Jornal Estado de Minas

Proprietário da Livraria Ouvidor decide encerrar atividade

Fundada há 52 anos na tradicional galeria que também a batizou, a Livraria Ouvidor vai fechar. “No entanto, não tenho data (para o fechamento), pode ser que alguém se interesse pelo negócio, várias coisas podem acontecer. Mas nós não vamos continuar com o negócio”, afirma o proprietário Bernardo Ferreira.   
 
Hoje com uma loja na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi, onde está desde 1974, a Ouvidor vem sofrendo, como todo o meio livreiro, com a pandemia e a venda on-line.




 
“O modelo tradicional não funciona porque na venda online, o que manda é o preço. A Amazon vende livros com 40% de desconto, às vezes até pela metade do preço. O que sobra para as livraria de rua é a prestação de serviço, o livreiro que entende, que vai te indicar (um livro). Como as pessoas estão circulando menos, isto afetou e o modelo não se sustenta mais”, continua Ferreira.
 
Ele afirma que a decisão é recente e que quando tudo for definido fará a comunicação pelas redes sociais aos clientes. Ferreira é de uma família de livreiros. A Ouvidor foi fundada por seu pai, Marcelo Coelho Ferreira, sobrinho de Amadeu Rossi Cocco, que fundou em 1948, em frente à Igreja São José, a Livraria Amadeu, o primeiro sebo de Belo Horizonte – desde 1962 ele funciona na Rua dos Tamoios, também no Centro.
 
Ouvidor está na Savassi desde 1974 (foto: Túlio Santos/EM/D.Apress)
Assim como a Livraria Amadeu, que virou referência para o meio livreiro, a Ouvidor também. A Rua Fernandes Tourinho é hoje conhecida como o corredor literário, já que tem como vizinhas outras livrarias de rua, a Quixote e a Scriptum. A Ouvidor conta hoje com três funcionários, entre eles Simone Pessoa. Funcionária da casa há 22 anos, é a mais conhecida livreira de BH.




 
“O que deu a grande baixa em livrarias foi o público universitário. (Quando comecei) Estudante comprava livro, hoje não mais”, diz Simone, bibliotecária de formação que ingressou no mercado há 24 anos, na extinta Travessa. De lá passou para a Ouvidor.
 
Na opinião dela, um bom livreiro tem que ser um leitor constante. “Tem que pesquisar e estar muito atento a tudo o que acontece, na política, literatura e história.” Para ela, o livreiro é também responsável pela “formação do leitor”. 
 
Simone diz que nos últimos meses as obras que mais tem indicado são “Poeta chileno” (Companhia das Letras, 2021), romance de Alejandro Zambra e “Véspera” (Record, 2021), da mineira Carla Madeira. “É um romance para ser lido para qualquer pessoa”, acrescenta. Quanto ao futuro da Ouvidor, Simone diz que vai ficar “até o final de semana”.