O dia 20 de janeiro marca os festejos para Oxóssi, orixá da caça e da fartura. No sincretismo religioso, Oxóssi é São Sebastião. Em 2022, a Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba do Rio de Janeiro, terá a entidade como enredo. No último desfile, há dois anos, a homenageada foi a cantora Elza Soares, que morreu nesta quinta-feira (20/1) de causas naturais.
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"Só podemos agradecer por tudo. Consternados! Essa é a nossa despedida! Obrigado, Deusa. Nós não vamos sucumbir nunca!", postou a agremiação, nas redes sociais.
No mundo do samba, os batuques e a alegre cantoria deram lugar à tristeza pela morte daquela que veio do "Planeta Fome" e, para além das letras, se destacou pela luta em prol das mulheres e do povo negro.
"Elza é eterna, sempre será. Ainda estou no susto. Só penso em agradecer tudo o que ela ensinou", escreveu a cantora e compositora Teresa Cristina, no Twitter.
Maria Rita, filha de Elis Regina, relembrou a trajetória de luta escrita por Elza. "Uma perda facilmente estimável: descansa uma das maiores do nosso país, representante da resistência e resiliência de seu povo. Dona Elza, missão cumprida! agora começa a nossa missão: celebrá-la sempre! Que seja recebida em festa, essa incrível mulher de Luz!", postou.
Outro sambista com "DNA", Tunico da Vila fez menção ao amor de Elza por Mané Garrincha, com quem foi casada. A lenda do Botafogo também morreu em um 20 de janeiro, mas há 39 anos.
"Gravei com ela, toquei com ela. Elza agora se torna uma bela nota musical. A voz rouca e negra mais linda aqui no Brasil. Vai na fé, Elza Soares. Garrincha veio buscar você e te levar para caminho das estrelas no dia em que ele se foi também", disse o herdeiro de Martinho da Vila.
"Sua vida foi ensinamento, força e exemplo para milhares de pessoas, querida Elza. Você é resistência, luta, coragem e talento. Obrigado por tanto. Descanse em paz", falou Péricles, ex-Exaltasamba e hoje em carreira solo.
Última homenagem musical em vida veio de Sandra de Sá
O samba de enredo que a Mocidade escolheu usar para homenagear Elza Soares foi composto por um time de letristas liderados por outra cantora negra: Sandra de Sá. Igor Vianna, sambista da nova geração do carnaval brasileiro, foi um dos que escreveu a canção ao lado de Sandra.
Para relembrar o legado de Elza, Igor, filho de Ney Vianna, histórico puxador da Mocidade nos anos 1980, recorreu a alguns versos do samba.
"Se acaso você chegar", com a mensagem do bem/ O mundo vai despertar, deusa da Vila Vintém/ Eis a estrela! Seu povo esperou tanto pra revê-la!", relembrou Igor, hoje puxador do tradicional Império Serrano.
O sucesso de Sandra no carnaval de 2020, inclusive, "inspirou" Elza a compor um samba sobre Oxóssi. Ela ofereceu a letra à Mocidade para o desfile deste ano, mas acabou perdendo o concurso aberto pela escola para a parceria encabeçada por Carlinhos Brown.
Na Mocidade, a tristeza é tanta que o presidente da escola, Flávio dos Santos, decretou luto de três dias e cancelou os eventos programados para a quadra.
O humorista Marcelo Adnet, que é compositor de escolas de samba como São Clemente e Acadêmicos do Sossego, também lamentou a morte de Elza. "Arrepiado. Foi-se nossa deusa Elza Soares!"