Com o direito ao aborto sob ameaça nos Estados Unidos, cineastas apresentam no Festival de Sundance três filmes que destacam os riscos históricos que as mulheres enfrentam ao passar por procedimentos ilegais.
Leia Mais
HBO aposta em 'The gilded age' como a nova 'Downton Abbey'Megamutirão de 2 mil produtores vai lançar o filme 'La uruguaya' em marçoFinal do filme cult 'Clube da luta' é mudado na ChinaSérie sobre Neymar expõe a tensa relação entre o craque e seu paiFilme mineiro 'Marte um' disputa prêmio no Festival de SundanceGeorgina, a companheira de Cristiano Ronaldo, estrela série da NetflixFilme que mostra a decisão de Lady Di pelo divórcio estreia em BHDocumentário crítico a Israel gera controvérsia no Festival de SundanceCotado para o Oscar, 'Summer of soul' conta a história do 'Woodstock negro'Já o premiado “Happening” fala sobre a jovem que arriscou tudo, na década de 1960, para abortar na França. “Vivi nessa época, e acredite: não queremos voltar a isso”, afirmou a atriz Sigourney Weaver, protagonista de “Call Jane”.
CASO ROE VS WADE
Sundance exibe as produções no aniversário de 49 anos do caso Roe versus Wade, com o qual a Suprema Corte estabeleceu jurisprudência para endossar o direito ao aborto nos Estados Unidos.
Agora, o direito constitucional está sob ataque, pois estados dominados pelo Partido Republicano aprovam leis que dificultam o acesso ao aborto.
Defensores do procedimento temem que a atual configuração da Suprema Corte, com três juízes conservadores indicados pelo ex-presidente republicano Donald Trump, restrinja ou até elimine o direito ao aborto.
Phyllis Nagy, diretora de “Call Jane”, revela que se propôs a contar “uma história sobre mulheres que permita outras mulheres se emanciparem”. De acordo com ela, “Call Jane” faz isso “com humor, com um toque de leveza e com certa urgência”.
Há muitos filmes sobre aborto porque o tema é importante, defende Nagy. “Isso é extremamente necessário para que o nosso precioso direito de escolha não desapareça de imediato.”
O coletivo Jane, que surgiu no final dos anos 1960, conectado ao movimento dos direitos civis e contra a guerra do Vietnã, operou até 1973, quando o aborto foi legalizado.
Naquela época, voluntários, em sua maioria mulheres, forneciam conselhos telefônicos e ofereciam apartamentos para improvisar clínicas. Usavam os próprios carros para levar grávidas e ajudavam quem não tinha recursos, arrecadando dinheiro para pagar as operações, ilegais naquela época.
Algumas das “Janes”, inclusive, aprenderam a realizar os procedimentos. “Sem essas mulheres, eu não teria conseguido aproveitar as liberdades das quais desfrutei por toda a minha vida”, afirma a atriz Elizabeth Banks, outra protagonista do filme.
Vários integrantes do grupo foram entrevistados pelo documentário da HBO “The Janes”, que estreou na segunda-feira nos EUA. Um dos depoimentos é o de Heather Booth, que fundou o coletivo ao encontrar o médico que atendeu a irmã de uma amiga, que começou a ter pensamentos suicidas depois de ficar grávida.
“Até falar sobre fazer um aborto era considerado conspiração para cometer um crime”, lembra Heather Booth. Porém, quando a decisão do caso Roe versus Wade foi anunciada, vários membros do grupo foram presos e julgados.
“Estávamos emocionados e pensamos que havia acabado. Quem sabia o que viria depois? Pensávamos que havíamos vencido”, diz outra integrante do grupo, identificada apenas como Jeanne.
ERA ÔMICRON
No domingo (30/1), o festival de Sundance, que exibe o melhor do cinema independente, será encerrado. Realizado no estado americano de Utah, o evento adotou o formato on-line pelo segundo ano consecutivo devido à intensa disseminação da variante ômicron do coronavírus nos Estados Unidos.
Por causa da pandemia, o documentário “The princess”, sobre Lady Di, que abriu o Sundance na semana passada, foi produzido inteiramente a partir de imagens de arquivo.
Sem narrador, ele mostra o tumultuado casamento de Diana com o príncipe Charles, explorando a obsessão da mídia e o impacto de eventos envolvendo a família real britânica.
“É como uma tragédia shakespeariana, mas que muitos de nós vivemos e da qual até participamos”, afirmou Ed Perkins, diretor do filme.
A diretora do festival, Tabitha Jackson, disse que a versão virtual de Sundance provavelmente veio para ficar, mesmo após a pandemia, pois ajudou a “diversificar o público”.
Ao abrir o evento, Robert Redford, cofundador do festival, descreveu o formato on-line como “emocionante evolução da perspectiva do Sundance”.