Jornal Estado de Minas

CINEMA

''Vingança e castigo'', com Idris Elba, questiona o racismo dos westerns


“Tem muita gente que gostaria que essa história não fosse revelada”, afirmou o rapper americano Jay-Z a respeito de “Vingança e castigo” (“The harder they fall”), produzido por ele e em cartaz na Netflix. O filme pretende corrigir ideias equivocadas sobre o gênero western – a principal é o “mito” de que todos os caubóis eram brancos.





Com elenco negro de peso – Idris Elba, Regina King, Zazie Beets, Jonathan Majors, Lakeith Stanfield, RJ Cyler, Delroy Lindo –, o longa é dirigido pelo britânico Jeymes Samuel, também conhecido como The Bullits, músico, cineasta e irmão do cantor Seal.

A trama traz caubóis negros, indígenas e foragidos da lei, como Nat Love, Rufus Buck e Cherokee Bill, que viveram em diferentes locais e momentos históricos. O cineasta Samuel garante: um em quatro caubóis era negro.

Regina King, como a corajosa Trudy Smith, quebra estereótipos machistas, a marca registrada do faroeste (foto: Netflix/divulgação)


A TRILOGIA DE EASTWOOD E LEONE

Clássicos do gênero em Hollywood deixaram as minorias de fora, como foi o caso da icônica “Trilogia dos dólares”, do italiano Sergio Leone, peça fundamental do chamado spaghetti western – com Clint Eastwood no papel principal e música do falecido maestro italiano Ennio Morricone.




A “cereja do bolo” do novo filme, lançado no final de 2020, é mostrar os que foram ignorados nos típicos westerns, afirma o diretor. De acordo com Jay-Z, a abordagem mais documental teria “afastado as pessoas”, reduzindo o impacto da produção.

A trilha sonora de “Vingança & castigo” traz ampla gama de influências, incluindo o astro do reggae Barrington Levy. O rap e a narrativa estão entrelaçados e “funcionam muito bem como fios condutores”, acrescenta Jay-Z.

“Quando você ouve Barrington Levy, pensa: bom, isso não é música do Velho Oeste. Mas a melodia italiana em 'Oklahoma' também não era!”, destaca o rapper.



O longa marca a estreia de Jeymes Samuel, de 42 anos, na direção. Graças a ele, Idris Elba, seu velho amigo, aceitou fazer o papel de Rufus Buck, fugitivo violento e muito temido no Velho Oeste. “Crescemos juntos fazendo coisas bobas e agora estamos fazendo um western”, comentou o ator em entrevista.





O cineasta cresceu assistindo a westerns na televisão britânica. “O gênero sempre me pareceu sedutor”, observa Samuel, explicando que sua ideia é torná-lo mais inclusivo.

“O universo no qual ocorriam essas histórias era muito estreito, as mulheres sempre apareciam submissas”, afirma. “Nos westerns, se você fosse uma pessoa de cor parecia menos humano.”


STREAMING É A TELA CERTA

O coprodutor James Lassiter considera a plataforma de streaming o lugar certo para exibir o filme. “Se queremos explicar uma história como esta, com essa seleção de atores, maior número de pessoas terá acesso a ela”, diz.

“Quando um filme sai nos cinemas, há preconceitos integrados, como o de que ninguém vai assisti-lo com um casting só de negros”, argumenta Lassiter. “É evidente que há racismo sistêmico na nossa sociedade, que levará tempo para desaparecer totalmente”, observa Idris Elba. “Mas a pandemia mostrou que todos somos humanos e essa coisa de raça é bastante estúpida.”

“VINGANÇA E CASTIGO”
Filme de Jeymes Samuel. Com Idris Elba, Regina King, Zazie Beets e Jonathan Majors. 139 minutos. Disponível na Netflix




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