Em pleno centro de Gaza, um estúdio de televisão do movimento islamita Hamas recria, com bandeiras israelenses e documentos em hebraico, os “escritórios” dos serviços de segurança de Israel para filmar séries com a sua versão do conflito israelense-palestino.
“Fauda”, caos em árabe, apresenta a unidade militar dirigida pelo comandante Doron Kavillio, que planeja invasões nos territórios palestinos.
Em Gaza, enclave palestino controlado pelo Hamas, não é uma boa ideia admitir que já se assistiu à “Fauda”, conta Mohamed Soraya, diretor que atua naquela região.
Ver qualquer série da televisão israelense significa apoiar a “normalização” das relações com Israel, afirma Soraya, que dirige seriado do Hamas sobre o conflito.
De acordo com ele, séries israelenses “apoiam a ocupação sionista” porque suas tramas “criminalizam os palestinos”.
“Queremos mudar a equação para mostrar o ponto de visto palestino, exibir um drama sobre o espírito da nossa resistência”, explica.
O Hamas é considerado organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia. O grupo islamita controla a Faixa de Gaza, com 2,3 milhões de habitantes.
No enclave, ela controla o canal de televisão Al Aqsa e investe em séries inspiradas em Hollywood e nas telenovelas turcas, muito populares no Oriente Médio.
LANÇAMENTO NO RAMADÃ
A série em produção, “Qabdat al-Ahrar” (“O punho dos homens livres”, em tradução livre) aborda uma operação israelense de 2018 na Faixa de Gaza que culminou na morte de sete combatentes do Hamas e um oficial israelense.
Os protagonistas são combatentes palestinos que, desde 2008, lutaram em quatro guerras contra Israel. Os orçamentos são baixos, assim como os salários dos atores. A produção terá de entregar 30 episodios em abril, a tempo para a festa muçulmana do Ramadã.
As produções israelenses costumam incluir atores da minoria árabe, mas as de Gaza não contratam atores israelenses. Isso obriga estúdios a recrutarem atores locais para papéis de israelenses, algo que, segundo os intérpretes, pode expô-los a hostilidades no mundo real.
O diretor e crítico palestino Jamal Abu Alqumsan considera que os seriados têm potencial para contar histórias dos palestinos, mas enfrentam vários desafios.
“Precisamos que produtores invistam em séries de qualidade que contem ao mundo a nossa história. Temos bons atores, precisamos de bons diretores e recursos”, afirma Alqumsan.