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Estado de Minas ÁLBUM

Arthur Nogueira faz poesia em forma de música no disco Brasileiro profundo

O cantor e compositor paraense compôs todas as músicas do álbum, que inclui duas parcerias, com os poetas Antonio Cícero e Jorge Salomão (1946-2020)


10/02/2022 04:00 - atualizado 10/02/2022 03:05

de óculos de aros redondos, Arthur Nogueira coloca as mãos atrás da cabeça
Arthur Nogueira gosta de criar álbuns conceituais (foto: Ana Alexandrino/Divulgação )

"Brasileiro profundo" é o nome do álbum que o cantor e compositor paraense Arthur Nogueira lançou nas plataformas digitais na última sexta-feira (4/2). O título, homônimo da quinta faixa, escrita pelo músico em parceria com o poeta e compositor Antonio Cicero, é uma reinterpretação da expressão Brasil profundo, em geral usada em referência aos lugares fora dos grandes centros urbanos do país.

"A expressão Brasil profundo cria uma generalização do Brasil que está além do Sul e do Sudeste, relativizando a complexidade de cada indivíduo brasileiro. Como diz Antonio Cicero, o direito à diversidade cultural deve ser pensado como um direito humano: o direito de cada indivíduo humano à diversidade", explica o músico.

"Não é concebível, sobretudo no Brasil, um projeto político que não afirme as diferenças como riquezas. Nesse sentido, nós apoiamos as ações afirmativas, que, se opondo a preconceitos de diversas naturezas, lutam a favor da pluralidade do povo brasileiro, resguardando o direito de cada indivíduo à diversidade", ele acrescenta.

Segundo Arthur Nogueira, essa é a mensagem que o álbum carrega. Produzido ao longo de um ano, entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, "Brasileiro profundo" começou a nascer depois que o cantor e compositor se deu conta de que a vida precisava continuar, apesar da pandemia.

"Logo que tudo estourou, nós, artistas, ficamos em casa, muito assombrados, com medo e perdidos, sem saber o que seria de nós, já que o nosso trabalho pressupõe a união. No primeiro momento, fiquei muito triste e desestimulado, até que começaram a surgir os trabalhos", ele relembra.

SINGLES 

Em 2020, o paraense lançou cinco singles, três deles em parceria com outros artistas,  como Fernanda Takai ("Pontal"), Zélia Duncan ("Dessas manhãs sem amor") e Ronaldo Bastos ("Por linhas tortas"). Nessa mesma época, Arthur trabalhou como produtor musical do álbum "Só" (2020), de Adriana Calcanhotto, com canções escritas durante a quarentena.

"Essas experiências me mostraram que, apesar de a cultura ser tão perseguida e massacrada, seu papel ficou muito claro durante esse período. A música, o cinema e a literatura foram o que nos mantiveram vivos dentro de casa. Então, resgatei a minha vontade de compor. Vi que era a hora de fazer um novo álbum", ele conta.

O primeiro desafio foi descobrir qual seria a temática do trabalho. Arthur Nogueira é desses artistas que gostam de criar discos conceituais, calcados em um tema específico. "De que forma eu posso exercer a minha liberdade em um cenário tão desestimulante?", ele se questionou. A resposta veio por meio da poesia.

"A página em branco me abriga e me liberta. Na verdade, é um álbum sobre o ser poeta. Na poesia, podemos relativizar qualquer coisa. Eu posso ser muitos e posso não ser nenhum. Eu pensei sobre tudo isso durante o isolamento e comecei a compor", conta.

"O fascínio pela poesia foi determinante em todas as minhas escolhas artísticas. Eu tinha mais ou menos 13 anos quando descobri, mexendo na estante de discos do meu pai, a canção popular escrita por poetas, que é comum no Brasil como em nenhum outro país"

Arthur Nogueira, cantor e compositor



PARCERIAS 

Uma das principais características de "Brasileiro profundo" é que se trata de um álbum de compositor. Das 12 músicas que compõem o repertório, somente duas, "Brasileiro profundo" e "Tem horas que pareço eu", foram feitas em parceria. Enquanto a primeira é fruto do encontro com Antonio Cicero, a segunda tem letra coassinada pelo poeta Jorge Salomão (1946-2020).

Antes de lançar a íntegra do disco, Arthur Nogueira divulgou as faixas "Valente" e "Voo e mansidão" como singles, em setembro e novembro do ano passado, respectivamente. A elas somam-se canções como "Treva branca", "Mundo aberto" e "Coração desperdiçado", marcadas pelo refinamento poético. O disco ainda conta com o tema instrumental "Pássaro", composto pelo próprio Arthur.

Apesar de assinar sozinho a maior parte do disco, ele contou com um time robusto de instrumentistas para colocar o trabalho em pé: Renato Torres (violão), Luiz Pardal (violino e viola), Leonardo Venturieri (viola), Diogo Gomes (sopros), Richard Ribeiro (bateria), Thomas Harres (percussão), Allen Alencar (guitarra) e Zé Manoel (piano acústico). A produção é de Leonardo Chaves e a masterização ficou por conta de Rodrigo Sanches e Mateus Estrela.

Arthur Nogueira conta que, por causa das restrições impostas pela COVID-19, todos os músicos trabalharam no disco de forma remota. "Para mim, foi uma experiência muito nova produzir um álbum inteiro sem encontrar absolutamente ninguém. Eu nunca tinha feito isso", ele comenta.

"A página em branco me abriga e me liberta. Na verdade, é um álbum sobre o ser poeta. Na poesia, podemos relativizar qualquer coisa. Eu posso ser muitos e posso não ser nenhum. Eu pensei sobre tudo isso durante o isolamento e comecei a compor"

Arthur Nogueira, cantor e compositor


CLIPES 

A chegada do álbum não termina os lançamentos que Arthur programa para as próximas semanas. "Brasileiro profundo" terá desdobramentos em formato de videoálbum e livro. O projeto audiovisual, dirigido pelo cineasta Vitor Souza Lima, será lançado na íntegra no próximo dia 22. Trata-se da reunião dos videoclipes gravados para cada uma das 12 músicas do álbum. Uma prévia da produção, o clipe da música "Brasileiro profundo" já está disponível no YouTube do artista.

"Na verdade, eu não pensava em fazer um videoálbum. Brinco que, se eu pudesse, seria igual o Gorillaz", diz ele, em referência à banda virtual britânica criada por Damon Albarn e pelo cartunista Jamie Hewlett. "É muito difícil para mim essa coisa de imagem, que hoje em dia é muito importante. Realmente, acho que eu não sou tão importante quanto meu trabalho."

Apesar disso, Arthur Nogueira concordou em aparecer nos vídeos por acreditar no trabalho de Vitor Souza Lima. "Ele me conhece muito e tem um olhar extremamente delicado para as coisas. [O Vitor] Tem um olhar muito atento para a poesia, para o que a música está dizendo. Os vídeos se tornaram a representação de tudo o que eu estou dizendo no álbum", afirma.

LIVRO 

Lançar as músicas antes também foi a forma que o artista encontrou de mostrar para o público que elas vêm em primeiro lugar. "É um videoálbum no sentido de que eu quero que as músicas sejam vistas. Mas eu gostaria muito que elas fossem simplesmente ouvidas antes", ele sugere.

Já o livro, previsto para chegar às prateleiras ainda em fevereiro, pela editora paraense Amo, reunirá as letras das músicas do álbum e também outras composições que o artista escreveu ao longo de sua carreira. Entre elas estão canções compostas para melodias criadas pelos artistas Luiza Brina, Zé Manoel e Lucas Estrela.

"Para mim, foi difícil a ideia do livro. Quando escrevo, só escrevo para a música. Se tira a melodia, fica somente a letra, e ela tem que se valer por si só, mas não existe essa obrigação,  porque ela está a serviço de uma melodia", Arthur explica.

A aprovação de Adriana Calcanhotto, Antonio Cicero e Cleiton Silva, professor e mestre em literatura, que assinam o prefácio, posfácio e a orelha do livro, respectivamente, foram um estímulo para Arthur se decidir pela publicação das letras em formato de livro. Colocar essas músicas no papel também o ajudou a pensar no "rigor" poético das canções.

"O fascínio pela poesia foi determinante em todas as minhas escolhas artísticas. Eu tinha mais ou menos 13 anos quando descobri, mexendo na estante de discos do meu pai, a canção popular escrita por poetas, que é comum no Brasil como em nenhum outro país", ele afirma.  

"Vinicius [de Moraes] foi quem escancarou a porta, colocando-se a serviço da música com o mesmo rigor e a mesma paixão dedicados à carreira literária. Portanto, mesmo quando eu componho letra e música sozinho, tudo o que aprendi de poesia, tudo o que li de poesia, mostra-se determinante no trabalho."

Capa do disco 'Brasileiro profundo' mostra rosto coberto por colagem branca

“BRASILEIRO PROFUNDO”

.De Arthur Nogueira
.12 faixas
.Independente
.Disponível nas plataformas digitais


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