Dois grandes nomes da arte mineira foram envolvidos em anúncio falso sobre o reconhecimento da sua obra musical como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Documento supostamente da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que concede a honraria, foi enviado à imprensa na quinta-feira (30/12), informando sobre o título que teria sido conferido aos compositores mineiros Tavinho Moura e Fernando Brant (1946-2015), do legendário Clube da Esquina. Nada, no entanto, corresponde à verdade, conforme garantiu a Unesco na noite desta segunda-feira (3/1).
Em nota (leia a íntegra abaixo) divulgada há pouco, a direção da Unesco, com sede em Paris, França, esclareceu que, “a despeito da relevância e da importância do trabalho musical dos artistas mineiros, a notícia não é verdadeira. Jornais e sites receberam um documento falso, com a logomarca da Unesco e a assinatura do diretor-geral adjunto de Cultura da Organização, sr. Ernesto Ottone, que foram utilizadas sem autorização.”
Leia Mais
Recital gratuito celebra 50 anos do Clube da EsquinaBar do Museu Clube da Esquina festeja aniversário com agenda híbridaBituca, Lô, Samuel Rosa e Fernanda Takai homenageiam Fernando BrantTavinho Moura desabafa sobre fake news envolvendo Clube da EsquinaClube da Esquina: projeto vai lançar obra como Patrimônio Imaterial de MGEstandartes das bordadeiras de Caeté contam a história da cultura de MinasA nota diz ainda que “o documento cita o nome de Lucas Guimaraens como embaixador da Unesco. Essa informação é falsa. A referida pessoa não é embaixadora da Unesco”.
Bem cultural
A Organização destaca que a inclusão de um bem na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade não é uma decisão unilateral de um Estado-membro. Tal inclusão segue um procedimento definido pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco.
Cada Estado-membro do Comitê prepara uma lista tentativa de práticas e expressões culturais em seu território, que representem a diversidade do patrimônio imaterial e contribuam para uma maior consciência sobre sua importância. Cabe salientar que essa é uma atribuição do governo de cada Estado-membro.
Anualmente, o referido Comitê Intergovernamental avalia as candidaturas dos Estados-membros e decide sobre novos bens a serem incluídos na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
E a Unesco diz mais: “A última reunião do Comitê ocorreu em novembro de 2021. A obra musical dos artistas mencionados não constava na lista de avaliação do Comitê. A lista com os bens já inscritos na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco pode ser encontrada no seguinte link: https://ich.unesco.org/en/lists (em inglês)".
A direção da Unesco lamenta e repudia a disseminação de qualquer informação ou notícia falsa. A Organização lidera iniciativas nesse sentido: recentemente, com o apoio de especialistas, pesquisadores e profissionais de comunicação, lançou o manual “Journalism, Fake News & Desinformation”, com o objetivo de somar esforços no combate à desinformação e orientar jornalistas sobre as práticas de investigação de alta qualidade. A publicação pode ser acessada aqui.
“Com o avanço da COVID-19 nos últimos dois anos, a Unesco conduziu outra ação de combate à desinformação durante a pandemia. Uma parceria com o Instituto Serrapilheira e a Agência Lupa produziu conteúdos analíticos para a Folha de S.Paulo e o portal UOL, a partir da checagem de dados na plataforma CoronaVerificado. A base de checagens organizou informações verificadas por sites e agências de fact-checking em toda a América Latina, além da Espanha e de Portugal".
Apuração
Na quinta-feira (30/12), ao tomar conhecimento do documento, a equipe do Estado de Minas entrou em contato com o escritório da Unesco, em Brasília (DF), para apuração dos fatos sobre a suposta concessão do título à obra de Tavinho Moura e Fernando Brant. A assessoria de imprensa da instituição da Organização das Nações Unidas ficou de dar uma resposta, e, no dia seguinte, adiantou que o esclarecimento seria feito hoje, pela sede em Paris.
Enquanto isso, a reportagem entrou em contato com a família de Fernando Brant, que ficou sabendo do título, na noite do dia 26 de dezembro, após um telefonema de Tavinho Moura. Na quinta-feira (30/12), foi enviado um e-mail a Tavinho Moura, já que seu telefone não atendia – a informação recebida é que ele não teria celular.
Na suposta carta da Unesco, em francês com tradução em português, endereçada a “Monsieur (senhor) Otávio Augusto Pinto de Moura e Monsieur Fernando Rocha Brant (im memoriam)”, assinada por Ernesto Ottone R. e Jacques Poulain, é citado o “senhor embaixador Lucas Guimaraens”.
Está escrito: “Após sete anos de pesquisas e reuniões com o senhor embaixador Lucas Guimaraens e sua equipe, vimos, por meio deste, informar que vossa obra poético-musical foi reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade no dia 25 de novembro de 2021, com a unânime aprovação da Assembleia Geral da Unesco”.
Nota da Unesco na íntegra
"Em relação às informações divulgadas por alguns meios de comunicação e em redes sociais na última semana, sobre a suposta inclusão da obra musical dos artistas Fernando Brant e Tavinho Moura na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização esclarece que, a despeito da relevância e da importância do trabalho musical dos artistas mineiros:
- A notícia não é verdadeira. Jornais e sites receberam um documento falso, com a logomarca da UNESCO e a assinatura do diretor-geral adjunto de Cultura da Organização, sr. Ernesto Ottone, que foram utilizadas sem autorização.
- O documento cita o nome de Lucas Guimaraens como embaixador da UNESCO. Essa informação é falsa. A referida pessoa não é embaixadora da UNESCO.
- A Organização destaca que a inclusão de um bem na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade não é uma decisão unilateral de um Estado-membro. Tal inclusão segue um procedimento definido pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO. Cada Estado-membro do Comitê prepara uma lista tentativa de práticas e expressões culturais em seu território, que representem a diversidade do patrimônio imaterial e contribuam para uma maior consciência sobre sua importância. Cabe salientar que essa é uma atribuição do governo de cada Estado-membro. Anualmente, o referido Comitê Intergovernamental avalia as candidaturas dos Estados-membros e decide sobre novos bens a serem incluídos na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
- A última reunião do Comitê ocorreu em novembro de 2021. A obra musical dos artistas mencionados não constava na lista de avaliação do Comitê. A lista com os bens já inscritos na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO pode ser encontrada no seguinte link: https://ich.unesco.org/en/lists (em inglês).
- A UNESCO lamenta e repudia a disseminação de qualquer informação ou notícia falsa. A Organização lidera iniciativas nesse sentido: recentemente, com o apoio de especialistas, pesquisadores e profissionais de comunicação, lançou o manual “Journalism, Fake News & Desinformation”, com o objetivo de somar esforços no combate à desinformação e orientar jornalistas sobre as práticas de investigação de alta qualidade. A publicação pode ser acessada aqui: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000265552
- Com o avanço da COVID-19 nos últimos dois anos, a UNESCO conduziu outra ação de combate à desinformação durante a pandemia. Uma parceria com o Instituto Serrapilheira e a Agência Lupa produziu conteúdos analíticos para a Folha de S.Paulo e o portal UOL, a partir da checagem de dados na plataforma CoronaVerificado. A base de checagens organizou informações verificadas por sites e agências de fact-checking em toda a América Latina, além da Espanha e de Portugal.
- A UNESCO está apurando a origem do material falso mencionado anteriormente, que cita sem autorização a Organização, bem como tomará as providências cabíveis para responsabilizar os autores do documento".