Certeza não há nenhuma, pois as cartas serão apresentadas somente nesta terça-feira (8/2). A 94ª edição do Oscar, com cerimônia em 27 de março, começa a ficar quente a partir de amanhã. Às 10h18 (horário de Brasília), os atores Leslie Jordan e Tracee Ellis Ross anunciam os candidatos às 23 categorias da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
O que se sabe é que o número de votantes foi recorde. Em e-mail enviado aos membros da instituição, a executiva-chefe Dawn Hudson informou que nesta edição houve a “maior participação durante a votação em qualquer momento da história da Academia”. O número exato não foi informado – atualmente, 9.487 profissionais de 82 países podem participar do escrutínio.
NOVAS REGRAS DA ACADEMIA
Prêmio maior do Oscar, a categoria de melhor filme terá 10 candidatos, após mudança recente nas regras. A convocação crescente de novos membros de todo o mundo, decorrente das críticas pela ausência de diversidade da Academia, vem fazendo com que a instituição, ano após ano, se torne mais global. Isso pode levar a resultados inesperados nesta edição.
Mesmo assim, dá para fazer algumas apostas. Superproduções que aliam bons retornos de público e crítica nunca faltaram ao Oscar. “Duna”, de Denis Villeneuve, se encaixa nesse quesito. Com US$ 400 milhões de renda mundo afora, a nova versão do clássico romance sci-fi de Frank Herbert está liderando o Bafta, o Oscar britânico (11 categorias), e recebeu indicações nos prêmios dos sindicatos dos diretores, produtores e roteiristas (DGA, PGA e WGA, respectivamente, cujos membros também votam na Academia).
É uma escolha, vamos dizer, mais de acordo com a trajetória do cinema, pois é um filme de um dos grandes estúdios de Hollywood (Warner Bros.) que foi lançado mundialmente nas salas para só depois chegar ao streaming (no caso, a HBO Max). Várias produções que devem somar muitas indicações vieram de plataformas.
Drama travestido de faroeste, “Ataque dos cães”, de Jane Campion, foi lançado pela Netflix. Já soma mais de 200 prêmios (três Globos de Ouro e o Leão de Prata de direção em Veneza, entre eles). A presença de Benedict Cumberbatch na lista dos indicados a ator é quase certa.
Filme-sensação de 2021 e recorde de audiência da Netflix, “Não olhe para cima”, de Adam McKay, com elenco estelar encabeçado por Leonardo DiCaprio, Meryl Streep e Jennifer Lawrence, já garantiu vagas nas indicações de vários prêmios. A discussão em nível global que a sátira provocou não deverá ser deixada de lado pela Academia. Se o musical “Tick tick…Boom!”, de Lin-Manuel Miranda, entrar na lista dos 10 filmes, o gigante do streaming poderá ter mais um concorrente na categoria principal.
Dois longas inéditos nos cinemas brasileiros devem entrar em várias categorias do Oscar, além da de melhor filme. Com estreia prevista para 27 deste mês, “Licorice Pizza” é a nova produção de Paul Thomas Anderson. Um dos mais originais cineastas americanos da geração que despontou nos anos 1990, nesta história sobre amadurecimento ele acompanha Alana e Gary, que se conhecem e se apaixonam em um subúrbio de Los Angeles no início dos anos 1970 – só que ela tem 25 anos e ele, 15.
IRLANDA SESSENTISTA
“Belfast”, novo filme de Kenneth Branagh, está anunciado para 10 de março nos cinemas brasileiros. Vamos ver se com o número de indicações ao Oscar (e elas prometem ser várias) a Universal antecipa o lançamento no país. Baseado na infância do ator e diretor irlandês, o drama acompanha um menino na turbulenta Irlanda do Norte do final dos anos 1960.
Versão de Steven Spielberg para “West Side story”, “Amor, sublime amor” é outro título bem cotado. Além da assinatura inconteste do diretor, o musical cala fundo na questão da representatividade latina. Spielberg escalou jovens atores descendentes de colombianos, cubanos e porto-riquenhos para contar o drama à la “Romeu e Julieta” de dois jovens, ele, branco, e ela, latina, ligados a gangues rivais.
Histórias baseadas em fatos costumam cair nas graças da Academia. A bola da vez é “King Richard – Criando campeãs”, de Reinaldo Marcus Green, que acompanha a formação das estrelas do tênis Venus e Serena Williams a partir do trabalho empreendido pelo pai delas, Richard Williams (interpretado por Will Smith, que poderá entrar na disputa de melhor ator).
“King Richard” está disponível na HBO Max. Dois filmes do catálogo da Amazon Prime Video poderão figurar entre os 10. Um deles é produção do Amazon Studios “Apresentando os Ricardos”, de Aaron Sorkin, que acompanha uma semana crucial na vida de Lucille Ball e seu marido, o cubano Desi Arnaz, nos anos 1950. A maior comediante da história da TV americana é recriada, com rigor impressionante, por Nicole Kidman, que divide a cena com Javier Bardem.
Outro drama da mesma plataforma que completaria a lista dos 10 é “No ritmo do coração”, de Sian Heder. Versão americana para o longa francês “A família Bélier” (2014), acompanha uma adolescente, a única ouvinte de uma família de surdos, que sonha em se tornar cantora.
Depois da categoria de melhor filme, as de direção e de interpretação são as de mais visibilidade. A recente lista dos indicados do Sindicato dos Diretores (DGA, cuja premiação será em 12 de março) elencou Paul Thomas Anderson, Kenneth Branagh, Jane Campion, Steven Spielberg e Denis Villeneuve. A premiação traz ainda uma categoria para diretores estreantes em longa. Na seleção, estão nomes que poderão ser incluídos no Oscar, como Maggie Gyllenhaal, do badalado “A filha
ATRIZES
As categorias de atuação poderão ter estrelas que se saíram melhor do que os filmes de que participaram. Poucos hão de discordar da indicação de Lady Gaga como a vingativa e tresloucada Patrizia Reggiani de “Casa Gucci”, de Ridley Scott (seria sua segunda indicação ao Oscar por atuação; ela já tem uma estatueta pela canção “Shallow”).
Outra personagem real recentemente recriada (e aplaudida) foi a princesa Diana. Kristen Stewart, ora angustiada, ora perdida, vem arrancando elogios por sua interpretação de Lady Di no drama “Spencer”, do chileno Pablo Larraín. O filme acompanha a personagem durante o feriado em que ela decide terminar seu casamento com o príncipe Charles.
OSCAR 2022
As indicações serão anunciadas nesta terça-feira (8/2), a partir das 10h18 (horário de Brasília), nos sites Oscar.com e Oscars.org, além das plataformas digitais da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Twitter, YouTube e Facebook)
Brasil torce pelo curta 'Seiva bruta'
A pergunta feita todos os anos pode ter resposta positiva amanhã. O Brasil, mais uma vez, não conseguiu ser pré-indicado na categoria de melhor produção internacional (o escolhido era “Deserto particular”, de Aly Muritiba). Por outro lado, “Seiva bruta” (que ganhou o título em inglês de “Under the heavens”), de Gustavo Milan, está entre os 15 curtas da pré-lista – cinco disputarão a estatueta.
Paulistano radicado nos Estados Unidos, onde faz mestrado na Universidade de Nova York (NYU), Milan rodou o curta em Manaus, em 2019. A história acompanha Marta, venezuelana que ajuda uma família de conterrâneos, um casal e um bebê, a entrar no Brasil. Todo o elenco, encabeçado pela atriz Samantha Castillo, é da Venezuela – a exceção é o paraibano Luiz Carlos Vasconcelos.
“Seiva bruta” foi selecionado para 17 festivais internacionais e conquistou prêmios em 10. A produção foi qualificada para tentar uma vaga no Oscar 2022 após receber o troféu de melhor curta-metragem internacional no Short Shorts Film Festival (SSFF & ASIA 2021), no Japão.