A partir de sexta-feira (21/1), a Mostra de Tiradentes, o evento audiovisual mais tradicional de Minas Gerais, chega à 25ª edição na cidade onde nasceu.
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A crise do audiovisual em âmbito federal, com o desmantelamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine), e estadual, com ausência de políticas públicas de estímulo à produção mineira, impactou o setor.
Mas não na quantidade, comenta Raquel Hallak, que comanda a Universo Produção, realizadora de Tiradentes. A curadoria, coordenada por Francis Vogner dos Reis, teve de fazer uma seleção entre mais de mil inscritos.
“Grande parte dos filmes, principalmente os curtas, foi realizada com a Lei Aldir Blanc. Muitos oferecem fragilidade técnica. Como a mostra trata do cinema brasileiro contemporâneo, fizemos questão dessa radiografia. Para mim, é este o recado desta edição de Tiradentes: ela mostra a realidade de se fazer filme no Brasil de hoje”, afirma Raquel Hallak.
Tanto por isso, a temática é “Cinema em transição”. O tema abrange não só a crise institucional, como as mudanças sofridas na escala produtiva, de exibição e distribuição, aceleradas pela pandemia.
A extensa programação será apresentada até 29 deste mês em 17 mostras, as principais são Aurora (dedicada a inéditos de realizadores que fizeram até três longas), Olhos Livres (com títulos que primam pela experimentação estética) e homenagem, que vai celebrar a obra do cineasta Adirley Queirós, de Brasília.
Entre os longas inéditos nos cinemas que terão pré-estreias em Tiradentes estão “Carro Rei”, de Renata Pinheiro (cinco troféus em Gramado em 2021), sobre a jovem que consegue se comunicar com carros desde a infância; o documentário mineiro “Lavra”, de Lucas Bambozzi, sobre os impactos da mineração no estado; e “Capitu e o capítulo”, novo filme de Julio Bressane, que relê o clássico “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
RUY GUERRA
Chegado aos 90 anos em 2021, Ruy Guerra, nome referencial da produção autoral brasileira, é tema do documentário “Tempo Ruy”, de Adilson Mendes.
Haverá debates e as mostras “Homenagem”, “Cinema em transição”, “Panorama” e “25 anos”. Foram selecionadas 26 produções que tiveram “momento marcante na cena audiovisual”, segundo Raquel, a partir de sua exibição em Tiradentes.
25ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
De 21 a 29 de janeiro, na cidade histórica mineira. A programação será transmitida no site
www.mostratiradentes.com.br. Gratuito.
ENTREVISTA/ADIRLEY QUEIRÓS
Dez anos atrás, o realizador Adirley Queirós, de Ceilândia, no Distrito Federal, exibiu em Tiradentes seu primeiro longa, “A cidade é uma só?”. Misto de ficção e documentário, acompanha cinco personagens que foram removidos de Brasília para viver na periferia da capital federal. Foi a segunda exibição pública do filme. Queirós saiu impactado da sessão e com o principal prêmio da mostra de 2012.
“Foi muito forte, emocionante, o filme deu uma aderência imediata nas pessoas. Exibir em Tiradentes é um privilégio, pois seu filme ecoa pela noite, pelos debates, é visto por gente que está a fim de uma linguagem nova. Já circulei por festivais internacionais, mas nunca vi um evento no mundo que tivesse a energia de Tiradentes”, diz ele.
Uma década mais tarde, Queirós é o homenageado pela mostra. Serão exibidos sete filmes dele, entre curtas e longas. Na noite de abertura, vai passar “Fragmentos de 2016 em dois episódios”, resultado da montagem inédita, feita especialmente para a mostra, de uma série produzida para a TV Brasil.
“Não é nada pretensioso. Revendo o material, vi um retrato muito foda de Brasília em 2016, exatamente no semestre do impeachment (de Dilma Rousseff), do avanço da direita e de um sentimento já muito pesado das coisas”, comenta Queirós, que, este ano, vai lançar o longa “Mato seco em chamas”. Nos cinemas, pois o streaming não é a praia dele.
Estamos voltando a ver filme no cinema e em festivais depois de quase dois anos assistindo pela TV e pelo computador. Qual é a sua relação com o streaming?
É uma relação dúbia. No começo, não queria ver streaming. Mas como vivemos a pandemia, fui entendendo o momento, inclusive a possibilidade de ver vários filmes que não veria na vida. Entendo perfeitamente os festivais exibirem on-line, e a geração mais nova conseguir se relacionar bem com isso. Mas, particularmente, não gosto de internet, sou velho nesse sentido, não tenho paciência. Sei que é massa, importante, mas os filmes que faço necessitam da energia dos festivais, do público, da crítica.
Ceilândia é sua grande personagem. Já pensou em filmar fora de casa?
A gente filma até hoje na tora, no impulso, com a galera muito próxima. É sempre uma equipe muito pequena, quatro, cinco pessoas. Se couber em um carro está ótimo. Filmar vem do desejo, da aventura. É claro que existe a ideia do ofício, do trabalho, mas acima de tudo do desejo de conversar com aquelas pessoas que sempre viveram em Ceilândia, cidade muito fascinante para mim. Existe ali um mundo que não consigo explorar. As histórias, memórias, a própria dinâmica da cidade. Não é que não tenha o desejo de filmar fora, mas é que gosto de filmar ali, já que meu modelo de produção é muito simples, não tem a ideia de mercado, de laboratório de roteiro. A gente vai e filma.
A ficção científica é marcante em seus filmes. O que estamos vivendo hoje é mais estranho do que a ficção?
Total, a realidade é muito mais pesada. Filmamos “Mato seco em chamas” (coprodução Brasil/Portugal, dirigida com a portuguesa Joana Pimenta) em 2017 e 2018. É filme de pandemia, pois basicamente um vírus ataca Ceilândia, começa a morrer gente na cidade e o Estado a isola, o que gera uma guerra. Filmamos com Exército na rua, muita gente de máscara. Quando começaram a aparecer as imagens desta pandemia, achei as nossas superinocentes. A realidade sempre é mais poderosa
EM CARTAZ
169 filmes
69 longas- metragens
2 médias-metragens
102 curtas-metragens
10 oficinas
52 debates