Toda lista é subjetiva. Uma dose de gosto pessoal faz parte de qualquer seleção. Mas não há como fugir de alguns títulos para elencar as séries que foram destaque em 2021. A sul-coreana “Round 6”, a despeito do mote sombrio, foi a produção que virou febre no ano. Entre as 10 séries selecionadas nesta retrospectiva, há produções de diferentes gêneros e plataformas, em uma tentativa de ser o mais abrangente possível, a despeito da limitação do espaço. O único critério foi escolher títulos (séries e minisséries) que estrearam neste ano – não há na lista, portanto, segundas ou terceiras temporadas de produções que também fizeram barulho.
“Mare of Easttown”
Com as doses exatas de realismo e dor, Kate Winslet conseguiu que a personagem-título, uma detetive machucada pela vida em uma cidade interiorana dos EUA, deslumbrasse audiências mundo afora. A trama gira em torno de dois crimes em uma cidadezinha na Pensilvânia: o desaparecimento não resolvido de uma jovem e o assassinato de uma adolescente. Com um início morno, a narrativa vai se intensificando no decorrer dos episódios. A resolução é surpreendente, sem deixar nenhuma ponta solta. (Sete episódios.)
•Onde assistir: HBO Max
“Dopesick”
Baseada no livro-reportagem homônimo, a produção acompanha o início da epidemia do vício em analgésicos nos EUA, que, desde o final dos anos 1990, já matou 750 mil pessoas. Três núcleos de personagens transitam em diferentes momentos temporais. As vítimas (os habitantes de uma pequena cidade mineradora); os algozes (o clã Sackler, que fez bilhões com o medicamento OxyContin em cima de corrupção e mentiras); e os juízes (um grupo de procuradores quixotescos). É assustador, triste e tocante – com uma interpretação irrepreensível de Michael Keaton. (Oito episódios.)
•Onde assistir: Star+
“Only murders
in the building”
Dois veteranos da comédia que andavam meio esquecidos e uma estrela da geração millenial. A improbabilidade do encontro de Steve Martin e Martin Short com Selena Gomez é uma das armas desta comédia amalucada, que relê o passado sob os olhos do presente. O trio, que vive em um edifício quatrocentão de Nova York, se une para resolver um crime no local – por meio de um podcast. Participações especiais (de Sting a Tina Fey), quebras da quarta parede, piadas sobre a diferença de gerações. Tudo dá certo nesta série, que vai ganhar uma segunda temporada. (10 episódios.)
•Onde assistir: Star
“Round 6”
O enredo é duvidoso: 456 pessoas afundadas em dívidas entram em um jogo; o vencedor fica milionário, os perdedores são mortos. Nenhuma série, no entanto, moveu neste ano uma audiência tão grande (e global) quanto este drama sombrio. Uma segunda temporada está a caminho. O curioso do sucesso repentino é que a série levou uma década para sair do papel. A repercussão serviu ainda para trazer um novo público para a produção sul-coreana, que já era uma referência entre os dramas açucarados. (10 episódios.)
•Onde assistir: Netflix
“The underground railroad”
Adaptação do romance homônimo de Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer em 2017, a série tem na direção o cineasta Barry Jenkins, do oscarizado (três estatuetas) “Moonlight: Sob a luz do luar”. A narrativa acompanha um grupo de pessoas que ajudava os escravos a escaparem por meio de uma ferrovia subterrânea. A personagem central é Cora, que foge de uma plantação na Geórgia e se vê assombrada pela captura iminente de um caçador de escravos. Com longos planos e silêncios, a série atinge o espectador em cheio, pela força das imagens. (10 episódios).
•Onde assistir: Amazon Prime Video
“The white lotus”
Um grupo de pessoas – hóspedes e funcionários – durante uma semana em um resort praiano. Deste cenário absolutamente comum surgiu uma das surpresas do ano. Tragicomédia misturada com sátira social, a série acompanha, com cinismo e grandes atuações, as férias de um grupo de elite no Havaí. Assassinato, roubo, romance, drogas, elementos que fazem uma história estão reunidos na trama, que é um ótimo exemplo de como a TV atual consegue ser grande, quando não há limite de gênero. É engraçada e triste ao mesmo tempo. (Sete episódios.)
•Onde assistir: HBO Max
“Missa da meia-noite”
Mike Flanagan vem se tornando uma referência em terror. A mais recente produção do diretor e roteirista versa sobre os perigos do fanatismo religioso. Ambiciosa, a produção acompanha uma pequena comunidade que vive numa ilha remota. A chegada de um morador recém-saído da cadeia e de um jovem padre suscitam um confronto entre o sagrado e o profano. Com longas tomadas e monólogos e um cuidado estético acima da média, a produção surpreende, ainda que no final recaia uma resolução previsível. (Sete episódios.)
•Onde assistir: Netflix
“Get back”
Foram os Beatles (quem mais?) que, no apagar das luzes de 2021, se tornaram o assunto mais quente da música pop. Sob o olhar do cineasta Peter Jackson, que nos deu um presentão depois de ele mesmo ser agraciado: recebeu quase 60 horas de filmagem e mais de 200 horas de áudio de material inédito da banda, no início 1969, quando as tensões internas começavam a acumular. São nove horas divididas em discussões, mas também brincadeiras e palhaçadas. Muita música, o que é mais importante, e algumas revelações. (Três episódios.)
•Onde assistir: Disney
“Cidade invisível”
Veterano da animação, o brasileiro Carlos Saldanha, há muito radicado nos EUA, foi atrás do folclore brasileiro em sua estreia em séries de live action. No Rio de Janeiro atual, a morte suspeita de uma mulher deixa um policial viúvo e uma garota sem mãe. O que se anuncia como um drama familiar vai incorporando outras fontes – suspense, fantasia – e colocando em cena lendas brasileiras (Iara, boto cor-de-rosa, Cuca, Saci) ao lado de questões ambientais. Bem-feita, com elenco correto e uma história universal, a série tem atrativos para diferentes públicos. (Sete episódios.)
•Onde assistir: Netflix
“O caso Evandro”
A tendência de séries baseadas em crimes reais e derivadas de podcasts chegou ao Brasil por meio desta impactante produção. O desaparecimento de um menino de 6 anos em uma cidade litorânea paranaense em 1992 teve repercussão nacional e gerou o mais longo júri da história da Justiça brasileira. Seus desdobramentos tomaram as décadas seguintes: corrupção, incompetência e injustiça impactaram diferentes grupos de pessoas. A seriedade com que a produção foi criada trouxe novas revelações, que fizeram com que o caso fosse reaberto. (Nove episódios.)
•Onde assistir: Globoplay