Jornal Estado de Minas

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Documentário em que Linn se expôs antes do 'BBB' está no streaming

 

Cantora, compositora, atriz e ativista social, Linn da Quebrada - ou Lina Pereira dos Santos - é um dos nomes mais comentados da 22ª edição do "Big brother Brasil". Para início de conversa, ela foi uma das três participantes que entraram no reality show da Globo depois de seu início oficial, por ter testado positivo para COVID-19 - caso também da influencer e empresária Jade Picon e do ator e cantor Arthur Aguiar. Além disso, Linn é a primeira travesti da história do "BBB" - na 11ª edição, o programa teve a participação de Ariadna Arantes, que se identifica como uma mulher trans.



Aos 31 anos, Linn tem uma carreira independente consolidada como performer e cantora, lançou os discos "Pajubá" (2017) e "Trava línguas" (2021), trabalhou como atriz nas séries "Segunda chamada" (2019), da Globo, e "Manhãs de setembro" (2021), da Amazon Prime Video, e apresenta o talk show "TransMissão", no Canal Brasil. Embora todos esses trabalhos ajudem a entender quem é a multiartista paulistana, nenhum deles tem a potência do documentário "Bixa Travesty" (2018), que mostra parte de sua trajetória.

Disponível no catálogo do Canal Brasil no Globoplay e para compra e aluguel no YouTube, o filme dirigido por Kiko Goifman e Claudia Priscilla, com roteiro dos dois em parceria com Linn, mostra cenas de shows, entrevistas e momentos de intimidade, com o objetivo de revelar a complexidade da artista e de seu trabalho. Recomendado para maiores de 18 anos, o longa aborda temas importantes relacionados à inclusão e visibilidade de travestis e transexuais.



Logo no início do filme, Linn aparece na cozinha de sua casa, junto com sua mãe, Lilian dos Anjos, e duas amigas. As quatro conversam sobre diferentes assuntos, até que dona Lilian trata a filha no pronome masculino e é prontamente corrigida. "Eu vou tatuar na minha testa 'Ela' pra senhora não se esquecer", Linn afirma.



Esta é a mesma explicação que a cantora e atriz deu a Tadeu Schmidt quando o apresentador do "BBB 22" perguntou a ela o significado da tatuagem, depois de alguns colegas de confinamento terem errado o pronome pelo qual Linn quer ser chamada.

CÂNCER E CONSCIÊNCIA

Com imagens de arquivo que a mostram no hospital, quando teve que ser submetida a quimioterapia para tratar de um câncer testicular em 2014, o filme capta, de certa forma, o nascimento de Linn da Quebrada. No longa, ela conta que foi nessa época que tomou ainda mais consciência sobre seu próprio corpo e o significado político que ele carrega.

Com montagem fragmentada, boa parte das imagens do documentário foram gravadas em 2017. A ideia de fazer um filme sobre Linn da Quebrada partiu de Claudia Priscilla, que já tinha uma relação com a artista e com temas LGBTQIA+. De início, o diretor mineiro radicado em São Paulo Kiko Goifman foi reticente à ideia, por julgar Linn ainda muito jovem para uma cinebiografia.



"O que me fez mudar de ideia foi mergulhar no universo da Linn e ver quanto material de arquivo ela tinha", ele diz. "Apesar da pouca idade, ela é de uma geração que tem muita coisa registrada. Foi aí que comecei a ver o potencial."

Goifman comenta que Linn "foi fundamental para a gente contar a própria história dela. A Linn é uma pessoa muito criativa, então a chamamos para criar com a gente, sugerindo personagens e situações que pudessem nos ajudar a construir a narrativa do filme. O maior exemplo disso é a cena em que Linn toma banho com sua mãe. Isso partiu dela".

Para o diretor, o grande trunfo do filme é falar sobre temas ligados à transfobia sem recorrer a dados que mostram o quanto o Brasil é um país transfóbico. "É um documentário político. Considero que é o meu filme mais político. Ele é diretamente antimachismo e antitransfobia, sem precisar falar de dados. Os dados são muito importantes, mas podem ser tratados pelo jornalismo. O que a gente queria com esse filme é mergulhar no cotidiano dessa travesti e mostrar como ela é como ser humano."



COLEÇÃO DE PRÊMIOS

Premiado no Festival de Berlim, onde estreou em 2018 na Mostra Panorama, vencendo o Teddy Award de melhor documentário com temática LGBTQIA , "Bixa Travesty" conquistou também os prêmios de melhor trilha sonora e o do júri popular no Festival de Brasília, além de uma menção honrosa. O documentário acumula  21 prêmios em festivais dentro e fora do Brasil.

Kiko Goifman acredita que o êxito do longa está ligado ao momento em que ele foi produzido e lançado. "Os próprios homens estão sendo confrontados a repensar posturas e acho que o filme toca nesses assuntos. Além disso, temos uma personagem muito forte e uma narrativa que acaba se juntando com as músicas da Linn. Ele não é um filme musical simplesmente, ele tem cotidiano, tem personagens soltos que transitam e personagens secundários fortes."

Apesar de já saber da vontade que Linn tinha de participar do "BBB", o diretor ficou bastante surpreso quando a artista foi confirmada no reality. "Acho que ela está se saindo muito bem. A gente até brincava que ela seria muito explosiva lá dentro, mas ela está conseguindo manter a força dentro de uma leveza, de uma alegria, conseguindo transmitir as ideias dela", avalia.

Para ele, a presença de Linn da Quebrada em um programa do alcance do "Big brother Brasil" é "fundamental". "É um local de extrema visibilidade e acho muito bacana que a Linn esteja ocupando esse lugar. Ela é uma pessoa que reflete muito sobre uma série de questões que hoje estão inevitavelmente na pauta de um programa como o 'BBB'. Além disso, é muito interessante conviver com ela. Quem quiser pode aprender muito."