dos dramas que definem a história.” A voz é de Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, discursando na Casa Branca, em setembro de 1993. Na ocasião, o primeiro ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o líder palestino Yasser Arafat assinaram acordos de paz no Oriente Médio que haviam sido negociados secretamente na Noruega nos meses anteriores.

Os chamados Acordos de Oslo – que, como a história mostrou, se mostraram infrutíferos – são o ponto de partida da série “A garota de Oslo”, recém-chegada ao catálogo da Netflix. O trecho do discurso de Clinton está na abertura da produção israelo-norueguesa – em um arremedo do que “Homeland” fez também em sua abertura, utilizando as vozes de cinco presidentes americanos.

Esta “coincidência” não chega a ser um problema maior na produção. Há questões mais graves no enredo. Em 10 episódios, a série, falada em norueguês, hebraico, árabe e inglês, parte de um drama pessoal que se torna uma questão geopolítica. 

Em Oslo, Alex Bakke (Anneke von der Lippe) e Karl (Anders T. Andersen) chegam ao apartamento da filha Pia (Andrea Berntzen) para comemorarem seu aniversário. Descobrem que a estudante de medicina viajou para Israel. Alex, que teve uma briga terrível com a filha, tenta ligar para ela. 

Mas Pia está na praia, no Sinai, no Egito, com seus dois novos amigos israelenses: os irmãos Nadav (Daniel Litman) e Noa Solomon (Shira Yosef). Não atende a mãe. Na volta para Israel, o carro em que o trio estava é interceptado por agentes do Estado Islâmico, e os três jovens são sequestrados.

TROCA 


Sem notícias da filha, Alex pega um voo para Israel e o primeiro lugar que procura é a Inteligência, onde seu velho amigo Arik (Amos Tamam) é o manda-chuva – ele, vale dizer, está sendo cogitado para ser o novo primeiro-ministro israelense. 

Os dois se conheceram durante os Acordos de Oslo. Logo logo serão notificados do sequestro. O EI exige, para libertar os três jovens, uma troca de prisioneiros: 12 palestinos detidos em Israel e o terrorista Abu Salim (Abhin Galeya), que cumpre pena em uma prisão norueguesa.

Este é só o ponto de partida da narrativa, que traz um componente que irá complicar a vida de Arik: Alex revela que Pia é, na verdade, sua filha. O drama novelesco vai se desenvolvendo em cenas dramáticas e sequências de ação. 

É tudo muito improvável, como assistir à menina Pia escapando do EI no meio do deserto do Sinai (é risível acompanhar os terroristas tentando arrumar o carro quebrado no meio da noite enquanto a jovem consegue fugir, tal qual uma super-heroína).

A história vai longe, com desdobramentos – e novas “coincidências” – de cair o queixo. Alex circula por Israel e pela Faixa de Gaza como quem vai ao supermercado. Um líder do Hamas entra na história, bem como o filho de uma amiga palestina da mãe norueguesa que acabou se envolvendo com o EI. E do lado da Noruega, Karl, o pai de Pia, um advogado poderoso, é forçado a tentar libertar Abu Salim.

Os fãs de séries israelenses, capitaneadas pelo sucesso “Fauda”, vão reconhecer rostos do elenco e também várias situações. Com capítulos curtos – meia hora, em média – “A garota de Oslo” vai caminhando em sequências de improbabilidades para, no fim, se tornar uma história de bandidos versus mocinhos. Esta visão maniqueísta é deveras anacrônica para uma história criada em 2021. 

“A GAROTA DE OSLO”
 A série, com 10 episódios, está disponível na Netflix.


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