“Faço mais sucesso aqui do que jamais fiz na música.” A afirmação surpreende por vir de 50 Cent. Um dos nomes mais importantes da indústria do hip hop a emergir nos anos 1990, Curtis James Jackson III, de 46 anos, já vendeu 30 milhões de álbuns e venceu os principais prêmios do mercado fonográfico.
O “aqui” a que ele se refere é a televisão. 50 Cent tem produzido mais séries do que discos – seu mais recente álbum de estúdio é “Animal ambition”, de 2014. Realizou lançamentos musicais desde então – compilações ou singles. As novas músicas geralmente integram as trilhas de suas produções.
Somente no segundo semestre de 2021 ele lançou duas novas séries, ambas produzidas durante a pandemia – “Raising Kanan” e “BMF”. Neste domingo (4/2) lança mais uma, “Power Book IV: Force” – todas elas pela plataforma Starzplay. Atualmente, pelo menos uma dezena de séries têm à frente o nome de 50 Cent.
Assim que a série foi lançada, “Power” foi comparada a “Os Sopranos” (1999-2007). A produção sobre uma família de mafiosos ítalo-americana teve seis temporadas. Pois então, “Power” teria que ter mais. “Na minha cabeça, seriam sete. E quando fizemos a sexta não precisávamos parar”, comenta. A temporada final de “Power” teve 15 episódios, contra os 10 de cada uma das temporadas anteriores. “Foram seis temporadas e meia; sete, tecnicamente”, diz ele, em entrevista ao Estado de Minas.
Tal qual a Marvel, só que com o hip hop, tendo o mundo das ruas e do tráfico como pano de fundo, 50 Cent criou o chamado “Universo Power”. Todos os spin-off são com personagens derivados da série mãe. “Power Book II: Ghost” (2020, com a terceira temporada prometida para este ano) acompanha Tariq St. Patrick (Michael Rainey Jr.), o filho de Ghost que, após a morte do pai, divide-se entre a vida em uma universidade de elite e o legado de crimes que ele deixou. Foi lançada uma semana depois do fim da série original.
O terceiro título, “Power Book III: Raising Kanan” (2021, já com o segundo ano confirmado), acompanha a juventude do personagem Kanan nos anos 1990 – no “Power” original, ele foi interpretado pelo próprio 50 Cent. Já a novíssima “Power Book IV: Force” deixa Nova York e chega até Chicago. Tem como protagonista Tommy Egan (Joseph Sikora), o amigo-irmão de James “Ghost” St. Patrick, agora em busca de uma nova vida.
''Não tenho que encontrar um novo público, tenho que encontrar o meu público''
50 Cent, rapper e produtor audiovisual
DIVERSIDADE
50 Cent dá várias razões para explicar o sucesso da franquia: “Nova York sempre foi uma das personagens de ‘Power’. E todo mundo é representado naquela cidade, incluindo os brasileiros. A ideia era realmente fazer uma história diversa, que tivesse culturas e mundos diferentes”, diz ele.Outro motivo é que ele é o garoto-propaganda de todas as produções. “O ‘Power’ original não teve uma supercampanha de marketing. Cada temporada, inclusive, é divulgada por uma equipe diferente de relações públicas. A única coisa que se manteve igual fui eu divulgando a série e dando suporte a ela. Então, hoje, se você pensa em 50 Cent, pensa em ‘Power’.”
Ele cita ainda a relação próxima com a música – e o rapper também é autor dos temas das séries. “Sempre volto para as minhas raízes. Sem o meu sucesso na música, não teria a oportunidade de fazer séries.”
Em 5 de janeiro passado, em sua conta no Instagram, 50 Cent divulgou dados sobre as séries mais bem avaliadas de 2021 entre o público negro nos EUA. Os três primeiros lugares foram dele: “Power: Ghost”, “Raising Kanan” e “BMF”, respectivamente. “Não tenho que encontrar um novo público, tenho que encontrar o meu público”, afirma.
Neste aprendizado como produtor, e com uma trajetória profissional e pessoal tão turbulenta quanto a de seus personagens (traficou na juventude, foi vítima de atentado, tornou-se uma potência na música e envolveu-se em ações judiciais), 50 Cent descobriu que até questões aparentemente simples se refletem na audiência.
Em 2014, “Power” estreou em 7 de junho, um sábado. A segunda temporada, em 2015, também foi exibida aos sábados. Somente a partir do terceiro ano a produção passou para os domingos – o que ocorreu com as séries que ele lançou desde então. “A maioria das pessoas adultas trabalha de segunda a sexta. O sábado é o dia em que saem, e o domingo é o dia em que ficam em casa. Por isso mudei, mesmo que tenha que competir com os jogos. Foi um processo, mas aprendi rápido”, comenta.
''Sempre volto para as minhas raízes. Sem o meu sucesso na música, não teria a oportunidade de fazer séries''
50 Cent, rapper e produtor audiovisual
NADA (MAIS) A PERDER
O que faz alguém que perdeu tudo? Bem, se for Tommy Egan, ele vai pegar o seu Mustang e se jogar na estrada. No episódio piloto de “Power Book IV: Force”, que estreia hoje, o personagem de Joseph Sikora deixa Nova York com a intenção de se mudar para Los Angeles. Mas decide fazer uma parada em Chicago, para resolver uma questão do passado. Só que tudo acontece – e Tommy decide refazer sua vida na “cidade dos ventos”.
“Tommy é um homem machucado. Perdeu todos os que lhe eram próximos: Ghost, seu irmão, a mãe, a namorada, a mãe do filho que não nasceu. Ele vive com dor e arrependimento, e isto vai trazer muitas consequências para tudo o que fizer. Um dos aspectos que mais gosto dele é que Tommy faz suas próprias leis. Ele não veio ao mundo para agradar ninguém, não se importa se gostam ou não dele”, afirma Sikora.
Coprotagonista de “Power” e agora dono de sua própria série, Tommy vai se envolver com as duas maiores gangues de Chicago. Quer se tornar o maior traficante local, e por isto não deve fidelidade a ninguém. Já no primeiro episódio, somos apresentados aos novos parceiros do personagem no crime.
DISPUTA
Um deles é Water Flynn (Tommy Flanagan), o chefão de uma família que tem alguns negócios legítimos e outros escusos. A parte, vamos dizer, “limpa” da história fica a cargo da filha, Claudia (Lili Simmons), que quer porque quer colocar a mão na parte suja. O pai não deixa, pois ali é o território do filho, Vic (Shane Harper). Recém-chegado a Chicago, Tommy esbarra com Vic. A animosidade é recíproca e a disputa irá além das drogas, pois ambos estão interessados em Gloria (Gabrielle Ryan), uma bartender que parece não depender de ninguém.“Tommy é como um animal encurralado. Ou ele nada, ou afunda. No começo da série ele está no fundo do mar. Só que uma descoberta irá levá-lo a nadar. Ele vai fazer o que tiver que ser feito”, comenta Sikora. Já na estreia não faltam cenas de luta, de sexo e de um possível drama familiar.
Natural de Chicago, onde viveu mais da metade de seus 45 anos, Sikora diz que foi um prazer filmar “Force” na cidade. “Apesar do frio, pois lá é diferente, ele parece que entra nos seus ossos. Para mim foi surreal filmar nas ruas onde cresci. Fiz muito teatro em Chicago, e há vários atores locais que participam da série. Fiquei orgulhoso por isto.”
Agora, se Chicago será uma personagem como Nova York foi em “Power”, só o tempo irá dizer. “’Power’ teve seis temporadas e meia para mostrar Nova York em sua multiplicidade. ‘Force’ mostra uma camada de Chicago; caso tenhamos outras temporadas, com certeza mostraremos outros lados”, diz Sikora.
“POWER BOOK IV: FORCE”
Série em 10 episódios. O primeiro estreia neste domingo (6/2), na Starzplay. Os demais serão lançados semanalmente, sempre aos domingos.