(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas POP

The Weeknd se repete ousadamente no disco ''Dawn FM''

Canadense dobra a aposta no R&B mesclado à música eletrônica, com letras sobre sexo, amor, drogas, destino e morte. Jim Carrey é o locutor desta ''rádio''


12/01/2022 04:00 - atualizado 11/01/2022 23:46
677

The Weeknd, com o rosto envelhecido por efeitos de maquiagem, na capa do disco Dawn FM
The Weeknd, de 31 anos, surge envelhecido na capa de seu novo disco, que, segundo ele, é "comemorativo" e "desolador" (foto: Republic Records/divulgação )

Na era dos singles e do consumo rápido de música por meio das plataformas digitais, é cada vez mais raro um artista pop internacional sustentar um universo narrativo e conceitual em torno de seu álbum. Os que ainda conseguem fazer isso têm base de fãs bastante sólida, o que permite jogadas ousadas, como anunciar a chegada de um trabalho poucos dias antes do lançamento.

The Weeknd é um deles. O cantor e compositor canadense lançou, na última sexta-feira (7/1), seu quinto álbum de estúdio, “Dawn FM”. Sucessor do elogiado “After hours” (2020), o trabalho foi anunciado de surpresa, em 3 de janeiro, e é o primeiro grande lançamento musical deste ano, vide a resposta da crítica e do público.
 

FEAT JIM CARREY

Assim como em seus trabalhos anteriores, The Weeknd constrói, neste novo disco, o conceito que deve acompanhar toda a divulgação do trabalho. Na capa, ele apresenta a nova versão de si mesmo, maquiado de forma a deixá-lo muito mais velho. No conteúdo, “Dawn FM” é apresentado como uma estação de rádio cujo narrador é Jim Carrey.

Na primeira faixa, homônima ao álbum, o ator diz: “Você está ouvindo agora a 103.5 Dawn FM. Você que esteve no escuro por tempo demais, é hora de caminhar para a luz e aceitar de braços abertos o seu destino. Com medo? Não se preocupe, estaremos lá para segurar suas mãos e te guiar através dessa transição. Por que a pressa? Só relaxe e aproveite uma hora de música comercial.”

Irônica e existencial, a fala de Carrey serve de introdução para mais um álbum em que The Weeknd aborda, com angústia, as questões da vida. Em entrevista à Billboard, o cantor definiu o disco como  “estação de rádio do purgatório”, e acrescentou: “Imagine o álbum como se o ouvinte estivesse morto”.

Tem mais: “Ele (o ouvinte) está preso nesse estado de purgatório que sempre imaginei que seria como estar preso no trânsito. Nesse contexto, ele coloca numa estação de rádio com um locutor que quer te guiar para a luz e te ajudar na transição para o outro lado. Então, pode parecer comemorativo, pode parecer desolador, como você quiser que pareça, mas é isso que 'Dawn' é para mim”, diz o canadense.

A ideia é misturar diferentes estilos na mesma música. Apesar disso, “Dawn FM” não apresenta novidades sonoras para o universo de The Weeknd. As letras sobre sexo, drogas e relacionamentos que não deram certo continuam embaladas pelo R&B mesclado à música eletrônica.



Mais uma vez, é bastante clara a referência aos anos 1980, principalmente nas faixas “How do I make you love me?”, “Take my breath” e “Sacrifice”. As três são especialmente dançantes, assim como a ótima “Gasoline”, que parece saída de um álbum do extinto duo francês Daft Punk.

A partir da sétima faixa, “Out of time”, “Dawn FM” se torna álbum de baladas, anunciado por Jim Carrey desta forma: “Os próximos 30 minutos serão de faixas lentas e fáceis de ouvir”.

Na segunda parte do registro, The Weeknd mostra que passou boa parte da vida ouvindo Michael Jackson. Prova disso está em “Best friends”, “Is there someone else?” e “Starry eyes”. Com synths e letras espertas, elas falam de amor de forma nada óbvia.

"Você que esteve no escuro por tempo demais, é hora de caminhar para a luz e aceitar de braços abertos o seu destino. Com medo? Não se preocupe, estaremos lá para segurar suas mãos e te guiar através dessa transição. Por que a pressa? Só relaxe e aproveite uma hora de música comercial"

Jim Carrey, narrador de "Dawn FM"


VIOLÃO, AMOR E MORTE

O disco culmina em “Less than zero” e “Phantom regret by Jim”. A primeira traz um dos poucos instrumentos orgânicos do trabalho, o violão. Na letra, The Weeknd pede desculpas por questões amorosas mal resolvidas. A segunda é a volta de Jim Carrey na narração com uma fala sobre a morte.

Como toda boa rádio, “Dawn FM” traz convidados especiais, que deixam sua marca nas músicas de que participam. O lendário produtor Quincy Jones dá lições de vida ao som de instrumental oitentista na faixa “A tale by Quincy”, enquanto o rapper Tyler, The Creator é a estrela do refrão de “Here we go... Again” e Lil Wayne canta alguns versos em “I heard you're married”.

As parcerias também se destacam. The Weeknd trabalhou com nomes de peso da indústria, como o compositor e produtor sueco Max Martin (“Take my breath”; “Out of time”) e o DJ e produtor britânico Calvin Harris (“I heard you're married”). O grupo Sweedish House Mafia comparece em “How do I make you love me?”.

O parceiro principal do canadense é Daniel Lopatin, também conhecido pelo codinome Oneohtrix Point Never.

Com 16 faixas distribuídas em quase 52 minutos, “Dawn FM” é um disco adequadamente ambicioso. Cada música tem apelo suficiente para virar hit e ser lançada como single.

Talvez The Weeknd não repita o feito histórico de manter uma canção durante o ano inteiro no top 10 da Billboard – caso de “Blinding lights”, entre 2020 e 2021 –, mas com o novo disco ele deixa claro que suas expectativas não ficam muito abaixo disso.

O músico The Weeknd se apresenta no intervalo do Superbowl, em 2021
Bom de palco, o artista canadense foi a única atração do badalado Superbowl, em 2021 (foto: Mike Ehrmann/AFP/2021 )


POP RELEVANTE


Aos 31 anos, Abel Tesfaye (seu nome real) é um dos poucos homens a se manter relevante no pop contemporâneo.

Quem não o acompanhou nos últimos anos perdeu a trajetória do canadense, que começou como promessa da música independente com as mixtapes “House of balloons” (2011), “Thursday” (2011) e “Echoes of silence” (2011), reunidas na coletânea “Trilogy” (2012).

Com o disco de estreia, “Kiss land” (2013), The Weeknd já demonstrava fôlego e vontade de renovar o R&B ao incorporar influências da música eletrônica. Isso ficou ainda mais evidente em “Beauty behind madness” (2015), álbum com os hits “Can't feel my face” e “Earned it”.

No terceiro disco, “Starboy” (2016), ele se associou a uma das maiores referências da eletrônica, o extinto duo francês Daft Punk. E com o quarto, “After hours” (2020), driblou a pandemia e alcançou a consagração comercial. Tanto é que foi convidado para ser a atração única do intervalo do Super Bowl em 2021. E fez apresentação memorável.

Em todos esses trabalhos, assim como em “Dawn FM”, The Weeknd consegue criar e manter um universo tão particular que tudo parece autêntico e novo, mesmo quando está cheio de referências ao passado.

“DAWN FM”

. Disco de The Weeknd
. 16 faixas
. Republic Records/Universal
. Disponível nas plataformas digitais


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)