Em dezembro do ano passado, conforme manda a tradição, Barack Obama divulgou nas redes sociais a lista com suas músicas favoritas de 2021. Além das escolhas óbvias, como “Montero (Call me by your name)”, de Lil Nas X, o ex-presidente dos Estados Unidos incluiu, entre as 27 canções escolhidas, “The only heartbreaker”, da cantora nipo-americana Mitski, uma das faixas do álbum “Laurel hell”, que ela acaba de lançar. Figurar na lista de Obama não é atestado de qualidade, mas pode fazer com que mais pessoas se interessem pela artista.
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Eleito o disco do ano por diversas publicações especializadas, o trabalho foi responsável por colocar sobre a artista o peso de ser a grande nova aposta musical e, ao mesmo tempo, forçá-la a sair de cena durante o que seria o auge da carreira, iniciada em 2012.Em setembro de 2019, Mitski se apresentou diante de verdadeira multidão no Central Park, em Nova York, e anunciou que aquele seria seu último show por “tempo indeterminado”. Nas redes sociais, alegou que o hiato não significava aposentadoria precoce.
Nos bastidores, no entanto, a conversa era outra, como ela revelou em entrevista à revista americana Rolling Stone. “Na minha cabeça, aquele era o último show que faria, e então eu desistiria e encontraria outra vida”, explicou.
O que a fez mudar de ideia foi justamente estar no palco diante do público. Por ironia do destino, 2020 chegou e ela ficou impedida de se apresentar ao vivo por conta da pandemia. Em casa, Mitski também se deu conta de que devia à gravadora Dead Oceans, por contrato, mais um álbum inédito. E foi assim que “Laurel hell” começou a nascer.
Como a COVID-19 dilatou a noção de tempo, o hiato da artista durou apenas dois anos, período em que ficou distante das redes sociais. O retorno ocorreu em outubro de 2021 com o lançamento do single “Working for the knife”. Imersa em sintetizadores, Mitski canta sobre suas angústias em relação à indústria musical.
Para anunciar que o álbum estava a caminho, em novembro ela lançou a dançante “The only heartbreaker”, a canção da lista de Obama. Com atmosfera oitentista, a gravação parecia mostrar que Mitski tinha feito as pazes com o mainstream ao unir produção acessível com letra pegajosa, sem deixar de ser confessional.
Em dezembro, ela provou que a coisa não era tão simples assim, ao lançar a sombria “Heat lightning”, que fala sobre insônia. Em janeiro, chegou o quarto e último single, “Love me more”, outra faixa dançante em que ela aborda diretamente a vontade de desistir da carreira na música.
Todos esses singles já davam uma boa noção de como “Laurel hell” seria. Produzido pela própria artista em parceria com Patrick Hyland, o trabalho de onze faixas distribuídas em 32 minutos representa mudança significativa na sonoridade que Mitski estabeleceu para si mesma desde o experimental “Lush” (2012), feito como trabalho de conclusão de faculdade.
ELETRÔNICA
Bastante influenciado pelos anos 1980 e cheio de sons eletrônicos, o sexto trabalho de Mitski é musicalmente distante da crueza dos álbuns “Retired from sad, new career in business” (2013) e “Burry me at makeout creek” (2014) e da presença das guitarras em “Puberty 2” (2016) e “Be the cowboy” (2018).As canções “Valentine, Texas”, “Stay soft”, “Everyone”, “Should've been me” e “That's our lamp” são dançantes e reflexivas, parecem influenciadas principalmente pelo pop sueco do ABBA. Apesar disso, o álbum guarda espaço para baladas melancólicas como “There's nothing left for you” e “I guess”.
Embora não seja o melhor álbum de Mitski até aqui, “Laurel hell” tem o mérito de abrir o leque de possibilidades para uma artista que cresceu aos poucos até conquistar o reconhecimento da indústria. Para quem estava prestes a desistir da carreira justamente por conta do sucesso, ela agora corre o risco de alcançar um público ainda maior.
“LAUREL HELL”
• Disco de Mitski
• 11 faixas
• Dead Oceans
• Disponível nas plataformas digitais