Jornal Estado de Minas

CINEMA

Megamutirão de 2 mil produtores vai lançar o filme 'La uruguaya' em março


“Sabia que seria divertido, mas não achava que seria tão divertido”, diz o escritor argentino Hernán Casciari sobre o novo sistema de produção que idealizou para “La uruguaya”, filme financiado por quase 2 mil “sócios”, que também participam do processo criativo da fita, uma forma revolucionária de se fazer cinema.



Os chamados “sócios-produtores”, que ao todo são 1.963, investiram entre US$ 100 e US$ 20 mil no longa-metragem, adaptação do livro “La uruguaya” (2016), de Pedro Mairal.
 

DIVIDENDOS E ATÉ FIGURAÇÃO

O projeto pode render dividendos aos “acionistas”, mas, sobretudo, lhes dá a oportunidade de participar das decisões que envolvem aspectos do filme, como roteiro, seleção de elenco e comercialização. Eles também têm o direito de atuar como figurantes.

O resultado é o projeto cinematográfico argentino-uruguaio que leva o crowdfunding a um nível jamais visto antes.

Quando Casciari leu o romance, meses antes de o livro se tornar best-seller traduzido para vários idiomas, não hesitou em comprar os direitos para levar “La uruguaya” à telona, mediante sistema colaborativo que já tinha em mente há anos.





Para conseguir financiamento, colocou à venda 6 mil títulos de US$ 100 sob a condição de que ninguém poderia comprar mais de 200. Em troca, todo o lucro obtido pelo longa será distribuído proporcionalmente entre os “sócios-produtores”.

“Em dois meses, conseguimos arrecadar os US$ 600 mil necessários para começar a filmar, sem solicitar subsídios, patrocinadores ou pautas publicitárias, conta Joaquín Marqués, um dos coprodutores do filme.

Diretora Ana García Blaya diz que 'La uruguaya' é 'experimento interessante' para o setor audiovisual (foto: Pablo Porciuncula/AFP)

ATORES ESCOLHIDOS POR APP

Para tomar as decisões que envolvem o projeto, sócios-produtores votam por meio de um aplicativo. Exemplo disso foi a escolha de quem encarnaria o casal protagonista, os atores Sebastián Arzeno e Fiorella Bottaioli.





A diretora do filme, Ana García Blaya, também autora de “Las buenas intenciones” (2019), disse que o projeto lhe pareceu um experimento interessante.

“Não acreditei que seria ser assim, pensei que teria mais travas”, revelou a cineasta, referindo-se à quantidade de pessoas envolvidas.


Como a transparência é parte vital do processo, a cada semana é publicado um episódio do podcast “La uruguaya”, que apresenta as novidades sobre a produção do filme, cujo lançamento está previsto para março deste ano.

Além de “La uruguaya”, Casciari e o sócio Christian Basilis já planejaram o segundo projeto audiovisual sob a mesma modalidade: uma série de seis capítulos, cujo processo de financiamento mediante a venda de títulos começou há um mês e meio.

“Creio que vamos a superar o milhão de dólares”, prevê Hernán Casciari. 

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