A monumental obra de Amílcar de Castro (1920-2002), atualmente abrigada no museu criado em Dom Silvério (MG) por Márcio Teixeira – morto no ano passado, maior colecionador privado de peças do artista –, vai pegar a estrada e se lançar aos olhos do país. São 67 esculturas de grande porte, algumas pesando 15t, que começam a rumar, a partir desta quinta-feira (6/1), para Brasília, onde um grande projeto será inaugurado em 22 de fevereiro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
“O jardim de Amílcar de Castro: neoconcreto sob o céu de Brasília” ficará em cartaz no Parque das Esculturas, jardim a céu aberto que o CCBB-Brasília inaugura junto da exposição, com entrada franca.
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As obras devem ficar, no mínimo, dois anos e meio no Parque das Esculturas – período que pode ser renovado por outros dois anos e meio. Depois, seguirão para outras unidades do CCBB no país.
Antes de partir para a nova casa, as 67 obras, espalhadas em locais públicos e privados da cidade mineira, precisaram ser retiradas de lá e reunidas. Equipe de técnicos do Ipac está em Dom Silvério desde segunda-feira trabalhando nos preparativos da viagem.
“Será um transporte em larga escala, porque são obras muito pesadas. Elas começam a ser içadas por guindastes e colocadas nas carretas na quinta-feira (hoje). A previsão é de que estejam todas em Brasília até o final da próxima semana”, diz Daiana.
Filho de Amílcar, Rodrigo Castro não participou da organização do projeto, formalizado no ano passado com a participação do próprio Marcio Teixeira, mas acompanha com entusiasmo a iniciativa. Ele não considera que Minas Gerais esteja perdendo com a saída das esculturas de Dom Silvério.
“Olho pelo lado da arte. Olhando por esse lado, acho que o país inteiro ganha, porque é um evento público de grande dimensão e impacto, que facilita e democratiza o acesso de pessoas que normalmente não teriam acesso a essas obras. É sempre positivo dar visibilidade a artistas importantes na história da arte e da cultura. Na verdade, acho que é um evento muito bom para o estado, porque vai se falar de um artista mineiro e de uma arte que é de Minas”, aponta.
DESTINO FINAL
De acordo com Daiana, após a exposição em Brasília e a circulação pelas unidades do CCBB, o inventário vai determinar o destino final das esculturas. Ela adianta que a família de Márcio Teixeira não tem interesse em se desafazer do acervo – o que inclui as esculturas de Amílcar e outras obras que o compõem.Teixeira começou a projetar o museu em Dom Silvério, sua terra natal, em meados dos anos 2000.Economista e consultor financeiro, conheceu Amílcar de Castro na década de 1990, por meio de um amigo em comum.
A partir dali, a relação entre os dois se estreitou. Na época, Teixeira havia começado a colecionar arte e nutria o desejo de criar um museu. Amílcar foi uma espécie de consultor do projeto. Quando a ideia começou a sair do papel, o colecionador já contabilizava mais de 650 obras do artista.
INTERAÇÃO COM O PÚBLICO
O projeto “O jardim de Amílcar de Castro: neoconcreto sob o céu de Brasília”, que vai ocupar uma área de 20 mil metros quadrados, tem o intuito de valorizar o trabalho do artista plástico e completá-lo com as paisagens brasilienses, fazendo relação entre o plano e o tridimensional. O público poderá interagir com as esculturas.Além da exposição, serão desenvolvidos site, aplicativo, catálogo, seminários, palestras, mesas-redondas e oficinas de visitação. A mostra propõe uma leitura sobre o que poderia ter sido o encontro do trabalho neoconcreto de Amílcar de Castro com a arquitetura e o urbanismo de Brasília.